Há um rumor antigo, entre as pedras mais quietas da floresta.
Dizem que, se alguém escuta com o corpo inteiro,
pode ouvir as vozes dos que deixaram o nome para trás.
Não como palavras.
Mas como temperatura.
Como movimento no ar.
Mirra voltou à clareira.
Não uma, mas muitas vezes.
Cada vez, trazia algo:
um nome novo,
uma folha marcada,
um pedaço de si.
Nunca teve certeza se Elias — ou o que restou dele — a reconhecia.
Mas a cada visita, as árvores ao redor se inclinavam.
O chão ficava mais quente.
Um dia, ela não voltou mais.
E não foi porque esqueceu.
Foi porque se tornou também parte do caminho.
Outros vieram depois.
Desfeitos.
Quase desfeitos.
Liminares.
E encontraram a clareira.
Sentaram no chão.
Ouviram o que não se dizia.
E entenderam:
o Desfeito não é um fim.
É uma nova gramática da existência.
Um jeito de continuar sem forma fixa.
A floresta cresceu.
Tomou cidades pequenas.
Escondeu postes.
Apagou placas.
Mas não era destruição.
Era… outra coisa.
Era o mundo finalmente lembrando que também podia mudar.
E um dia, alguém — uma criança, talvez —
perguntou para a mãe o que havia ali,
naquela clareira onde o tempo parecia respirar diferente.
A mãe olhou.
E, sem saber por que,
sorriu com os olhos úmidos.
“Ali moram os que tiveram coragem de deixar de ser.”
A criança ficou em silêncio.
Depois escreveu um nome no chão com o dedo.
Não era um nome conhecido.
Mas soava certo.
E do solo,
algo se moveu.
FIM
Conto: Odair José, Poeta Cacerense
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