domingo, 31 de maio de 2020

O Misterioso Homem na Praça Barão


Foi totalmente incrível tudo aquilo. Ninguém notou a presença dele. Muitas pessoas circulavam pela praça naquela noite. Centenas delas havia acabado de sair da Igreja Matriz. Outras centenas saíam do cinema. Muitas outras andavam pelo calçadão da Praça. Algumas nas sorveterias, outras nos bares do calçadão. Outras no Pipoca. Muitas iam até o cais, olhavam o majestoso Rio Paraguai. Andavam. Algumas sozinhas, outras em duplas, outras em grupos maiores. Conversavam. Sorriam. Corriam. Crianças brincavam. A fonte jorrava. A Igreja era iluminada. Algumas tiravam fotos. Outras selfies. O Marco do Jauru permanecia imponente. Pessoas circulavam pela movimentada praça. Cada um em sua vida, em seus pensamentos. E ninguém, ninguém mesmo o viu. O misterioso homem na Praça Barão. 

Odair José, Poeta e Escritor Cacerense

sexta-feira, 29 de maio de 2020

Refugiada



Inalou o cheiro fresco de hortelã do vapor do chá enquanto Lúcia a olhava com curiosidade. Viu a amiga colocando a caneca de volta ao seu lugar e pode respirar melhor. Tinha muito cuidado de suas canecas e, porque não dizer, ciúmes. 

- Vamos tomar o chá. - Disse, finalmente. 

Sentaram-se na calçada. Faziam isso quase todas as tardes. Gostavam de conversar olhando o fraco movimento das pessoas que transitavam pela rua principal da vila. Por um momento houve um silêncio entre as duas mulheres. 

- Você não vai ver seus pais esse final de semana? - Indagou Lúcia. 

Gesticulou negativamente com a cabeça e sorriu ao olhar para a amiga. 

- Quero apenas descansar minha mente. 

- O que aconteceu? 

Olhou para a amiga e depois para a rua. 

- Vai, me conta. Quero saber tudo. 

Levantou por um momento. Andou um pouco sob o olhar da amiga que continuara sentada na calçada. Parecia que vigiava os seus passos. Era uma morena muito bonita. Chamava a atenção por onde passava. Mas, não tivera muita confiança quando garota. Sempre achava outras meninas mais bonitas ou, pior ainda, mais inteligente do que ela. E isso sempre a incomodara. Voltou para perto da amiga. 

- O irmão dele! - Disse finalmente. 

- Irmão de quem? 

- Do Rony. 

- Sério? O que tem ele? 

Ela suspirou fundo. Parecia não acreditar no que estava prestes a dizer. Mas, Lúcia sempre fora sua amiga e confidente desde que chegara neste lugar. A amiga sempre desconfiara que ela se escondia de alguma coisa. Lembrou de tê-la ouvido falar desse Rony. Era, talvez a sua grande paixão. Mas, se lembrava bem, ele era casado e tinha uma família. 

- Ele vai trabalhar aqui. 


Trecho do livro "Dois Irmãos" 

Lançamento em Breve!

terça-feira, 19 de maio de 2020

O silêncio da reflexão



Elevo os olhos 
E vejo a expressão de angústia no olhar que olha para mim 
A pergunta que martela a mente distante da realidade: 
Por que você está tão triste? 
Então, mais uma vez, tenho que me debater com meus temores 
E responder que meus sentimentos não podem ser contidos. 
O que há em mim é a eterna busca pelo cálice sagrado do conhecimento. 
Deito-me com os braços no ombro da imaginação 
O peso que sinto é da silenciosa solidão 
E eu não conheço ninguém que tenha se refugiado dela pelo caminho 
Ou que há tenha vomitado de forma asquerosa. 
O que há em mim não é e nunca foi tristeza 
É o silêncio reflexivo. 
O silêncio reflexivo é aquele que me permite 
Romper as barreiras da mediocridade 
Das nuvens obscuras da ignorância. 
E ao mudar minha posição na cama 
É porque penso melhor se virar para o lado. 
Será que existe alguma posição para viver? 
O que é a vida sem a reflexão? 
E como refletir se não tivermos o silêncio para nos fazer companhia? 
Quero continuar a viver 
E não devo matar o tempo 
A saudade de um olhar e da vida que tenta escapar de minhas mãos. 
Não pretendo procurar nem uma posição mais confortável para a morte. 
Como saber o dia do último dia? 
O que pode ser melhor do que ler uma poesia antes de dormir 
E vislumbrar o brilho do sol pela manhã. 
Esperança 
Liberdade 
Solidão… 
O meu silêncio reflexivo é o tempo sagrado da meditação 
Da busca pelo saber. 
Não há tristeza em mim 
Nem no olhar 
Nem na alma 
Apenas o silêncio da reflexão existencial. 

Pensamento: Odair José, Poeta Cacerense

segunda-feira, 18 de maio de 2020

O esconderijo



Olhou-o assustado. Mas, o susto não foi maior do que a expressão de desespero no rosto do rapaz. Ele tinha uma fisionomia tomada pelo assombro. Com certeza havia feito alguma coisa grave e estúpida. Se não fosse isso o que poderia ser? 
- O que aconteceu? - Indagou a ele enquanto ajeitava o balde de leite sobre a mesa de madeira. Soltou a peia da vaca e o bezerro logo meteu a boca nos peitos sugados dela na esperança de ainda encontrar o seu alimento. 
- Acho que fiz uma besteira! - Disse ele. 
- Outra né? 
- Quê? 
- Se fez uma besteira, essa é outra de suas besteiras. Só vive fazendo besteira mesmo. 
- Poxa tio, isso não é hora de falar essas coisas. Preciso é de ajuda. 
Terminou de soltar as vacas do curral enquanto observava o rapaz que havia sentado em um tronco próximo do curral. Espantava alguns insetos que se deliciavam com o esterco das vacas. O que será que esse indivíduo havia aprontado dessa vez? Era o sobrinho mais problemático e sempre causava confusão para a família. 
- Me diga o que fez dessa vez. - Falou ao sentar perto do jovem. 
Olhou para os lados. Parecia que procurava ver se alguém mais o vigiava. 
- Eu matei a Isa! 
- Matou a Isa? Como assim? - não acreditava no que estava ouvindo. 
Isadora, mais conhecida como Isa era uma garota ruiva que ele havia apresentado a família a pouco mais de um mês em um churrasco que fizeram no final de semana. 
- Peguei ela com outro cara e matei os dois. 
- Peraí! - Exclamou se levantando – então você não matou só a Isa, você matou duas pessoas? 
- É. 
- É? Você diz é? 
Houve um minuto de silêncio. Olhou para a capina e seguiu o olhar para as vacas que já pastavam tranquilamente. Olhou para a casa e viu a mulher acenando para ele. Tinha que levar o leite para as crianças. 
- Olha! - Disse então – vamos tomar café e depois a gente resolve essa situação. Não fale nada para a Vina e nem demonstre algo perto das crianças. Vou pensar alguma coisa e depois conversamos. 
Terminaram de tomar o café com leite e pão com torradas. As crianças brincavam na varanda. A esposa foi preparar o almoço. Selou dois cavalos e falou para a esposa: 
- Vamos dar uma volta no pasto e voltamos para o almoço. Faz o frango. Marcelo gosta muito do peito. 
O jovem deu um sorriso meio sem graça. Será que o tio não sabia a angústia que estava no seu coração? 
Começaram a cavalgada. O sol já estava bem quente. Caminharam um pouco e pararam sob as frondosas folhas de uma árvore. Encontraram dois troncos e se sentaram. O tio olhou nos olhos do sobrinho e falou. 
- Quero que me diz como tudo aconteceu. Não me esconda nada. Se mentir para mim não vou te ajudar. 
Olhou para o tio. O olhar era aterrador. No fundo sentia medo. Estava confuso com tudo que acontecera com ele naquela noite. 
- Então – disse ele por fim – descobri que aquela vaca estava saindo com outro cara. Meu sangue ferveu. Segui os dois ontem a noite e peguei eles no flagra. Puxei ela pelos cabelos e o cara reagiu. Dei duas facadas nele. Quando ele caiu eu vi que ela ia gritar então cortei a garganta dela também. 
Não acreditava no que estava ouvindo. O sobrinho contava essa atrocidade e nem esboçava um arrependimento. Percebeu que ele só queria se livrar da punição pelo seu crime. Por isso o procurara. 
- E onde foi isso? 
- Foi em um terreno baldio perto da prefeitura. Os dois foram se encontrar no meio do mato. Você acredita nisso? 
Não sabia o que dizer. 
 - Quer dizer que ninguém sabe ainda? 
- Eu acho que não. 
- Quando foi isso? 
- Essa noite. 
Fez uma pausa e silenciosamente começou a refletir sobre o que aquele jovem havia feito. Como um filme voltou em sua mente o crime que ele havia cometido a pouco mais de dois anos antes. Como dessa vez o jovem o procurara porque tinha assassinado um jovem em uma rua deserta da cidade após uma discussão em um baile. Naquela ocasião deu guarida ao sobrinho. Escondeu-o por um tempo na fazenda e o ajudou a encobrir o crime uma vez que não houve suspeita de que tinha sido ele. 
Marcelo era filho de seu irmão que havia falecido em um acidente de trânsito a alguns anos. Cuidara do garoto até ter seus quinze anos. Mas o garoto nunca quis viver na fazenda. Ao ir para a cidade logo se envolveu com gangues e outras atividades ilícitas. Aos dezessete cometera o crime. Agora as vésperas de completar seus vinte anos ele faz isso. O que fazer? 
- O senhor tem que me ajudar, tio. 
- Está bem! - Disse após uma breve pausa. Respirou fundo e completou: 
- Você vai almoçar e depois vai se esconder no esconderijo. Vou até a cidade pegar um dinheiro e ligar para minha irmã em Minas Gerais para você ir para lá. Enquanto isso fica no esconderijo. 
Ele sabia do que o tio estava falando. O esconderijo era uma moita enorme de bambus que ficava próximo de um pântano nos fundos da fazenda. Já havia se escondido lá da primeira vez. 
- Está bem! - Concordou com a cabeça. 
- Mas tem um detalhe – disse ao subir no cavalo. 
- Sim? 
- Após o almoço saímos os dois e vamos até a encruzilhada. De lá vou para a cidade e você volta para o esconderijo. A sua tia e as crianças tem que pensar que você voltou para a cidade. Não quero que eles saibam de nada. 
- Tudo bem! 
Enquanto caminhava em direção a cidade seus pensamentos o atormentavam. Como um jovem que tem toda a vida pela frente faz uma besteira dessas? O que passa na cabeça de uma pessoa dessas? Não conseguia compreender. 
Marcelo chegou até o bambuzal. Ajeitou um local com as folhagens e deitou. O tio havia dado-lhe um cobertor o qual colocou como travesseiro. 
- Não sei se consigo chegar de dia – Disse ao se despedir – então vê se se esconde bem e proteja-se. 
Não sabia porque, mas uma sensação estranha tomou conta de seu coração ao ver o tio se afastar em direção a cidade. Meneou a cabeça. Não deve ser nada, pensou ao se deitar. Vou fugir para Minas Gerais e está tudo bem. Estava cansado e dormiu. 
Ouviu o estalo de um galho. Despertou assustado. Tudo estava escuro. Havia dormido muito e já era noite. Tentou se acostumar com a escuridão para ver se enxergava alguma coisa. Poderia ser seu tio voltando da cidade. 
- Mãos ao alto! Você está cercado! - Ouviu o grito – Aqui é a Polícia! 
Luzes se acenderam e ele se viu cercado por dezenas de policiais. Não tinha como reagir. Correr como? Sentiu as algemas prendendo seus braços. Conduzido a viatura olhou de relance o tio. Havia sido entregue. 
O julgamento foi rápido. Acusado de três crimes pegou trinta anos de prisão. Ao ser colocado em sua cela olhou para os outros prisioneiros. Todos sabiam sobre ele. Houvera muita repercussão na mídia. Então havia um temor. Pelo menos foi o que sentiu ao ser jogado naquela cela. Em sua mente só passava uma coisa: o dia em que ia sair da prisão. O tio pagaria caro pela traição. 

Odair José, Poeta e Escritor Cacerense

terça-feira, 5 de maio de 2020

Duas irmãs



Duas irmãs. Duas lindas garotas que cresceram sempre juntas e nutriam grande amizade e consideração uma pela outra. Com diferença de dois anos aprenderam a se amar e a brincarem juntas sempre compartilhando seus segredos e anseios. 

Suelen era a mais velha e tinha uma pele bem clara com cabelos que beirava o loiro. Suzana era mais nova e um pouco mais morena com cabelos ruivos e cacheados. Em questão de beleza as duas eram lindas e despertavam a admiração de todos que as viam sempre a brincar perto da rua onde morava nos finais de tarde. 

Elas sempre viveram em um dos bairros mais carentes da grande Cáceres e a cidade, por ser bastante antiga, sempre priorizou os bairros mais próximos ao centro do que os da periferia. Os pais das meninas sempre tiveram pensamentos diferentes com relação ao futuro delas. O pai sempre foi influenciado pelo irmão e tio das meninas em preparar as duas para arranjar um casamento que lucrasse para toda a família. O tio sempre dizia que poderia arrumar uma forma de encontrar homens da alta sociedade para que vissem as meninas e as tivessem em troca de dar a família status e boa posição na sociedade... 


Em breve! 
O mais novo trabalho do Poeta e Escritor Cacerense 

DUAS IRMÃS 

Você não pode deixar de ler essa obra!