Que maravilha é esse por do sol! Que espetáculo da natureza! Essa era a impressão e os suspiros dela naquela tarde. Havia sido convidada para apreciar o pôr do sol às margens do Rio Paraguai. E, não tinha como não se impressionar com aquela paisagem. A brisa de uma tarde de junho, a descida vagarosa das águas e o colorido proporcionado pela luta do sol em não se esconder por detrás das árvores causavam um espetáculo maravilhoso.
Nem reparou nos olhares de algumas pessoas que ali estavam. Se houvesse reparado teria visto que a sua beleza também era admirada por alguns olhares. Estava nessa cidade a pouco mais de um ano a trabalho. Ainda não entendia muito a cultura local, ou não se adaptara a alguns pontos dessa cultura. Tinha feito alguns amigos e com eles compartilhavam momentos como esse.
O garçom a abordou enquanto olhava o cardápio.
- Quero um suco de laranja com morango.
- Não fazemos!
- Quê?
- Não fazemos.
- Como assim não faz suco de laranja com morango?
Acenou positivamente com a cabeça deixando-a mais confusa ainda. Não entendia como não poderia fazer um suco de laranja com morango. Esse atendente deve estar de brincadeira comigo. Pensou.
- Por que não?
- Porque não!
Respirou fundo. A vontade era explodir com esse idiota. Que atendimento de m* era esse. Esse cara deve estar morrendo de preguiça. Só pode ser isso.
- Moço. É só misturar o suco de laranja com o morango.
- Um é suco e o outro é polpa.
- Sim. Mas qual o problema em misturar os dois e trazer para mim esse suco?
- Não fazemos isso.
Olhou para os seus colegas e viu a mistura de indignação e surpresa nos olhares. Ninguém estava entendendo direito o que estava acontecendo.
- Se fazem suco de laranja com acerola por que não com morango?
Sentiu preguiça só de olhar para aquele atendente. Não ia perder a paciência agora. Não era aquele indivíduo preguiçoso que estragaria o seu fim de tarde. Quantas coisas ela já havia superado naquele dia. Não. Jamais ia se deixar vencer por esse obstáculo.
- Tudo bem. Então me sirva um suco de laranja sem açúcar.
Anotou seu pedido e saiu. Voltou a olhar o pôr do sol. Respirou fundo e observou o sorriso nos rostos de seus amigos. Cada coisa. Pensou consigo enquanto olhava, outra vez, o início do crepúsculo.
- Aqui está seu suco.
Levou a boca e provou.
- Eu pedi suco de laranja SEM AÇÚCAR.
- Não foi isso que entendi.
- Então pode levar de volta e me trazer um suco de laranja SEM AÇÚCAR.
O que poderia pensar depois de tudo isso. Que povo preguiçoso. Na minha cidade isso jamais aconteceria. Como pode ter pessoas com atendimento tão ruim assim? Um lugar maravilhoso desses, uma vista linda dessas e tudo é estragado por causa de um mau atendimento.
O grande problema agora é aguentar a zoação dos amigos que a chamam de “Moranguinho”.
Conto:
Odair José, Poeta Cacerense
