segunda-feira, 7 de novembro de 2022

O ser humano mudam as coisas

    Admirava o por do sol no cais. Sempre aproveitava as tardes de folga do serviço para parar na Praça Barão, encostar na mureta e olhar o sol se por atrás da vegetação na baia além do braço do Rio Paraguai. Sentia, as vezes, uma ponta de tristeza quando via o descaso com a natureza. Embarcações que antes navegava tranquilamente pelas águas do Rio, agora tentavam se desviar dos bancos de areia. Com um olhar mais aguçado podia se ver o quanto o ria havia secado. O vermelho do sol logo seria ofuscado pela escuridão da noite que chegava silenciosamente. 

    - Bonito né!? 

    Olhou para o lado e viu o seu interlocutor. Um senhor já de idade avançada que ela nem percebera chegar perto de si. 

    - Sim. - Disse apenas. 

    Um barco deslizou pelo maio do rio provocando pequenas ondas que batiam nas margens fazendo um barulho típico de águas na areia. Lá embaixo um homem tentava arrumar uma espécie de tenda onde, certamente, iria dormir aquela noite. 

    - Não era assim quando tinha a sua idade. 

    Olhou para o senhor e sorriu levemente. 

    - O tempo muda as coisas - Disse. 

    - O ser humano mudam as coisas. - Respondeu o senhor.

    Parecia não ser nada. Mas, ali estava uma grande verdade. Não é o tempo. Nunca foi. São as pessoas. A ganância do ser humano. Sua falta de sensibilidade. Seu desejo de possuir as coisas e destruir a natureza. 

    - Havia respeito pela natureza - Disse o senhor - e não se explorava de forma predatória. Até as onças viam beber água na baia. Via-se facilmente os jacarés, os tuiuiús, os pássaros. Hoje nem peixe tem mais. 

    A jovem olhou para o senhor e, por um breve instante, pode sentir a tristeza no seu falar. O mundo é um lugar cruel. O ser humano é um predador implacável. Lembrou-se das palavras de um professor de Filosofia. 

    - Triste isso! - Disse finalmente. 

    O velho sorriu para ela e seguiu o seu caminho. No horizonte o sol já havia se escondido e deixava que algumas estrelas surgissem para lembrar a todos a sua existência. 

Conto: Odair José, Poeta Cacerense