sexta-feira, 29 de julho de 2022

A Maldição do Feiticeiro na Praça Barão - (Parte I)

 

    Olhou atentamente para o corpo estendido no chão. Uma poça de sangue começava a se formar na calçada. Ninguém acreditava no que tinha acontecido. Como um poste poderia cair sobre a cabeça de alguém dessa forma? Mas, ali estava ele com a cabeça esmagada pelo poste de luz. Entardecia às margens do Rio Paraguai e os garçons começavam a arrumar as mesas nos bares do entorno na Praça Barão do Rio Branco. Tudo levava a crer que seria mais uma noite típica da Princesinha do Rio Paraguai. No entanto, aquele acontecimento tiraria de vez a paz da população cacerense.
    - O que aconteceu? – Indagou à senhora gorda que acabara de chegar empurrando as pessoas que já se aglomeravam diante do corpo estirado na calçada.
    - Um poste caiu na cabeça desse homem. – Alguém respondeu mostrando o poste caído.
    - É o fotógrafo! – Exclamou outro e acrescentou – Bem que o feiticeiro falou que ele iria morrer.
    Que história era essa? Feiticeiro? Como era possível isso estar relacionado? Aproximou-se do homem que havia falado do tal feiticeiro enquanto a polícia chegava ao local abrindo espaço e pedindo para as pessoas se afastarem que a perícia iria fazer o seu trabalho.
    - Que negócio é esse de feiticeiro? – Perguntou.
    - Então você não sabe? – Indagou com um olhar curioso.
    - Não. Não estou sabendo de nada.
    - Me paga uma cerveja que te conto toda a história.
    Sentaram-se em uma mesa no Casarão e pediu uma cerveja ao garçom que ainda olhava para a aglomeração de pessoas a poucos metros dali. O homem de barba rala e olhar penetrante começou a contar a história.
    - O nome dele era Paulo Rodrigues, mais conhecido como Paco. Foi preso acusado de estar praticando rituais de bruxaria com crianças e mulheres. Ficou calado diante do tribunal e parecia nem ligar com a acusação. O juiz o ameaçou caso não falasse, mas ele não ligava. Até o momento em que o juiz mandou queimar os seus objetos e poções mágicas. Ai o cara virou uma fera. Gritou e amaldiçoou todo mundo na cidade. Falou que um animal selvagem iria matar alguns para provar que ele estava certo. O juiz o taxou como louco e o sentenciou a fazer sérios exames de sanidade mental.
    Fez uma pausa e tomou mais um gole da cerveja. Olharam para o corpo sendo removido pela funerária e as pessoas se dispersando do local. Funcionários dos bares viam com materiais de limpeza para lavar a poça de sangue que se formara.
    - E o que aconteceu depois? – Estava curioso para saber o restante da história.

(Continua...)
Conto: Odair José, Poeta Cacerense

segunda-feira, 25 de julho de 2022

Dia Nacional do Escritor

"A maior parte do tempo de um escritor é passado na leitura, para depois escrever; uma pessoa revira metade de uma biblioteca para fazer um só livro."
 
Samuel Johnson

segunda-feira, 4 de julho de 2022

Na mesa do bar

    Fazia um calor infernal. Com certeza a temperatura beirava os quarenta graus. Cáceres sempre foi muito quente. Mas, naquela tarde parecia que o inferno havia sido aberto. Estava meio que perdido. As ruas estreitas do centro histórico dificulta quem não conhece a cidade direito. Levou as mãos acima dos olhos para ver direito as casas a sua frente e foi quando avistou o bar. Resolveu parar para tomar uma Coca-Cola ou uma cerveja qualquer. Queria era refrescar a goela.
    Entrou no bar e, antes de pedir alguma coisa, ficou petrificado com o que via a sua frente. Havia uma mesa de sinuca bem no meio do salão, entre a porta e o balcão. Nada de anormal em ter uma mesa de sinuca em um bar. Quase todos eles têm. Mas, não com uma morena daquelas.
    Ela estava deitada de lado em cima da mesa de sinuca. Era um espetáculo. Cabelos cacheados jogados ao lado, seios fartos quase saindo fora do decote da blusa vermelha apertada ao corpo. Um piercing no umbigo e uma tatuagem de borboleta logo abaixo. Um short jeans desfiado que mal cobria metade de sua bunda bem torneada. As pernas eram perfeitas e sensuais. Voltou o olhar para seu rosto e viu o sorriso malicioso. Seu olhar era de uma sedução só.
    Engoliu em seco. Respirou fundo. Agora o suor havia aumentado consideravelmente. Além do calor abrasador daquela tarde o calor daquela morena quase provocava um infarto. Encostou no balcão e pediu uma cerveja ao atendente que mantinha uma cara de poucos amigos. Ficou sem graça com isso. Aquela morena seria alguma coisa desse cara?
    - Também estou com sede – uma voz deliciosa cortou o silêncio – pode me pagar uma cerveja?
    - Está falando comigo?
    - Sim.
    A mulher continuava imóvel em cima da mesa. Vez ou outra mudava a posição das pernas o que exibia ainda mais a sua sensualidade. 
    Pegou outra cerveja e um copo e foi até a mesa onde estava a mulher. Sentia o coração bater acelerado. Colocou a cerveja no copo. A morena sentou-se na mesa e abriu as pernas diante dele. Ficou paralisado. Era a perfeição de mulher. A tentação irresistível. Ela sorriu.
    - Você é muito gentil.
    Então levou um susto ao ver o anão. Ouviu um barulho em um dos cantos do bar que estava mais escuro e viu aquele pequeno homem de cara amarrada e um longo bigode amarelado. Com suas curtas mãos tentava arrastar uma churrasqueira para perto de uma das portas.
    - Está olhando o quê?
    - Nada não…
    A morena então pegou em sua mão.
    - Não liga para ele não. Só está com ciúmes. Sabia que ele tem ciúmes de mim? Desde que cheguei aqui o sonho dele é ficar comigo, mas como vou ficar com uma criatura dessas? Ele nem tem dinheiro. Mas, com você é diferente né? Quer ficar comigo?
    - Ficar? Como assim? Ficar como?
    - Ah seu bobo. Ficando ué. Tem um quarto aqui nos fundos. Você paga para aquele cara do balcão e vamos para o quarto. A minha parte você paga pra mim lá.
    Agora parecia que o calor havia dobrado. Queria tirar logo a roupa e se acabar naquela morena espetacular diante dele.
    - Calma benzinho. Temos tempo.
    Na verdade era um cubículo. Sem nenhuma higiene. Apenas uma cama de solteiro coberto com um lençol furado e um ventilador caindo aos pedaços. Mas, o que importava isso agora? Só não valia o que havia pago por ele. Um banheiro insalubre e sem água o esperava.
    - Ah! Esqueci que não tem água. Vou pedir para o anão trazer um balde de água.
    Saiu do quarto e ouviu ela gritando pelo anão.
    - Traz um balde de água pra mim!
    O anão trouxe o balde de água e ela pediu para ele colocar no banheiro. Antes de sair ainda olhou para ele com um olhar raivoso. Sentiu um calafrio. O coração batia forte. O medo e a tentação daquela morena que fazia ele perder todo o sentido da vida.
    - Tire sua roupa.
    Ela era muito gentil com ele enquanto ele estava muito excitado com aquela beldade na sua frente.
    Tudo foi muito rápido. Mal havia se despido da camisa e nem tinha terminado de tirar a calça. Um grito, vários tiros, um corpo tombando. Mais gritos, outros tiros, outro corpo tombando.
    - Onde está essa desgraçada?
    Estava atônito. Pasmo. Sem reação.
    - Fuja! - ela disse – é meu marido. Ele vai te matar se ver você aqui.
    Não sabe como conseguiu desviar das balas. Dois tiros passaram raspando sua cabeça enquanto corria em zigue-zague. Não sabe como saiu pela única porta. Como conseguiu trombar com o homem em fúria e derrubá-lo e nem como chegou a rua. Não sabe como não foi atropelado pelo carro que freou bruscamente provocando um acidente com o veículo que vinha logo atrás. Não sabe como em questão de segundos já atravessava o outro quarteirão em disparada. Não sabe como correu pela rua só de cueca. Não sabe nem o que aconteceu. A única coisa que sabe é que ainda está vivo e dificilmente passará outra vez perto daquele bar.
    O grande problema agora é que no bolso da calça estava sua carteira com todos os seus documentos...

 

Conto: Odair José, Poeta Cacerense

Do Livro: Contos e Pensamentos do Poeta Cacerense Vol.2