sexta-feira, 29 de setembro de 2023

O dia em que roubaram o Marco do Jauru

    Em uma bela manhã de domingo, o sol nasceu dourado e o céu exibia um azul claro sem igual. Mas esse não seria um domingo comum. O assombro tomou conta dos habitantes quando a notícia começou a se espalhar pelas ruas e becos da cidade: o Marco do Jauru havia sumido! 
 
    Em Cáceres, uma cidade histórica no estado de Mato Grosso, os habitantes tinham no Marco do Jauru um dos seus maiores símbolos, representando a memória de tempos antigos e a bravura dos exploradores que ali estiveram. De pé na Praça Barão do Rio Branco, ele era um marco da União Ibérica entre os Reinos de Portugal e Espanha e uma fonte de orgulho para os cacerenses. 
 
    Agora, nesta manhã atípica de domingo, as pessoas se aglomeravam em volta do espaço vazio onde o marco estava. Havia sinal de escavação no local, mas nada de marco. Os mais velhos não conseguiam esconder a tristeza em seus olhos. Muitos pensavam que era uma brincadeira, mas a realidade era dura: alguém havia levado o Marco do Jauru. 
 
    A Polícia foi acionada e uma investigação em larga escala começou. Imagens de câmeras de segurança, testemunhas, tudo estava sendo usado para rastrear o possível culpado. Mas os dias passavam e nenhuma pista concreta aparecia. Apenas a imponente Igreja Matriz parecia sorrir de tamanha façanha. Quem olhava para sua paredes cinzas e suas janelas acreditava que a Igreja sabia exatamante o que tinha acontecido. 
 
    Enquanto a polícia investigava, um movimento popular ganhava força. Os cacerenses decidiram fazer uma vigília na praça, no local onde o Marco ficava. As noites eram iluminadas por velas e as manhãs, por esperança. A cidade, unida como nunca, clamava pelo retorno do seu símbolo. 
 
    E foi em uma dessas noites, enquanto todos se reuniam, que uma velho caminhão surgiu, estacionando perto da praça. De dentro dele, emergiram alguns jovens, e não tinham os semblantes alegres. Pareciam bem assustados. Eram eles! Eles estavam trazendo o Marco do Jauru de volta! 
 
    Após serem cercados pela multidão, os jovens, um tanto assustados, começaram a contar sua história, um tanto cabulosa, difícil até de acreditar: eles eram estudantes de arqueologia e tinham "emprestado" o marco para um projeto na universidade. Pensavam que ninguém notaria sua falta por um curto período de tempo. Contudo, ao perceberem a comoção que haviam causado, decidiram trazê-lo de volta imediatamente. Depois de muita labuta e com a juda de um grande guincho, colocaram o munumento no lugar. 
 
    A raiva inicial deu lugar à compreensão e a cidade celebrou o retorno do seu símbolo. Os jovens, apesar de terem agido sem pensar, tinham devolvido o marco e foram convidados a dar uma palestra sobre a importância histórica do Marco do Jauru para a nova geração de cacerenses. Afinal, para boa parte da população, a audácia com que os larápios levaram o monumento sem ninguém perceber era algo extraordinário. 
 
    A cidade, agora mais do que nunca, valorizou seu patrimônio e a união de sua gente. O Marco do Jauru, mais que um pedaço de pedra, tornou-se um símbolo de resistência, memória e orgulho cacerense. E a cidade aprendeu que, unidos, poderiam enfrentar qualquer desafio. 
 
Conto: Odair José, Poeta Cacerense

quinta-feira, 7 de setembro de 2023

O dia que choveu cinzas em Cáceres

    A cidade de Cáceres, com sua atmosfera tranquila e história rica, foi subitamente interrompida por uma coluna de fumaça espessa e cinzas chovendo dos céus. O coração da agitação estava na baia do Malheiros. Um incêndio de proporções gigantescas estava em andamento, e logo descobriu-se que não era um acidente, mas sim um incêndio criminoso. Enquanto os bombeiros e voluntários se apressavam para controlar as chamas, uma preocupação em particular surgia em meio ao caos: uma onça pintada e seu filhote estavam em perigo, com seu habitat ameaçado pelo avanço voraz do fogo. 

    Nas ruas da cidade, enquanto as pessoas corriam em meio ao pânico, um homem destacava-se. Era o Misterioso Homem da Praça Barão. Vestido com um paletó antiquado, chapéu de aba larga e óculos escuros, ele caminhava com propósito, alheio à agitação em sua volta. O que a maioria das pessoas não sabia era que esse homem, tão conhecido e ao mesmo tempo tão enigmático, estava em Cáceres com uma missão. E essa missão o levou diretamente a um dos antigos casarões da cidade. Sem hesitar, ele entrou, fechando a porta atrás de si. 

    Dentro da construção, o ambiente era fresco e abafado, um contraste gritante com o calor e caos externos. Com passos determinados, ele dirigiu-se a um cômodo específico. Atrás de uma estante de livros, ele pressionou uma sequência de tijolos, revelando uma passagem secreta. Lá dentro, após passar por um labirinto de corredores, ele encontrou o que buscava: um livro antigo, de capa de couro, com inscrições douradas. Dizia-se que este livro tinha o poder de realizar desejos quando lido e interpretado corretamente. Ele retirou-o cuidadosamente, posicionando-o sob o braço. 

    Retornando à cidade, ele se dirigiu ao local do incêndio. Com o livro em mãos, começou a recitar palavras em uma língua esquecida. À medida que sua voz ecoava, o vento começou a mudar de direção, levando a fumaça e o fogo para longe da área onde a onça e seu filhote estavam. Ao terminar, o Misterioso Homem da Praça Barão, sem dizer uma palavra, voltou à sua trajetória solitária pelas ruas de Cáceres, deixando para trás um rastro de esperança e mistério. 

    No fim do dia, enquanto a cidade tentava se recompor do caos, muitos se perguntaram sobre o homem e o misterioso livro. Mas, como sempre, ele havia desaparecido, assim como as cinzas que choveram sobre a cidade. E a única certeza era de que, em meio às adversidades, sempre haverá aqueles dispostos a proteger e restaurar a ordem. 

Conto: Odair José, Poeta Cacerense