quinta-feira, 9 de dezembro de 2021

O Dragão devorador de alface

 

    O pequeno garoto tinha o olhar fixo nos dois senhores sentados no banco da praça e os ouvidos atentos ao que eles diziam.

    - No Ocidente – disse um deles – o dragão, revestido de escamas, de cauda eriçada e vomitando fogo, representa o mal.

    - Ouvi dizer – disse o outro – que na filosofia do Extremo Oriente os dragões eram animais benévolos, simbolizando também a chuva, a neblina e o vento.

    - Na Coréia, cada rio e regato tinham o seu dragão próprio – fez uma pausa e continuou – na China Setentrional e Central, os dragões eram deuses da chuva que irrigavam os campos de arroz e formavam as nuvens com o seu bafo.

    Eram dois senhores bem distintos entre si. Um era alto e magro, negro de cabelos encaracolados já brancos pelo tempo; o outro era branco, baixinho e gordinho de olhar esbugalhado. O garotinho sentara-se bem próximo deles porque adorava histórias de dragões. O senhor negro disse:

    - Desde tempos muito antigos que inundações, vendavais e trovoadas eram atribuídos a dragões que combatiam na atmosfera ou nos rios. Os belos seixos encontrados junto aos regatos das montanhas eram considerados ovos de dragão, que, eclodindo por ocasião das trovoadas, deixavam voar em liberdade os dragões recém-nascidos.

    - Boa a sua história – disse o senhorzinho baixinho com um leve sorriso no rosto – mas a minha é ainda melhor.

    - Então diga.

    - Os dragões provocavam redemoinhos em terra e trombas  de água no mar. – Disse o velhinho sob o olhar atento do garotinho – Quando deixavam os seus covis situados em terra e se erguiam no ar, a pressão que as suas patas exerciam sobre as nuvens originava a formação de chuva.

    - Nossa! – Exclamou o senhor negro.

    Ambos fizeram uma pausa e olharam para os transeuntes que caminhavam pela praça naquele final de tarde. Olharam para o garoto perto deles e pareciam ignorar toda a curiosidade em seus olhos.

    - Os dragões chineses – Disse o senhor negro – eram de cores diversas: pretos, os dragões destruidores e o dragão trovejante da casa imperial; amarelos, os da sorte, e azul-celestes os que anunciavam o nascimento dos homens importantes.

    - Sério?

    - Sim. Já ouviu falar em Confúcio?

    - Sim.

    - Pois é. Na noite em que ele nasceu, dois dragões azul-celestes apareceram na casa de sua mãe.

    - Essa foi boa – Disse o velhinho baixinho e o garotinho pareceu concordar apesar de nem fazer noção de quem era esse tal de Confúcio.

    - Sua vez – Disse o senhor negro para o seu parceiro de histórias.

    - Os dragões podiam também alterar as suas formas e ainda brilhar na escuridão, tornar-se invisíveis, reduzir-se às dimensões de lagartos ou aumentar até ocultar céus e terra. Repousavam no fundo do mar em palácios de pérolas e falavam em voz agradável como o tilintar de pingentes de cobre.

    O garotinho estava cada vez mais impressionado com o conhecimento desses dois velhinhos sobre os dragões. Será que ainda teriam histórias mais impressionantes sobre eles?

    - Os ovos de dragão – disse o senhor negro – um medicamento popular da medicina tradicional chinesa, eram quase certamente fósseis de animais pré-históricos, que os farmacêuticos, na sua maior parte, armazenavam na terra ou reduziam a pó.

    Houve mais uma breve pausa. O sol já se escondia no horizonte e a noite em breve tomaria conta do firmamento.

    - Vou contar uma boa agora – Disse o senhor negro – Prepare-se para ouvir. Será insuperável.

    - Manda ver – Disse o senhor baixinho.

    - A lenda do homem que mata o dragão aparece sob a forma de versões variadas, todas sangrentas. Matar um dragão era a proeza que coroava a carreira de quase todos os antigos heróis, entre eles, Siegfried, Sigurd, Beowulf, São Jorge, São Miguel, Artur, Tristão e até mesmo Lancelot. As versões, numerosas, variavam. O ferreiro John Smith, de Deerhurst, no Gloucestershire, deu leite a beber a um mostro guloso. Depois de ingerir o líquido, o dragão deitou-se ao sol, com as escamas eriçadas, e o corpulento ferreiro, aproveitando a oportunidade, cortou-lhe a cabeça.

    - Nossa! – Exclamou o senhor baixinho – Agora você se superou.

    O garotinho concordou com a cabeça. Em sua mente era impossível ter mais coisas sobre os dragões.

    - Sua vez – Disse o senhor negro para o baixinho.

    - Está bem – Disse ele com um sorriso no rosto – Em Lyminster, no Sussex, um homem matou um dragão oferecendo-lhe um pudim envenenado tão grande que teve de ser transportado numa carroça. O dragão engoliu tudo, pudim, carroça e cavalos.

    - Uau! – Exclamou o senhor negro.

    - Mas essa não é a melhor parte – Disse o senhor baixinho.

    - Não?

    - A melhor parte vem agora – Disse o baixinho com um leve sorriso nos olhos e prosseguiu sob o olhar do garotinho – Na maior parte das lendas, os dragões alimentavam-se de donzelas, mas um escritor do começo do século XVIII, Topsell, na sua História de Quadrúpedes, atribui-lhes uma alimentação mais saudável. Eis o que ele diz: “Eles mantêm-se saudáveis (como Aristóteles afirma) comendo alface brava, que os faz vomitar quando ingerem qualquer alimento nocivo. São-lhes especialmente prejudiciais as maçãs, pois os seus organismos são atreitos a encherem-se de vento, razão porque nunca comem maçãs, mas sempre alface brava”.

    Havia uma expressão de admiração no olhar do senhor negro e do garotinho. Realmente essa ideia de que a alface é o melhor alimento para os dragões ninguém esperava.

    - Tem mais alguma coisa? – Indagou o senhor negro – Porque quero terminar a minha explicação.

    - Só mais uma – Disse o senhor baixinho e destacou: - Embora na sua maioria estes seres fossem temíveis, havia dragões amáveis. O autor romano Plínio menciona um homem chamado Thoas de Arcadia salvo do ataque de um ladrão pelo seu fiel dragão.

    - Massa! – Limitou-se a dizer o senhor negro.

    - Conte a sua parte final – Disse o senhor baixinho.

    - Pois bem – Disse o senhor negro – As lendas eram tão comuns a tantas terras que é possível interrogarmos-nos sobre a sua origem. As interpretações dos artistas assemelham-se extraordinariamente à reconstituição científica dos dinossauros. A suposição é notável. Os dinossauros desapareceram da Terra há 70 milhões de anos, e os antepassados diretos do homem surgiram apenas há 2,5 milhões de anos. Consequentemente, as lendas dos dragões não podem ser uma recordação popular do tempo dos dinossauros. A origem mais provável da lenda é que o homem primitivo, ao encontrar os ossos fossilizados de dinossauros, tenha concluído que aqueles pertenciam a algum animal gigantesco, aterrorizador, com a forma de lagarto. O que há de notável nesta interpretação é como ela se aproximava da verdade.

    - Que maravilha! – Exclamou o senhor baixinho – Então tudo se resume ao que o ser humano cria na sua imaginação?

    - Bem assim! – Concluiu o senhor negro.

    Os dois foram embora naquele inicio de noite. Na cabeça do garotinho, no entanto, os dragões eram fascinantes. O que mais ficou na sua memória ele foi repetindo pelo caminho:

    - O dragão devorador de alface.


Conto: Odair José, Poeta Cacerense

segunda-feira, 15 de novembro de 2021

2073 (O Imortal?)

    Dalibor. Foi o nome que o rapaz disse se chamar. Tinha um olhar misterioso e fazia longas pausas enquanto tentava explicar alguma coisa para o grupo de pessoas a sua volta. Podia se ver, nas suas pausas, as estrelas que enfeitavam o céu. A noite houvera chegado e com ela a fumaça que os impedia de ver com mais clareza, havia se dissipado. No alto da torre tinha uma espécie de parapeito que deu sustentação aos jovens ali presente. Nos olhos de cada um deles havia um misto de incredulidade em tudo que ouviam. 
    - O que sei é pouca coisa sobre o mundo de vocês – disse Dalibor olhando para cada um daqueles expectadores atentos a sua palavra – meu pai me contou como era antes de morrer. 
    - E quando ele morreu? – Indagou Duda que era sempre a mais curiosa. 
    - Faz muito tempo – limitou-se a responder e fez mais uma de suas longas e angustiantes pausas. 
    Podiam ainda sentir o cheiro daquelas frutas que Dalibor havia trazido para eles. Dissera que era a única coisa nesse dia que podia oferecer a eles uma vez que fazia dias que não saia para caçar. 
    - Voltamos a idade da pedra? – Havia indagado Luara no momento em que Dalibor estendia uma espécie de cesto no chão da torre e apresentava o que tinham para jantar naquela noite: mangas, maçãs e bananas. 
    - Não sei o que isso quer dizer – Respondeu o jovem enquanto olhava para a garota ruiva. 
    O Professor fez uma cara de surpresa. Como aquele jovem não sabia o que era a Idade da Pedra? No entanto, limitou-se a permanecer calado. Observava atentamente tudo que acontecia a sua volta. Era uma situação diferente e precisava colocar os pensamentos em ordem. Havia conversado bastante com a sua colega de trabalho, Soraia, sobre cuidar do emocional de seus alunos. 
    - Eu tinha por volta de dez anos quando meu pai morreu – disse Dalibor enfim – foi atacado por uma Onça garras de águia e não resistiu... 
    - Onça garras de quê? – Indagou Giovana e foi acompanhada por todos em sua expressão de surpresa. 
    - Onça garras de águia – Respondeu Dalibor – nunca ouviram falar? 
    - Não – Respondeu o Professor – Nunca ouvimos falar que existisse uma onça com garras de águias. A não ser na mitologia. 
    - Não sei o que é mitologia – Disse Dalibor – mas as Onças garras de águias são perigosas e traiçoeiras. Tem que tomar cuidado com elas. São enormes e extremamente ágeis. Um descuido e você já era. Meu pai tentava se esconder de uma delas quando saiu para caçar e, na fuga, ficou preso em um cipó. Quando os companheiros dele chegou no local meu pai já tinha sido estraçalhado por ela. 
    - Nossa! – Foi a exclamação quase que uníssona. 
    - Estou com medo agora – disse Júlia. 
    - Todos estamos! – Falou o professor – Mas o medo é bom porque nos ajuda a ficarmos alertas. 
    - Até aqui ele tem que filosofar...- cochichou Duda no ouvido de Pedro. 
    - Eu ouvi – disse o Professor olhando para ela. 
    - O que mais tem de perigoso aqui? – Indagou Carol. 
    - Muitas coisas... – Dalibor olhou para cada um deles – muitas coisas. 
    Enquanto Dalibor fazia mais uma de suas pausas angustiantes para todos que estavam curiosos por não saberem ao certo onde estavam, o Professor observou a lua esplendorosa que iluminava o céu. Com certeza, agora podia ver o brilho das estrelas e a lua magnífica que iluminava tudo a volta deles. Sentado em uma espécie de latão, Dalibor estava de frente para eles. Ao lado do professor estava Luara, Carol, Ícaro e Soraia a sua esquerda; Duda, Pedro, Giovana e Júlia a sua direita. 
    - Tem 60 anos que meu pai morreu – Disse Dalibor enfim e pode ver a expressão de mais surpresa nos rostos de seus interlocutores. 
    - 60 anos? – Indagou Ícaro – quer dizer que você tem 70 anos? 
    Pela primeira vez puderam ver um leve sorriso no rosto do jovem. - Sim – limitou-se a responder. 
    - Você é imortal? – Brincou Giovana. 
    - Não sei dizer ao certo – falou Dalibor – eu só sei que sou o único sobrevivente nascido logo após a catástrofe, pelo menos até onde sei, é claro. Poucos sobreviventes tiveram filhos após os acontecimentos. Meu pai me protegeu durante os primeiros anos até morrer. Depois eu me virei sozinho. Mas, quando tinha 20 anos eu não mais mudei. Sinto-me como se tivesse 20 anos desde então. Não me perguntem porque não sei explicar como isso é possível. Conheço alguma coisa sobre esse mundo e sei que existiu uma vida diferente antes da catástrofe. Meu pai era um dos habitantes que sobreviveu e me contou algumas coisas. Vou ajudá-los na sua busca por respostas, mas não sei se posso fazer muita coisa a não ser indicar lugares que vocês devam ir para encontrar o que precisam para voltar no tempo em que vieram. Quem sabe vocês descobrem coisas sobre mim também e porque não envelheço. 
    - Caraca! – Exclamou Carol – Parece que estamos em um filme de ficção científica! 
    - Que bom que lembrou de nossas aulas de Análises Historiográficas – Disse o Professor olhando para Carol. 
    Dalibor olhou para eles. Pegou um alforge que estava perto dele e tirou um pequeno bastão de dentro. Ao colocar o bastão na mão ele tornou-se um grande arco e ao acionar a outra mão apareceu uma flecha. 
    - Merda! – Exclamou Ícaro – Vi isso em um desenho animado uma vez! 
   - Caverna do Dragão – Disse o Professor – Era um dos meus desenhos favoritos quando criança. 
    - Não sei o que é isso que vocês estão falando – Falou Dalibor – mas essa é minha arma. Ganhei de Bjorn, o velho. Não posso usá-la para o mal, somente se for para proteção da minha vida ou de alguém que eu ame. Ao me dar o arco ele me fez várias recomendações e me revelou alguns segredos deste mundo que, infelizmente, não posso revelar a vocês. 
    - Quem é Bjorn? – Indagou Soraia. 
    - Ele é uma espécie de vidente, mago, feiticeiro, profeta, sei lá – Disse Dalibor – Ele é muito estranho. Aparece do nada e diz coisa com coisa. Sempre um enigma para desvendar. 
    - Parece muito com o Mestre dos Magos de Caverna do Dragão – Disse o Professor – Só falta ser baixinho e usar um manto vermelho... 
    - Não! – Disse Dalibor – É um velho bem alto e magro, de longas barbas brancas, usa um manto, mas é azul escuro e uma vara nas mãos. Há, e um detalhe, só tem um olho. 
    - Deus me livre! – Disse Duda fazendo o sinal da cruz. 
    - Ele pode ajudar vocês – Complementou Dalibor. 
    - Como vamos encontrar ele? – Indagou o Professor. 
    - Creio que não será fácil – disse Dalibor – é impossível encontrar ele a não ser que ele queria encontrar vocês. Mas, como eu ia dizendo, só vou poder orientá-los por onde seguir em busca de respostas para suas indagações. Esse mundo é perigoso. Muito perigoso. Não é mais o mundo em que vocês viveram. Meu pai disse que o mundo que vocês conheceram e que provavelmente vieram acabou no ano de 2073. 
    Era possível ver o assombro nos rostos de todos! 

(Continua...) 
* Da mente de Odair José da Silva

quinta-feira, 4 de novembro de 2021

2073 - (Prólogo)

    Ergueu os olhos ainda meio ofuscados pela fumaça. Do alto da árvore avistou algumas silhuetas que parecia ser a cidade. Não via mais a ponte e nem como chegar a sua casa. Tudo parecia estar em ruínas. Parecia que tinha passado um furacão e destruído tudo. Mas isso não teria acontecido agora. Pelo que via essas ruínas estavam aqui a milhares de anos. Como isso seria possível? 
    - É professor - disse ao descer da árvore - parece que estamos em um outro lugar e não na nossa cidade. Eu não estou entendendo mais nada. 
    O professor, um jovem senhor nos seus 40 anos, olhou para a colega de trabalho, uma professora mais jovem, 35 anos, mais ou menos, os dois alunos e as cinco alunas, ambos na faixa etária dos seus 15 anos, que haviam saído da caverna. 
    - Se acreditasse em viagem no tempo eu diria que estamos vivendo uma. 
    - Como vamos atravessar o rio? - Indagou uma das garotas. 
    - Pelo jeito vamos ter que nadar. 
    O professor olhou para o céu. O sol estava a pino e um pouco ofuscado pela fumaça. Não conseguia ver de onde vinha aquela fumaça. Não parecia haver algum fogo por perto. A vegetação estava bem verde, por sinal. 
    - Pedro! - O professor chamou um dos alunos. 
    - Sim, professor. 
    - Me ajude com aquelas toras de madeiras ali - apontou para umas árvores caídas às margens do rio - Vamos fazer uma espécie de jangada para atravessarmos. 
    - Ícaro! - O professor chamou o outro aluno. 
    - Sim, professor. - Você vem nos ajudar com as toras. 
    - Professora Soraia! - O professor olhou para a sua colega de profissão. 
    - Diga professor. 
    - Você e as meninas vão pegar cipós para amarrarmos a jangada. 
    - Está bem. 
    Mais ou menos duas horas depois já haviam construídos duas jangadas. 
    - Como vamos atravessar sobre isso ai? - Indagou uma das meninas demonstrando um certo receio. 
    - Subindo encima dela e remando até a outra margem, Júlia! - Disse o professor. 
    - Eu não sei nadar, tenho medo! - Disse outra garota. 
    O professor parou o que estava fazendo no momento e olhou para as meninas. Ambas estavam suadas e com medo. Era possível ver nos olhos delas. 
    - Luara! - Disse o professor para a jovem - Eu sei que todas estão com receio, com medo. Eu também estou. Não sei o que aconteceu. Mas, não podemos ficar aqui. Temos que chegar até a cidade para saber o que aconteceu. 
    Notou uma lágrima no rosto da jovem. Olhou para as outras e disse: 
    - Carol, Duda, Giovana, Júlia e Luara, vocês foram incríveis lá nas cavernas. Me ajudaram bastante, assim como o Pedro e o Ícaro. Não sabemos ao certo o que aconteceu enquanto estávamos dentro das cavernas, mas aconteceu alguma coisa. Temos que descobrir o que é. A professora Soraia e eu vamos cuidar de vocês até os entregarmos aos cuidados de seus pais. Agora temos que atravessar esse rio. Tudo bem? 
    Elas concordaram com a cabeça. 
    - Tudo bem, professor - Disse Luara - me desculpe! 
    - Não tem que se desculpar de nada. Vamos em frente. Pedro, Luara, Júlia e Duda vem comigo nessa jangada - Disse e apontou para a jangada - A professora Soraia, Ícaro, Giovana e Carol vão na outra jangada. 
 
    As águas deslizavam suavemente. Parecia que o rio estava mais vivo. A sensação era de que nem parecia aquele velho rio Paraguai de dias atrás, seco e sem vida. O que teria acontecido? Essa pergunta martelava a cabeça de todos. Com muita força nos braços e incentivo aos alunos para que remassem na direção certa eles chegaram a outra margem do rio. 
    - Aqui é a Carne Seca? - Indagou a Professora Soraia. 
    - Sim! - Respondeu o professor - Ou pelo menos o que era a Carne Seca. 
    Havia um grande matagal no lugar que quase invadia toda a pequena praia. Viram algumas ruínas do que um dia fora uma casa. Não se lembrava de ter visto casas com aqueles materiais antes naquele lugar. 
    - Vamos com cuidado - Disse o professor - Não sabemos o que aconteceu por aqui. 
    Começou a caminhar em meio aos destroços e ruínas de antigas casas agora tomadas pelo mato. Alguns carros envoltos em cipós e vegetação. Era o mesmo que estar vendo um episódio de The Walking Dead. Só faltava os zumbis, pensou o professor que era fã da série. 
    - O que é aquilo? - Indagou Carol apontando para uma espécie de torre. 
    - Eu nunca vi aquilo aqui em Cáceres - Disse a professora Soraia. 
    - Eu também não - Confirmou o Professor - Parece ser uma torre. 
    - Podemos subir nela e ver melhor a cidade - Disse Ícaro. 
 
    Era uma visão aterradora aos olhos de todos. Não existia mais cidade. Ruínas cobertas de vegetação. Podia se ver de tudo. Onde ficava a Igreja Matriz, a Praça Barão, o Geraldão. Tudo em ruínas. 
    - O que está acontecendo! - Exclamou Duda com um olhar incrédulo com o que via diante de seus olhos. 
    - Não faço a mínima ideia - Respondeu Pedro. 
    Houve um momento de silêncio. Todos pareciam refletir sobre a situação. O que havia acontecido com o mundo que eles conheciam e viviam antes de entrarem na Caverna do Jabuti? 
    - Será que estamos sonhando? - Indagou a Professora Soraia. 
    - Ou talvez estejamos mortos! - Disse Pedro. 
    - É. - Disse Júlia - Talvez nós morremos no desabamento da caverna assim como os outros. 
    - A gente não sabe de nada disso - Ponderou o Professor - Só sabemos que não estamos em nosso mundo real. Só isso! 
    Houve mais um intervalo silencioso e por isso eles puderam ouvir. 
    - O que é esse barulho? - Indagou Giovana. 
    Olharam para a escada de onde eles haviam subido na torre. Era uma escada que dava voltas a torre como se fora uma serpente. 
    - Tem mais alguém aqui - Disse o professor e já olhou para o lado na busca de alguma coisa que pudesse usar como arma de defesa. 
    Encontrou uma barra de ferro e pegou-a rapidamente enquanto os passos se aproximavam deles. 
    - Fiquem atrás de mim! - Disse o Professor segurando firme a barra de ferro. 
    - Ai meu Deus! - Exclamou Luara. 
    Houve um minuto de silêncio quando os passos pararam. Podia ouvir o bater dos corações de cada um. O dia estava indo embora. O sol, ainda um tanto prejudicado pela fumaça tentava se esconder atrás da vastidão da floresta que se perdia ao longe. A visão de um majestoso rio cercado de uma floresta quase não foi percebido por causa da aflição que todos estavam sentindo naquele momento. 
    - Calma pessoal! 
    Um rapaz alto, forte e esbelto apareceu no último degrau da escada. Tinha um semblante alegre e simpático. 
    - Não tenham medo - Disse após dar o último passo - Eu sou de paz! 
 
Autor: Odair José, Poeta Cacerense
Obs (Trata-se de uma obra de ficção)

quarta-feira, 7 de abril de 2021

Você é quem decide!


    "Você pode encarar a vida de duas maneiras: pode vivê-la ou deixá-la passar. Você decide o que fará com sua vida. Você precisa ser a mudança que deseja ver no mundo". 
 
Reflexão: Odair José, Poeta Cacerense

sexta-feira, 2 de abril de 2021

A reflexão do último dia da existência não absoluta do mortal

    Olhou mais uma vez para a imagem a sua frente. Sentia que essa poderia ser a última vez que seus olhos vislumbraria tal imagem. Não fazia a mínima ideia do que haveria do outro lado. Tudo não passava de teorias. Afinal, ninguém havia voltado do outro lado para contar o que lá havia. Desejava muito ter mais tempo. Não queria viver para sempre. Nunca imaginou isso. A imortalidade o assustava. Já não suportava nem mais um dia nesta vida miserável. 
 
    Lembrou de seus dias antigos. Os tempos de crianças quando corria atrás das borboletas e jogava pedras nos pássaros para vê-los voando. Esse sim era um tempo que desejava que não tivesse passado. Quem dera pudesse viver a infância infinitamente. Os adultos são ingratos e imbecis. São todos sem compaixão. Egoístas e miseráveis. Lobos do próprio homem. E nunca gostaria de ser como eles. Mas sentia-se como o pior de todos os mortais. Tudo é uma ilusão neste mundo tenebroso. 
 
    Ainda podia ver aqueles lindos olhos. Com certeza eram os mais lindos que já vira em sua vida. E foi ali que tudo desmoronou. Sabia disso. Aqueles olhos foram a sua perdição. Talvez pudesse seguir outros caminhos se não tivesse deixado eles penetrarem e dominarem seu coração. A partir daquele olhar seus pensamentos tornaram-se prisioneiro dela para sempre. E tudo não passou de mais uma grande ilusão. Amou-a como se fora a única mulher no planeta. Ela não sentiu a mesma coisa. Gosto muito de você , disse-lhe um dia, mais é só isso. Um carinho. Isso foi como um punhal a rasgar o seu coração. 
 
    Cada vez que via um andarilho pelas ruas ou uma criança abandonada pelos pais seu coração sangrava. Onde está a humanidade das pessoas? Sentia o frio das madrugadas e os espinhos do caminho. Ninguém se importava com seus gritos. Ninguém ouvia o seu pedido de socorro. Ninguém se importava. Por que, então, deveria se importar com alguém? Imaginava, em seus sonhos, o mundo sendo destruído por fogo. As chamas cobriam toda a terra. Animais desesperados correndo de um lugar para outro. Gente gritando desesperadas. Mas de nada adiantava. O fogo fazia uma limpeza total. Não ficou nem raiz nem ramo que não fosse destruído. Acordou do sonho com o corpo coberto de suor. Podia torcer os lençóis se quisesse. Ficou aborrecido porque lá fora ainda podia ver as folhas sendo carregadas pelo vento da manhã. 
 
    Definitivamente perdeu todas as suas esperanças. Sabia que nada poderia fazer para mudar aquela situação. Ninguém notaria sua ausência. Sentia-se um nada em meio ao infinito. Poderia deixar essa vida e seria apenas mais um indigente sem identificação. Que diferença isso faria para a humanidade? Quantas pessoas já nasceram e morreram ao longo da existência humana e ninguém se importa. O mundo continuará a existir assim que parar de respirar. Já existia quando chegou aqui. Continuará a existir assim que se for. 
 
     Fechou os olhos outra vez. Sua mente estava muito confusa. Afinal, que escuridão era essa? O limbo existencial ou o fim de tudo que sua mente insana viu ou ouviu um dia. Sente as garras afiadas de seus condutores. Ou são asas? A visão é ofuscada pela linha tênue da vida e morte. Onde está o barqueiro para me conduzir pelo rio da eternidade? Meu coração será pesado na balança? Já cheguei no paraíso? Tudo está em silêncio agora. Embaixo de uma árvore as folhas são levadas pelo vento até pousar suavemente no rosto bucólico de uma pessoa. 
 
Prosa: Odair José, Poeta Cacerense

terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

A faca na bananeira

    Esperou o sol declinar-se no horizonte. O amarelo do sol ia desaparecendo e dando lugar ao cinza de uma nova noite que caia naquele lugar tão pacato. Caminhou até os pés de bananeira no fundo do quintal e puxou a faca que havia enterrado em uma delas dias antes. A nódoa pingava da faca um tanto enferrujada. Com certeza uma facada só e ele morreria, pensou consigo. Com cuidado para não ser visto entrou no salão da igreja e atravessou passando por cima do púlpito vazio. O quarto onde dormia ficava em um dos cantos do templo. Colocou a faca embaixo do travesseiro e sentiu o coração acalmar. Parecia que sairia pela boca. O que estava fazendo? Indagava-se a si mesmo em determinado momento. O que aconteceria se matasse uma pessoa? Seria uma tragédia para si mesmo, seu irmão e seu pai. Viviam de favores naquela igreja. O Pastor havia dado-lhes guarida quando a mulher havia ido embora com as filhas. O pai trabalhava na plantação de cana-de-açúcar e passava a noite fora. Naquela semana estava trabalhando no turno da noite. Não poderia deixar que isso acontecesse. Não ia permitir. De forma alguma. Seu irmão era pequeno. Inocente. Aquele lobo em pele de ovelha não ia abusar de um garoto inocente. Não permitiria. 
 
    O velho senhor era bem recebido pelo Pastor e sua esposa sempre que vinha para a cidade. Também pudera. Ele sempre trazia coisas boas da vila onde morava. Frangos caipiras, ovos, queijos, leite, doces, abóboras. Isso o tornava uma pessoa confiável e querida por toda família pastoral. Sem contar que ele era brincalhão com os pequenos filhos do Pastor e com o pequeno garoto. Trazia balas. Então não foi diferente naquele dia. Lá estava ele todo feliz brincando com as crianças. A noite, com certeza seria o pregador. Tinha uma mensagem impactante. Conhecia bem a Bíblia e transmitia uma palavra de conforto e sabedoria. A igrejinha era muito avivada. Os crentes oravam muito. Meia hora de oração antes do início do culto era fichinha para os membros daquela comunidade. Por que Deus não revela o que esse homem é de verdade? Questionava do seu canto enquanto via ele pregar a palavra. Olhou para o seu irmão que já cochilava. Com certeza ia dormir como um anjo e nem imaginava o perigo que corria. 
 
    Sabia que não dormiria naquela noite. O coração batia muito forte. Cobriu o irmão e deitou-se. Tinha o costume de cobrir todo o corpo, inclusive a cabeça para dormir. Entrava alguma claridade pelas frestas da janela. A lua estava cheia. Os grilos cantavam. Olhou por baixo do lençol e viu que o velho ainda estava sentado na cama. Lia a Bíblia. Passou um pouquinho e o viu ajoelhando para orar. Como podia? Não conseguia acreditar que isso realmente fosse verdade. Mas, lembrou-se da última semana em que ele estivera ali. Acordou com um barulho e viu quando o homem havia levantado o lençol que cobria seu pequeno irmão. Quando foi para passar a mão em suas partes íntimas levantou-se rapidamente. O homem assustou e largou o lençol. 
 
    - O que está fazendo? 
 
    - Seu irmão estava descoberto e ia cobrir ele. 
 
    Sabia que não era isso que acontecera. Homem seboso. Ia bolinar com a pequena criança inocente. O velho sentou-se na cama e colocou a cabeça entre as mãos. Cobriu seu irmão e ficou vigiando até o dia raiar. Queria contar para o pai quando chegasse. Mas, sabia que poderia ser mal interpretado e, conhecendo os seus acessos de raiva, poderia apanhar. Melhor não, pensou consigo mesmo. Ninguém vai acreditar na minha história. Tenho que fazer algo. Semana que vem ele volta. Meu irmão não está seguro. Foi então que lhe veio a ideia da faca na bananeira. Não se lembrava onde havia lido sobre a nódoa da bananeira. 
 
    O silêncio era sepulcral. Podia ouvir as batidas do próprio coração. Já era tarde da noite com certeza. O tempo não passava. O irmãozinho tinha um chiado no peito. Podia ouvir também. O velho levantou-se. O coração acelerou. Se ele descobrir o meu irmão eu vou meter a faca na barriga dele, foi o que pensou na hora. Era uma agonia terrível. O tempo parecia ter congelado. O velho andou pelo quarto. Observou se ele dormia. Apenas os três no quarto. Pediu que Deus não permitisse que o homem bolinasse seu irmão. Proteja-nos, Senhor. Mais alguns minutos que pareciam uma eternidade. O velho sentou-se na cama. Deitou. Dormiu. Mais algumas horas e os galos anunciaram um novo dia. O sol raiou. O velho se foi e ficou as lembranças dessa terrível noite na memória deste que vos escreve. 
 
Conto: Odair José, Poeta Cacerense

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021

Evolução mental

"Posso e devo ser melhor. Cada dia caminhar no processo evolutivo. Cada amanhecer posso melhorar. Preciso acreditar nisso, pois tenho compromisso com a renovação da minha mente." 
 
Pensamento: Odair José, Poeta Cacerense

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2021

Vida e morte de Laura

    Essa é a história de Laura. Laura era meiga, delicada e me fazia sorrir. Vezes séria, vezes alegre, o certo é que era muito inquieta. Não parava um só minuto. Cantava, imitava algumas falas. Tinha hora que pensava que ela queria conversar, sei lá, quem sabe fofocar. Acho que sim. O importante é que ela me distraia. Às vezes chegava cansado do serviço e até me esquecia desse cansaço ao conversar com Laura. 
 
    Laura tinha amigos. Na verdade uma amiga, Branquinha, e um amigo, Trovão. Ah, como era engraçado ver os três juntos se divertindo. Quem olhava não conseguia entender essa amizade. Eles eram tão diferentes, mas mesmo assim eram amigos. Fazia frio ou calor, o dia era chuvoso ou de sol quente e lá estavam os três a compartilhar suas ideias, carinho e atenção uns com os outros. 
 
    Mas, como nem tudo nesta vida são flores, chegou o fatídico dia em que a vida de Laura foi brutalmente ceifada. Sem ter nenhum escrúpulo, Malvado galgou os espaços aberto na cerca e alimentou-se de Laura. Sem poder se defender da cilada na qual foi envolvida, a pobre criatura foi devorada pelo cruel Malvado. 
 
    Só Deus sabe a raiva que fiquei quando não mais vi Laura neste mundo. Uma pena indicava o seu fim. Triste e desolado pela perda de Laura passei vários dias imaginando sua vida no além. Será que existe um paraíso só para os pássaros? Laura era meu papagaio. 
 
Texto: Odair José, Poeta Cacerense

quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

Tenha esperança e fé!

    Erga sua cabeça e olhe para frente. Não pare no caminho. Você é uma pessoal especial e maravilhosa! Siga em frente de cabeça erguida e alcançarás a vitória. 
    Tens em seu coração a força do amor. Abra o seu sorriso e vença seus medos. Ninguém é perfeito, mas todos podem vencer os desafios. Tenha esperança e fé. 
    Acredite e siga em frente. 
 
Reflexão: Odair José, Poeta Cacerense

quarta-feira, 27 de janeiro de 2021

Eu, os livros e a leitura (I)

    Por onde posso começar a falar de livros e leitura? Tarefa bastante hercúlea para se fazer. Todas as minhas escolhas será injusta. De cada dez livros escolhidos, outros dez ficarão de fora dessa lista. Portanto, minha missão é pontuar minhas leituras, livros que impactaram minha vida e que pode servir de sugestão para outros. A leitura nos abre caminhos para um mundo fantástico, um universo maravilhoso de conhecimento e descoberta. Estarei selecionando dez obras (não necessariamente em ordem de importância) que me chamaram a atenção e um bônus. 
 
    01) “O Altar Supremo: a história do sacrifício humano”. Livro que constitui um extraordinário e fascinante estudo sobre sacrifícios. É uma instigante história de aventura e, também, uma significativa contribuição ao estudo antropológico da religião em seu aspecto mais trevoso e violento. Foi um livro que comprei em um sebo por preço irrisório, mas que tem, para mim um valor imensurável. 
 
    02) “História Secreta do Mundo”. Fui atraído pela sinopse do livro. E SE AQUILO QUE NOS CONTARAM FOR APENAS UMA PARTE DA HISTÓRIA? Diz-se que a História é escrita pelos vencedores, mas… e se a História - ou o que conhecemos dela - tiver sido escrita pelas mãos erradas? E se aquilo que nos contaram for apenas uma parte? A partir dessa premissa, mergulhei nesta leitura que é fascinante. 
 
    03) “Lolita”. Polêmico, irônico e tocante, este romance narra o amor obsessivo de Humbert Humbert, um cínico intelectual de meia-idade, por Dolores Haze, Lolita, 12 anos, uma ninfeta que inflama suas loucuras e seus desejos mais agudos. Através da voz de Humbert Humbert, o leitor nunca sabe ao certo quem é a caça, quem é o caçador. A obra-prima de Nabokov é um livro para poucos! 
 
    04) “1984”. Poucos livros tem a capacidade de tocar tão profundamente como esse. Publicada originalmente em 1949, a distopia futurista 1984 é um dos romances mais influentes do século XX, um inquestionável clássico moderno. Lançada poucos meses antes da morte do autor, é uma obra magistral que ainda se impõe como uma poderosa reflexão ficcional sobre a essência nefasta de qualquer forma de poder totalitário. 
 
    05) “A Divina Comédia”. Essa obra-prima da literatura universal dispensa comentários. Texto fundador da língua italiana, súmula da cosmovisão de toda uma época, monumento poético de rigor e beleza, obra magna da literatura universal. É fato que a "Comédia" merece esses e muitos outros adjetivos de louvor, incluindo o "divina" que Boccaccio lhe deu já no século XIV. Mas também é certo que, como bom clássico, este livro reserva a cada novo leitor a prazerosa surpresa de renascer revigorado, como vem fazendo de geração em geração há quase setecentos anos. Uma longa jornada dantesca através do Inferno, Purgatório e Paraíso. 
 
    06) “O Conde de Monte Cristo”. Essa história foi impactante na minha vida de leitor. Um dos maiores clássicos da literatura francesa há mais de 150 anos, “O conde de Monte Cristo” gira em torno de Edmond Dantè, que é preso por um crime que não cometeu. Ao sair da prisão, Edmond vai à busca de vingança contra seus inimigos. Uma trama repleta de reviravoltas dignas de um jogo de xadrez. 
 
    07) “Frankenstein”. Um clássico nunca morre. Considerada a primeira obra de ficção científica da história, fazendo sucesso arrebatador desde 1818 até os dias de hoje, Frankenstein deu vida ao gênero do terror e influenciou diversas gerações desde então. Ao mesmo tempo, suscitou entre seus leitores a questão que reside no imaginário da humanidade desde suas origens: quão humano pode ser um monstro e quão monstro pode ser um humano? o livro narra a história de victor frankenstein, um estudante de ciências naturais empenhado em descobrir o mistério da criação e que acaba por construir um ser humano – ou monstro? – em seu laboratório. 
 
    08) “As Catacumbas de Roma”. Um livro com uma mensagem impactante. Uma obra que mostra a pureza e o vigor dos primeiros seguidores de Cristo, os quais mesmo coagidos, foram fiéis até a morte. Para mim, uma lição muito importante do que é fé. 
 
    09) “Bíblia Sagrada”. Não poderia deixar de falar da maior obra, para mim, da literatura universal. Um conjunto de livros que mudou a minha vida para sempre. Leio-a todos os dias e tenho diversas dela em diferentes estudos. Dispensa comentários! 
 
    10) “As Crônicas de Nárnia”. Viagens ao fim do mundo, criaturas fantásticas e batalhas épicas entre o bem e o mal - o que mais um leitor poderia querer de um livro? O livro de C. S. Lewis é uma fantástica viagem ao mundo da imaginação. Para mim, um dos maiores escritores de todos os tempos. 
 
    Bônus) “O Homem Que Queimou a Bíblia”. Não poderia deixar de falar de um dos meus livros. Escrito a partir de muita leitura e com o coração. O Homem Que Queimou a Bíblia é um conjunto de relatos e mensagens que precisa ser lido. Sou grato a Deus por ter me dado capacidade de escrevê-lo. 
 
Obs. Em breve a Segunda Lista! 
 
Texto: Odair José, Poeta Cacerense

sábado, 23 de janeiro de 2021

Cuiabá Esporte Clube

 
Abre-se o brado no peito 
A bravura dos guerreiros 
Avante Cuiabá do meu coração 
Auriverde campeão! 
 
Orgulho de todo matogrossense 
De Cuiabá cidade querida 
Na elite do futebol brasileiro 
Tu és grande, tu és guerreiro! 
 
Com garra conquistaste o acesso 
Nos gramados do nosso país 
A paixão fez no coração nascer 
Cuiabá, tua glória é vencer! 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense
 
 

sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

Minhas palavras de amor não servem para nada

    Sorrateiramente. Essa talvez seja a melhor descrição para descrever a forma com que ela deixou-me naquela noite. Estava muito cansado do serviço. Aquele dia parecia que todos os problemas da empresa tinham surgidos para serem resolvidos no mesmo dia. E isso causou um estresse total nos funcionários e direção da empresa. Eu, como sempre tentava ser equilibrado, perdi a calma com um dos meus subalternos por questão banal que nem me lembro mais qual foi. Então, imagina a minha situação. Estava muito cansado da labuta e a única coisa que queria era dormir. 
    Tirei os sapatos. Como eles me incomodavam. Se pudesse trabalharia sem sapatos. Deitei-me no sofá e liguei a TV. Como sempre não passava nada que presta. Mudei de canal algumas vezes e acabei cochilando. Foi quando ela me chamou. 
    - Vá deitar na cama. - Disse com uma voz suave. Deveria ter notado. Afinal, nos últimos tempos ela só falava gritando. Andava sempre entediada. Dizia que sofria muito a solidão e o desprezo. Não me lembro bem de ter feito o trajeto do sofá até a cama, mas sei que me deitei na cama. Pois foi lá que acordei quando o sol batia na janela. 
    Foi estranho não tê-la por perto. Mas eu demorei a perceber que ela não estava mais ali. O que havia acontecido? Não me lembro de termos brigado na noite anterior. Me lembro sim de ouvi-la reclamando de alguma coisa que não sei bem o que era. Ela costumava conversar comigo. Eu estava de corpo presente. Os pensamentos, porém, sempre estavam longe. Sei que isso a incomodava. No entanto, não sabia como lidar com essa questão. Eu tinha muita coisa na cabeça. Andava sempre ocupado com tantas coisas que não dava muita atenção para quem estava a minha volta. 
    Tomei um banho e fiz um café. Estava silencioso na minha cadeira enquanto tomava o meu café quando percebi o bilhete na fruteira. Junto com as bananas e laranjas um pequeno bilhete apontava para mim querendo dizer-me alguma coisa. Abri-o com cuidado e li o que estava escrito. Poucas palavras que diziam muita coisa. 
    - “Não precisa se preocupar comigo. Estou bem. Fique com Deus. Minhas palavras de amor não servem para nada”. 
    Ah! O coração da gente é tão estranho. Nos preparamos para muito e sofremos por pouco. Como explicar as coisas do coração? Um território desconhecido. Uma terra sem lei. Um mundo sem fronteiras. Um universo de ilusão. E então, neste momento, você percebe a sua insignificância no mundo dos mortais. O que é a vida? O que é o viver senão sofrer? Pernas paralisadas. Boca emudecida. Olhos lacrimejantes. Sonhos destruídos. Enfiados dentro de uma mala e levados embora. Histórias tão bonitas construídas ao longo do tempo e que agora são desfeitas. 
    Nem levanto da minha cadeira. Por um tempo faço uma reflexão em tudo o que aconteceu. Vale a pena lutar por um amor que não mais trás a alegria que costumava trazer? Perceber que o momento certo de cada um buscar o seu destino nos faz reconhecer a nossa maturidade. Deixar ir embora um amor que não se ajusta mais é o maior sinal de respeito que podemos demonstrar. É preciso ter muita coragem para seguir em frente sem ter ao nosso lado a pessoa pela qual esteve por tanto tempo em nossa vida. Mas, às vezes, isso é necessário. É o melhor a se fazer. 
    Hoje eu não vou sorrir. Não há motivos para isso. Vou caminhar silenciosamente no caminho que tenho pela frente. Nem sempre precisamos estar acompanhado para caminhar a nossa estrada. Na maioria das vezes estamos sozinhos. Sabemos o que nos aconteceu. O que nos deu alegria e o que nos causou tristeza. Mas, não sabemos o que vamos encontrar na próxima esquina. Se algo que nos fará sorrir ou algo que nos causará lágrimas. Parece um pensamento negativista. E, talvez, seja mesmo. No entanto, quem pode me garantir algo diferente? 
 
    Conto: Odair José, Poeta Cacerense

quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

Último encontro

    Ela parou o olhar no quadro na parede. Respirou fundo e então falou finalmente: 
    - Como você pode dizer uma coisa tão absurda como essa? Não faz ideia do que passei na vida para chegar até aqui. Se para você as coisas são fáceis, para mim, nunca foi. Eu chorei muitas noites sozinha e sentia-me como se já não tivesse mais nenhuma esperança para os meus sonhos. Então, por favor, respeite a minha história. 
    - Me desculpe - disse ele tentando se justificar - eu não pensei nos seus desafios - respirou fundo olhando nos olhos dela - pareço um babaca ao pensar só em mim. 
    Andou pela pequena sala. Olhou pela janela, viu as paisagens, a areia branca, as pequenas moitas de um mato que não conhecia e, ao fundo, as águas do grande lago que se estendia até o horizonte. 
    - Não se preocupe - disse enfim - eu aprendi a lição! - fez uma pausa enquanto olhava agora para ele ali diante dela - Aprendi que na vida cada um de nós deve lutar para conquistar nossas vitórias. Cada um de nós temos as nossas batalhas interiores e exteriores. Cada um de nós temos a nossa cruz para carregar. Aprendi, também, as duras custas, que, na maioria das vezes, estaremos sozinhos em nossas lutas. Nossas batalhas internas são nossas e ninguém poderá nos ajudar nesses momentos únicos de nossas vidas. Então, meu querido - pegou em suas mãos - deixe-me seguir meu caminho e siga o seu. Não teremos mais uma oportunidade como tivemos outrora. Desejo que encontre felicidade por onde andares. 
    Percebeu a lágrima nos olhos dele. Caminhou até a porta e abriu-a educadamente. 
    - Sinceramente - disse ao vê-lo sair pela porta - desejo a sua felicidade! 
 
Odair José, Poeta Cacerense

segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

Vaidade nossa de cada dia

    Na esperança de perpetuarmos o nome somos os mais vaidosos de todos. Logo cairemos no esquecimento das pessoas que estarão preocupados com suas vaidades! 
    A vaidade diminui com o passar dos anos? Não. Apenas muda a sua forma de ser. 
    Se a melancolia nos desterra para a solidão por que, então, sermos vaidosos? 
    O tédio de dias tenebrosos. A solidão de abandono. Nada mais é do que a vaidade de nossos corações. 
 
Reflexão: Odair José, Poeta Cacerense

sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

Tirem esse preto de perto de mim

    "Tirem esse preto de perto de mim!". A primeira vez que essas palavras foram pronunciadas eu não as entendi. Nem poderia. Eu ainda era uma criança recém nascida. Minha mãe disse isso. Ela não quis ficar comigo. Fui, então, criado por uma tia até completar dois anos. Minha mãe teve outros filhos depois disso e, então, acabei voltando para casa. Afinal, eu nem era o mais negro da família. 
 
    "Tirem esse preto de perto de mim!". Ouvi essas palavras quando tinha mais ou menos uns onze ou doze anos. Foi em uma escola rural onde meus pais foram morar. Eu era o único negro ali e um dos filhos do capataz da fazenda não queria sentar ao meu lado no banco escolar. Claro que isso acontecia todos os dias. A maioria não queria ficar perto de mim. Nem mesmo os professores. Eu via isso. Eu sentia isso na pele o tempo todo. O que me salvou foi a bola. Um dia, faltou um dos jogadores. O treinador, sem ter opção para o jogo, pediu para que eu jogasse no lugar do faltoso. Ah! A bola! Sim. Eu sabia como dominá-la. E isso fez a diferença naquela comunidade. 
 
    "Tirem esse preto de perto de mim!". Dessa vez meu mundo desabou. Eu devia ter uns vinte anos. E estava apaixonado. Quem pode controlar as coisas do coração? Quando vi o olhar dela eu fiquei perdidamente apaixonado. Eram os olhos mais lindos que já tinha visto. Eu sentia que ela também me amava. Sim. Ela fazia de tudo para estar comigo. Mas, os meus temores se confirmaram. Quando me disse que ia me apresentar a sua família eu senti medo. "Não se preocupe", disse ela sorrindo "ninguém lá em casa é preconceituoso". Com certeza ela não conhecia bem a própria mãe. 
 
    "Tirem esse preto de perto de mim!". Não tenho palavras para expressar a minha indignação sobre o discurso de ódio daquele líder cristão. Quando entrei na igreja para ouvir sobre o amor de Deus é que vi a degradação do ser humano. Tinha já meus trinta e cinco anos e buscava algo novo para a minha vida. Cansado da vida sem sentido no mundo eu ouvi falar de Jesus e do seu amor pela humanidade. "Vem a mim todos os que estais cansados e oprimidos e eu vos aliviarei" foi a mensagem que tocou meu coração ao ouvir um grupo de crentes reunidos na praça naquela tarde de domingo. Eu queria ouvir mais. "Se você quer ouvir mais de Jesus vá no culto desta noite na nossa Igreja". 
 
    Não me deixaram sentar nos bancos apesar das vagas que tinha em alguns. Um senhor colocou uma cadeira no corredor da igreja para que eu me sentasse. Notei a insatisfação no olhar do pregador naquela noite. "O castigo de Deus sobre Caim foi mudar sua pele!" "Deus expulsou Cam, o neto de Nóe e o enviou para a África, esse foi o castigo!" "A maldição de Deus está sobre esse povo infiel, idólatra e feiticeiro!". Não acreditei que estivesse ouvindo tudo isso. Deus não poderia ser assim. Nunca! 
 
    O meu consolo veio na bondade de uma mulher já de idade que ao ver a minha aflição teve o entendimento que aquele "falso profeta" não tinha. Ela me abraçou. Sua pele alva como a neve contrastava com a minha. Senti o calor do seu corpo e as batidas do seu coração. "Deus, meu filho", disse ela ao meus ouvidos, "não faz acepção de pessoas". Olhou em meus olhos e pude ver o amor sincero nos olhos dela. "Jesus morreu na cruz para salvar todos os homens independentemente de sua cor, raça ou nacionalidade". 
 
Texto: Odair José, Poeta Cacerense

quarta-feira, 13 de janeiro de 2021

A morte pede carona

    Colocou o pequeno objeto no porta-luvas do carro. Era uma miniatura do seu herói favorito, o Homem-Aranha. Ainda sorriu ao lembrar do semblante singelo daquela garota que encantara seu coração e que agora o presenteara com aquela miniatura. Ligou o carro e parou na porta da casa do avô. A mãe pedira para levá-lo ao médico para realizar uns exames. Em tempos de Covid-19, todo cuidado era pouco. Amava muito os avós e sempre estivera com eles. Mas, agora, devido ao avanço do vírus e os cuidados necessários para evitá-lo, tomava muito cuidado com eles. O avô tinha problemas de comorbidade e só ia ao médico porque precisava fazer os exames. A mãe fizera mil recomendações antes de sair. “Higienize bem as mãos”; “Use máscara”, “Cuide de seu avô”, “etc, etc”. Confirmava as recomendações acenando com a cabeça. 
    - Que bonito! - Disse o avô com o Homem-Aranha na mão. 
    Viu que o avô tinha pego a miniatura no porta-luvas e o segurava como se o admirasse. 
    - Ganhou de alguém? 
    - Sim! - Respondeu com um sorriso no rosto. 
    - Namorada? 
    - Uma menina que estou gostando. 
    O avô sorriu. 
    - É isso ai garoto. 
    Acompanhou o ancião no consultório tomando todos os cuidados possíveis. Esperou o atendimento. Retornou para casa. Outra vez o velho pegou a miniatura. Parecia admirar o pequeno objeto que o neto havia ganho. Sorriu ao ver o avô com o objeto. Parecia feliz. 
    Três dias depois acordou assustado com a ligação da mãe. 
    - Seu avô foi levado as pressas para o hospital – disse a mãe ao telefone – está com a Covid-19. 
    - Meu Deus! - Exclamou. 
    Correu para o hospital. Não pode entrar por causa das restrições. O avô e a avó foram internados. O estado do avô era grave. Da avó estável. O coração quase saia pela boca. A ansiedade. O medo de perder os avós. Onde poderia ter pego esse maldito vírus? Pensou em todo o caminho percorrido três dias antes. Tomara todos os cuidados. Como isso pode acontecer? 
    Como se tivesse sido atingido por uma marreta no cérebro lembrou da miniatura. O Homem-Aranha. A garota tinha dado a ele. De onde ela vinha naquela manhã? Lembrou que a buscara na saída de uma festa que ela tinha ido para comemorar o aniversário de um amigo da faculdade. 
    - Meu Deus! - Exclamou consigo mesmo. 
    Poderia ser que o vírus estivesse na miniatura. Ela o entregara de presente quando deu carona a ela. Naquele mesmo dia o avô pegou a miniatura. Agora tudo fazia sentido. Sentiu as batidas do coração aumentar de forma descontrolada. Achou que morreria. Poderia estar com o vírus. 
    - Seu avô não resistiu – disse a mãe desconsolada. 
    Seu mundo desabou! 
 
Texto: Odair José, Poeta Cacerense