Colocou o pequeno objeto no porta-luvas do carro. Era uma miniatura do seu herói favorito, o Homem-Aranha. Ainda sorriu ao lembrar do semblante singelo daquela garota que encantara seu coração e que agora o presenteara com aquela miniatura. Ligou o carro e parou na porta da casa do avô. A mãe pedira para levá-lo ao médico para realizar uns exames. Em tempos de Covid-19, todo cuidado era pouco. Amava muito os avós e sempre estivera com eles. Mas, agora, devido ao avanço do vírus e os cuidados necessários para evitá-lo, tomava muito cuidado com eles. O avô tinha problemas de comorbidade e só ia ao médico porque precisava fazer os exames. A mãe fizera mil recomendações antes de sair. “Higienize bem as mãos”; “Use máscara”, “Cuide de seu avô”, “etc, etc”. Confirmava as recomendações acenando com a cabeça.
- Que bonito! - Disse o avô com o Homem-Aranha na mão.
Viu que o avô tinha pego a miniatura no porta-luvas e o segurava como se o admirasse.
- Ganhou de alguém?
- Sim! - Respondeu com um sorriso no rosto.
- Namorada?
- Uma menina que estou gostando.
O avô sorriu.
- É isso ai garoto.
Acompanhou o ancião no consultório tomando todos os cuidados possíveis. Esperou o atendimento. Retornou para casa. Outra vez o velho pegou a miniatura. Parecia admirar o pequeno objeto que o neto havia ganho. Sorriu ao ver o avô com o objeto. Parecia feliz.
Três dias depois acordou assustado com a ligação da mãe.
- Seu avô foi levado as pressas para o hospital – disse a mãe ao telefone – está com a Covid-19.
- Meu Deus! - Exclamou.
Correu para o hospital. Não pode entrar por causa das restrições. O avô e a avó foram internados. O estado do avô era grave. Da avó estável. O coração quase saia pela boca. A ansiedade. O medo de perder os avós. Onde poderia ter pego esse maldito vírus? Pensou em todo o caminho percorrido três dias antes. Tomara todos os cuidados. Como isso pode acontecer?
Como se tivesse sido atingido por uma marreta no cérebro lembrou da miniatura. O Homem-Aranha. A garota tinha dado a ele. De onde ela vinha naquela manhã? Lembrou que a buscara na saída de uma festa que ela tinha ido para comemorar o aniversário de um amigo da faculdade.
- Meu Deus! - Exclamou consigo mesmo.
Poderia ser que o vírus estivesse na miniatura. Ela o entregara de presente quando deu carona a ela. Naquele mesmo dia o avô pegou a miniatura. Agora tudo fazia sentido. Sentiu as batidas do coração aumentar de forma descontrolada. Achou que morreria. Poderia estar com o vírus.
- Seu avô não resistiu – disse a mãe desconsolada.
Seu mundo desabou!
Texto: Odair José, Poeta Cacerense
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