sábado, 31 de dezembro de 2022

Gracinha

    Vou lhes contar essa história, mas não quero que fiquem assombrados. Tem coisas que não sabemos bem como explicar. Ao final da história, que cada um tire suas próprias conclusões. Era o ano de 1929, o presidente do Brasil era Washington Luís e o Estado de Mato Grosso era governado pelo médico Mário Correia da Costa. Em Cáceres, o prefeito da época, Leopoldo Ambrósio Filho que tinha como meta principal a entrega do Palácio do Governo Municipal. Foi nesse ano que chegou na cidade o herói de nossa epopeia. Justino Pereira da Silva era um homem na casa dos 30 e poucos anos, rústico e muito trabalhador, veio para a cidade para trabalhar no encanamento da rede de água, que era construído pela firma Castrillon e Irmãos. Justino era bem sério. Homem de poucas palavras sempre se mantinha em silêncio, mesmo em meio a algazarra que seus companheiros de serviço costumava fazer. Foi em uma dessas suas andanças pelas ruas da cidade que ele a viu pela primeira vez. Gracinha. 

    Deixo o nosso herói aqui para falar da mocinha que ele avistou. Maria das Graças Oliveira era uma moça em seus 17 anos. Era muito bela e recatada como a maioria das moças da época. Todos na cidade a conhecia como Gracinha, apelido que ganhara quando ainda era bem pequena e que fazia justiça a sua beleza estonteante. Filha única de um dos maiores agricultores da região, morava com seus 5 irmãos em uma casa de alvenaria no centro da cidade e estava, agora empolgada pela chegada da água encanada. Naquele dia que já demonstrava ser de intenso calor, ela ouviu o barulho de um enxadão ou picareta e abriu a janela para ver. Foi quando seus olhos castanhos e amendoados viram Justino. 

    Durante todo o dia e a noite o homem não mais teve sossego. A beleza estonteante daquela moça não lhe saia da cabeça. Que sorriso ela tinha. Havia sido a primeira coisa que ela lhe mostrara ao vê-lo e lhe oferecer água. Não conseguia esquecer a imagem encantadora de seus olhos misteriosos naquele rosto angelical. Parecia uma deusa em forma humana. Esse era o seu pensamento. Nos próximos dias, ao cavar a rua próximo a casa dela, não suportava a ansiedade quando não a via. Mas, para sua felicidade, ela sempre aparecia, simpática, para lhe oferecer água ou um suco. 

    A jovem, por sua vez, não sabia o que estava acontecendo com ela. Por um instante, deitada em sua cama e com o olhar fixo no teto da casa, se perguntava o que era isso que estava sentindo. Um fogo queimava dentro de seu coração e percorria todo o seu corpo. Sem saber porque, não parava de pensar naquele homem. Mas, como isso era possível? O que tinha visto nele? E não podia pensar em outro homem. Afinal, o que iria dizer ao seu noivo? 

    É, meus nobres, existia um noivo. Ou pensaram que uma jovem linda como Gracinha não fosse comprometida? Havia cerca de seis meses que ficara noiva de Leonardo, jovem rico, filho de um médico da capital que havia a conhecido em uma festa na cidade. O pai do jovem, dias depois deles se conhecerem e trocarem algumas palavras, viera até a cidade e conversara com o pai dela. Por consentimento de ambos, ficaram noivos. A mãe da moça e suas amigas rasgavam elogios a formosura do rapaz e já imaginavam um casamento daqueles. Seria uma festa de parar toda a cidade. Algumas já até estavam olhando os vestidos e acessórios para a festividade. 

    O que é a felicidade? Escolhemos por quem nos apaixonamos? Essa era a pergunta que martelava a cabeça da moça quando, naquele final de semana, o seu noivo veio vê-la. Enquanto passeava com ele pelo jardim da pequena praça perto do rio, ela pensava no homem que trabalhava perto de sua casa. O que ele tinha de especial que a seduzira? Como podia explicar um sentimento desse? Ali ao seu lado, um jovem de futuro. Alguém que poderia dar-lhe uma vida confortável e um excelente pai para seus filhos. Então, por que não se sentia feliz com isso? 

    Seu coração quase saiu pela boca. Ficou, por alguns segundos petrificada ao vê-lo. Sim, ao caminhar pela praça naquele final de tarde, viu Justino sentado em um dos banquinhos da praça. Parecia estar pensando em alguma coisa. O olhar estático para o horizonte. Ela tentou dar meia volta. Não queria que ele a visse. O noivo notou a sua indecisão. "O que foi?" Indagou ele sem saber o que a fizera parar. "Não é nada!" Foi sua resposta na esperança de que o noivo não desconfiasse de nada. 

    Justino a viu. Seu coração disparou. Ela estava muito linda. Mas, estava acompanhada. Havia um jovem ao seu lado. Com certeza era seu noivo ou coisa assim, pensou na hora. Que bobeira a minha, continuou pensando consigo mesmo, pensar que essa moça seria para mim. Quem sou eu? Olhou para ela mais uma vez. Seus olhares se cruzaram. Ela ficou rubra e quase deu a perceber ao seu noivo. Desviou o olhar e continuou seu caminho. 

    Na manhã de segunda-feira, antes de dar a primeira enxadada no solo, a viu abrir a janela. Olhou para um e outro lado, ainda seus companheiros de trabalho não tinha chegado. Criou coragem e foi até a janela. Ela lhe entregou um bilhete. Sorriu e fechou a janela. No pequeno bilhete ela explicava que não sabia o porque mas não deixava de pensar nele e, se ele quisesse, os dois poderiam se encontrar naquela noite na rampa do Porto Mário Corrêa. 

    Tudo era perigoso. O pai da moça poderia encontrá-los e, sabendo de sua fama de homem rígido, Justino poderia ser morto. Gracinha, com certeza sofreria castigos severos. Não se pode macular a honra da família. Se alguém os visse naquele lugar, muitas coisas poderiam acontecer. Mas, nenhum perigo foi capaz de impedir o encontro dos dois. A moça não sabia explicar o que sentia, mas deixou-se envolver nos braços fortes daquele homem e sentiu uma força mágica tomar conta de seus desejos. Durante alguns dias, mantiveram outros encontros secretos no mesmo lugar. Justino, por sua vez, sabia que corria um risco enorme. Estava em um lugar que não conhecia. Poderia ser descoberto. Era mais velho e quem entenderia uma coisa dessa? 

    Como acontece na maioria das vezes, eles foram descobertos. O pai da moça, segundo alguns comentários da época, deu-lhe uma surra de chicote que foi preciso passar água de sal durante vários dias. Justino foi preso. Acusado de sedução e crime contra a honra, foi açoitado e jogado dentro de uma cela por vários dias. Conta-se que em uma dessas noites, depois de haver levado várias pancadas do agente carcerário, amigo do pai da moça, Justino olhou para a pequena grade e viu as estrelas no céu. Não se sabe mais nada a respeito dele. A história foi silenciada. 

    Alguns meses depois, a cidade presenciou um dos maiores casamentos de que se tem notícia. No altar, o Padre viu caminhar uma moça linda de olhos castanhos amendoados e ser entregue a um jovem que logo seria médico. Se foram felizes para sempre não sabemos. Nunca se sabe essas coisas. 

Conto: Odair José, Poeta Cacerense

terça-feira, 20 de dezembro de 2022

O Bêbado

    A cidade dorme. Não é possível ver nenhuma alma perdida vagando pelo centro. Silêncio absoluto. Até os cães dormem porque não se ouve nenhum latido. Prédios centenários parecem observar o trôpego caminhante que vacila entre a rua e a calçada. Uma alma dilacerada pelo álcool. Escravo do vício. Mais um alcoólico anônimo. 

    Um pai de família que não está com a família? Um filho abandonado pelo pai e que encontrou guarida nas bebidas? Quem poderá saber? Quem um dia perguntará isso a ele? Uma vida que segue sem destino algum em direção ao nada e, se Deus não tiver misericórdia, ninguém mais terá. A madrugada é fria. Deita-se entre restos de jornais e dorme. Logo outro dia nascerá. E quem sabe o seu destino? 

Reflexão: Odair José, Poeta Cacerense

segunda-feira, 19 de dezembro de 2022

2073 (A mulher de três filhos - II)

    Interrompeu-os quando folheavam alguns livros. O Professor segurava um em suas mãos. Parecia que havia encontrado um tesouro. 
    - Sentem-se que vou contar-lhes parte da minha história - Disse Milena. 
    Quando todos se acomodaram ela olhou nos rostos de cada um na ordem. O Professor, Duda a sua esquerda, Carol, Ícaro, Professora Soraia, Giovana, Luara, Pedro e Júlia. O semblante de cada um era de curiosidade pelo que estava por vir. 
    - Eu nasci na Fortaleza. - Disse a mulher de cabelos dourados - A Fortaleza é uma região cercada por altos muros e cercas, além de um fosso com os "jacarés", onde ficava, antes da destruição, o Iate Club. Pelo menos é isso que nos ensinaram na infância. 
    Notou o espanto em cada olhar e salientou: 
    - Peço que tenham bastante atenção e paciência porque senão não entenderão muita coisa.     Fez mais uma pequena pausa e notou que, apesar de toda curiosidade, todos estavam em silêncio. O Professor até desejou que essa fosse a postura de seus alunos em sala de aula quando falava. 
    - Eu nasci e cresci na Fortaleza. - Milena continuou sua explicação - Então, não sabia muito do mundo aqui fora. Lá dentro da Fortaleza é proibido falar sobre o mundo aqui fora. O que se sabe é por meio clandestino e alguns livros que são encontrado escondidos em algum lugar. 
    - Por que? - Indagou Pedro. Todos olharam para ele com aquele olhar de reprovação. -     Desculpa pessoal. É a minha curiosidade. 
    - Deixa ela explicar! - Retalhou Giovana. 
    - Pessoal - Disse o Professor - Vamos deixar que a moça conte a sua história e, depois, tiramos as dúvidas. 
    Todos concordaram e Milena, com o seu leve sorriso no rosto, continuou. 
    - Na Fortaleza livros são proibidos. Só podem existir os livros oficiais. Qualquer literatura como essa que vocês podem ver aqui, lá foram destruídas e, caso alguém é pego com algum livro que não os registros oficiais é condenado a morte. No começo, minha mãe me contou, morreram muitas pessoas e muitos livros foram queimados. Depois a nova geração acabou se adaptando e quase ninguém ousa desafiar o sistema. Fez uma pequena pausa para beber água.     - Então, quem mora na Fortaleza não sabe nada sobre o mundo aqui fora. Apenas o que estão nos registros oficiais e eles mentem sobre tudo. Por isso, ninguém ou quase ninguém ousa sair da Fortaleza e arriscar a vida aqui fora. Eu vivi na Fortaleza até os meus 19 anos quando fiquei grávida. Foi uma gestação de risco e não sabíamos muito o que fazer. Quando tive contrações, o que foi antes do tempo, os médicos fizeram o meu parto e se surpreenderam porque eu tive três filhos, dois meninos e uma menina. Isso é ilegal lá dentro. Qualquer casal só pode ter um filho ou filha. É lei. Antes de mim apenas uma outra mulher havia tido gêmeos e o que nasceu depois do primeiro foi morto. Eu fiquei com muito medo porque não queria que meus filhos fossem mortos. Então pedi ajuda de uma enfermeira e consegui fugir com meus dois filhos que nasceram depois do primeiro, um menino e uma menina. 
    O olhar de todos eram de perplexidade e o silêncio era estarrecedor. No entanto, borbulhava perguntas nos pensamentos de todos. 
    - Explico - Continuou a mulher - Quando nasce o filho de qualquer casal lá dentro ele é separado da mãe e criado por tutores e pedagogos desde pequeno. Os pais só podem vê-los uma hora por dia até a adolescência e depois são liberados para conviverem no mesmo ambiente, caso os filhos queiram. A maioria já tem destinos escolhidos. Meninos, normalmente, são soldados, lutadores, esportistas e cientistas. Meninas, normalmente, treinadas para serem donas de casa e, algumas, com dotes extraordinários, são liberadas para serem cientistas ou educadoras. 
    - Caramba! - Exclamou Ícaro - Parece que estamos mesmo em um filme de ficção científica. 
    Milena sorriu, bebeu mais um gole de água e continuou. 
    - Meu primeiro filho já havia sido levado pela equipe médica e os outros dois deixados para serem mortos. Um grupo de pessoas são responsáveis por esse trabalho e como são casos raros, normalmente leva tempo para encontrá-los. Nesse tempo, pedi ajuda de uma colega enfermeira e fugi com meus dois filhos atravessando uma passagem secreta que havia naquele tempo e que havíamos descobertos quando ainda éramos jovens curiosos. 
    - Que história mais fantástica! - Suspirou Luara. 
    Milena concordou com a cabeça. Podia se perceber o quanto ela havia gostado da jovem de cabelos ruivos. 
    - E o que aconteceu com seus filhos? Onde eles estão? - Indagou Carol. 
    - Estão por ai, eu acho - Milena deixou escapar um profundo suspiro de emoção - Faz tempo que não os vejo. Cuidei deles até ficarem adolescentes. Corremos muitos perigos aqui fora, mas aprendemos a sobreviver. Depois de jovens cada um queria fazer uma coisa diferente. Paulo Henrique, meu filho, que chamo de PH, decidiu que queria conhecer o que existe nesse mundo e saiu, mesmo com meus protestos, a se aventurar por ai. Faz muito tempo que não sei o seu paradeiro. Isabela, minha filha, que chamo de Isa, estava comigo a uns dois anos atrás quando nos deparamos com um jacaré desgarrado e tentamos fugir dele nos separamos. Eu fui picada por um marimbondo cavalo e quase morri. A Isa eu não sei para onde foi. Saio, as vezes, para a procurar, mas não consegui ir muito longe. 
    Milena deixou se levar pela emoção e lágrimas saíram de seus olhos. Luara levantou e a abraçou sendo seguida por Soraia e as outras meninas. Alguns minutos depois, após beber mais um pouco de água, ela se recompôs e agradeceu o carinho das meninas. Luara continuou abraçada com ela. 
    - Mas tenho esperança de encontrá-los em breve. PH é muito esperto e um exímio caçador.     Aprendeu muito bem a sobreviver aqui fora. A Isa também é muito inteligente. Uma exímia caçadora e usa o arco como ninguém. Creio que ela está bem em algum lugar e em breve vamos nos reencontrar. 
    - E o seu filho que ficou lá dentro da Fortaleza? - Indagou o Professor - Você tem ou teve alguma notícia ou informação sobre ele? 
    Milena gesticulou com a cabeça com um sinal de positivo. 
    - Há uns dez anos eu encontrei um homem ferido que havia fugido da Fortaleza e ele, antes de morrer, me contou sobre o menino. Disse-me que era um garoto esperto, que já treinava para ser soldado, era muito inteligente e destemido. Recebeu o nome de Hércules. - Fez uma pequena pausa - bem sugestivo, né. No entanto, de acordo com o homem, ele não devia saber nada sobre mim porque, provavelmente, os tutores não revelariam algo assim para o garoto. 
    - Poxa vida, que triste! - Exclamou Duda. 
    - Creio que estão com mais dúvidas ainda né? - Disse Milena e todos concordam com a cabeça.
    - Essa Fortaleza, pelo que entendi, não deve ficar muito longe daqui não, né? - Quis saber o Professor - O que é essa Fortaleza e o que tem lá que é diferente daqui? 
    - Eu fiquei curioso com os "jacarés" - Disse Soraia - Pela sua explicação, não me pareceu jacarés normais. Tem alguma coisa haver com a cobra de asas que vimos hoje? 
    - Que perigos existem aqui e o que aconteceu com este mundo? - Indagou Duda. 
    Milena abriu um singelo sorriso e falou. 
    - Sei que trata-se de muitas informações. Vou falar tudo o que sei amanhã. Mas agora vamos dormir porque não podemos perder nenhuma noite de sono. 
Se acomodaram como puderam e deitaram. O silêncio reinava naquele lugar. Milena apagou a lamparina que iluminava o ambiente e eles puderam ouvir o som do ventos nas folhas, e, se esforçassem um pouco mais, podiam ouvir o som das águas do rio. O Professor havia colocado o livro que encontrara debaixo de travesseiro que havia feito. Esse livro para ela tinha muito significado e iria ler quando tivesse luz. No entanto, o que mais o intrigava em toda essa história era a Fortaleza. O que era essa Fortaleza? 

2073 (By Odair José da Silva)

domingo, 18 de dezembro de 2022

2073 (A mulher de três filhos - I)


    Cada passo dado entre os escombros e ruínas, agora todas cobertas de vegetação, causava uma sensação de saudosismo na memória do Professor. Ele houvera conhecido bem essa cidade. Não conseguia entender como tudo isso havia tornando-se ruínas. Ainda era possível ver alguns resquícios de anúncios de alguns comércios em placas e restos de garrafas quebradas pelo caminho. O grupo atravessava entre as ruínas do que restara da cidade por uma espécie de trieiro indicado por Dalibor. Que nome é esse? Sorriu o Professor ao lembrar o nome do jovem que lhes dera alguma informação sobre esse novo mundo onde estavam pisando. Ainda estava absorto em seus pensamentos quando Duda deu um grito: 
    - Cuidado! 
    Olhou rapidamente e pode ver uma enorme cobra enrolada em um canto de um prédio caído por onde eles passavam neste momento. Não era uma cobra qualquer. 
    - Que diabos é isso?!? - Exclamou Ícaro. 
    - Parece uma cobra - Respondeu o Professor após se afastar um pouco e cuidar para que seus alunos não chegassem perto da criatura - mas não é uma cobra qualquer e não sabemos se é perigosa ou não. 
    - Deus do céu! - Exclamou Carol - Vejam isso - e apontou para a criatura - ela tem asas?!? 
    Todos olharam atentamente e viram que, de fato, aquela cobra tinha duas asas nas suas costas e agora elas começavam a se mexer como se fossem abrir. A víbora mudou de cor e suas asas cresceram. Ela estava armando um bote, com certeza, e todos ficaram apavorados. 
    - O que ela está fazendo? - Indagou a Professora Soraia. 
    - Ela vai nos atacar! - Gritou Júlia. 
    O Professor havia pego um pedaço de ferro que encontrara e começara a tirar os alunos de perto da cobra quando ouviram uma espécie de sibilo. Uma flecha passou raspando a cabeça dele e foi se alojar no peito da cobra que estrebuchou e caiu morta. 
    Estupefatos todos olharam para trás e viram aquela mulher com um arco enorme nas mãos e já com outra flecha armada. Talvez devido o susto, ninguém esboçou nenhuma palavra e ela abriu um sorriso encantador. 
    - Olá! - Disse ela por fim - Tudo bem com todo mundo? 
    - Sim - Respondeu Luara - Quem é você? 
    A mulher, então, baixou o arco e aproximou-se deles. Era branca, alta, olhos verdes, cabelos dourados e semblante alegre. Usava uma espécie de túnica e um alforge, além do seu arco e algumas flechas as costas. 
    - Eu sou a Milena, e vocês, quem são? 
    O professor se apresentou e descreveu cada um deles. Em breve palavras descreveu a situação desde a ida à Caverna do Jabuti e a chegada até este momento. Enquanto falava percebeu que Pedro e Giovana estavam querendo mexer na cobra que havia sido morta. 
    - Tomem cuidado! - Disso o Professor - Não sabemos o que é isso e pode ser perigoso. 
    - E é muito perigoso - Complementou a mulher - Isso é uma víbora de asas, venenosa e mortal. E olha que essa ai é um filhote, com certeza. 
    - Tá louco! - Exclamou Ícaro - Se isso é um filhote, desse tamanho, que podemos esperar de uma adulta? 
    - Que não as encontremos - Disse Milena - Elas são raras, mas são muito perigosas. No entanto, ela não atacam a não ser que sejam incomodadas, como aconteceu aqui - fez mais uma pequena pausa, olhou para o grupo e complementou - é melhor sairmos daqui por que pode ser que tenha outras por perto. 
    - Para onde vamos? Indagou Soraia. 
    - Tenho um pequeno esconderijo aqui perto - Respondeu Milena - Podem passar a noite protegidos - olhou para o céu que já tinha mostras de estar escurecendo - é mais seguro. 

    O lugar era bem protegido mesmo. Passaram por uma barricada de troncos, depois um muro de concreto coberto de folhagens e, por fim, entraram em um prédio cercado de folhas. Dentro era espaçoso e surreal. 
    - Não acredito! - Exclamou o Professor. 
    - O que é Professor? - Luara olhou para ele. 
    - Isso é a antiga Biblioteca, a que ficava no centro, perto da Câmara dos Vereadores. 
    - Verdade - Concordou Duda. 
    Milena olhou para eles e sorriu. Ela era uma mulher muito bonita e parecia ser do bem. Ela os acomodou em volta das mesas e deixou-os a vontade para olhar alguns livros que haviam resistido ao tempo e a destruição. Preparou um ensopado e eles puderam alimentar-se depois de vários dias comendo frutas que Dalibor os havia dado. Quando a mulher sentou-se a mesa, Luara perguntou: 
    - Você vive aqui sozinha e como sobreviveu? 
    - Bem curiosa você, né garotinha - Milena passou as mãos no cabelo ruivo da jovem - eu sei que todos estão curiosos para saber sobre mim e, confesso que também quero saber sobre vocês. Para começar, sou conhecida como a mulher de três filhos... 

2073 (By Odair José da Silva)

segunda-feira, 7 de novembro de 2022

O ser humano mudam as coisas

    Admirava o por do sol no cais. Sempre aproveitava as tardes de folga do serviço para parar na Praça Barão, encostar na mureta e olhar o sol se por atrás da vegetação na baia além do braço do Rio Paraguai. Sentia, as vezes, uma ponta de tristeza quando via o descaso com a natureza. Embarcações que antes navegava tranquilamente pelas águas do Rio, agora tentavam se desviar dos bancos de areia. Com um olhar mais aguçado podia se ver o quanto o ria havia secado. O vermelho do sol logo seria ofuscado pela escuridão da noite que chegava silenciosamente. 

    - Bonito né!? 

    Olhou para o lado e viu o seu interlocutor. Um senhor já de idade avançada que ela nem percebera chegar perto de si. 

    - Sim. - Disse apenas. 

    Um barco deslizou pelo maio do rio provocando pequenas ondas que batiam nas margens fazendo um barulho típico de águas na areia. Lá embaixo um homem tentava arrumar uma espécie de tenda onde, certamente, iria dormir aquela noite. 

    - Não era assim quando tinha a sua idade. 

    Olhou para o senhor e sorriu levemente. 

    - O tempo muda as coisas - Disse. 

    - O ser humano mudam as coisas. - Respondeu o senhor.

    Parecia não ser nada. Mas, ali estava uma grande verdade. Não é o tempo. Nunca foi. São as pessoas. A ganância do ser humano. Sua falta de sensibilidade. Seu desejo de possuir as coisas e destruir a natureza. 

    - Havia respeito pela natureza - Disse o senhor - e não se explorava de forma predatória. Até as onças viam beber água na baia. Via-se facilmente os jacarés, os tuiuiús, os pássaros. Hoje nem peixe tem mais. 

    A jovem olhou para o senhor e, por um breve instante, pode sentir a tristeza no seu falar. O mundo é um lugar cruel. O ser humano é um predador implacável. Lembrou-se das palavras de um professor de Filosofia. 

    - Triste isso! - Disse finalmente. 

    O velho sorriu para ela e seguiu o seu caminho. No horizonte o sol já havia se escondido e deixava que algumas estrelas surgissem para lembrar a todos a sua existência. 

Conto: Odair José, Poeta Cacerense

sábado, 8 de outubro de 2022

O brutal assassinato de Luiza Estela na Praia do Daveron (Parte I)


    - Vamos seu molenga - Gritou a jovem. 
    Isa correu mais rápida que Caio e o ultrapassou assim que chegaram nas areias da Praia do Daveron. O dia já ameaçava surgir no horizonte e prometia ser quente como estava sendo nos últimos dias na Princesinha do Rio Paraguai. 
    - Você trapaceou - Disse o jovem parando perto da grande árvore que olhava imponente para o espaço de areia modificado pelo ser humano a pouco tempo para a prática esportiva na cidade. 
    A jovem de cabelos ruivos parou e voltou um pouco até se aproximar do seu companheiro de corrida matinal. 
    - Você está acabado - Disse ela - Tem que parar de fumar esses cigarros eletrônicos - Fez uma pequena pausa enquanto respirava - Isso é muito prejudicial. 
    - Está vendo aquilo ali? - Caio olhou para Isa e apontou para um vulto ao longe estendido na areia bem próximo do mastro de rede onde, nas tardes quentes de Cáceres, jovens jogavam vôlei. 
    - Parece uma pessoa deitada. 
    - Só se for um bêbado então. 
    - Pode ser. 
    Fizeram uma pausa por alguns segundos. 
    - Vamos lá ver? - Perguntou Isa. 
    - Você acha que devemos? 
    - Talvez seja alguém que precisa de ajuda. 
    Caio olhou para a colega. Esse sempre fora o seu comportamento. Ajudar alguém. Era notório o seu engajamento nas organizações da escola para arrecadar alimentos e agasalhos para serem distribuídos para as pessoas de baixa renda. 
    - Está bem - Disse - Vamos lá! 
    Podia se ouvir o cantar dos pássaros saudando o amanhecer e sentir a brisa do rio que deslizava silenciosamente quando os dois se aproximaram do corpo estendido na areia. 
    Já perto perceberam que não se tratava de um bêbado qualquer. Havia sangue espalhado nas proximidades como se o corpo tivesse sido arrastado até ali. 
    - Meu Deus! - Exclamou Isa - É uma menina! 
    - Parece morta - Disse Caio. 
    E estava. Ao se aproximarem puderam ver com mais clareza o corpo de uma jovem ensanguentada e sem vida. Suas roupas estavam rasgadas e sua garganta também. Havia hematomas por toda parte de seu corpo e os cabelos, um misto de loiro e castanho, estava desgrenhado e misturado com areia. Os olhos, ainda se encontravam entreabertos como se olhasse para o monstro que havia feito aquilo. 
    - Precisamos chamar a Polícia! - Caio segurou o braço de Isa para que ela não se aproximasse mais do corpo. 
    - Quem pode ter cometido uma barbaridade dessas? - Indagou Isa com os olhos cheios de lágrimas - Quem teria capacidade para isso? 
    Caio pegou o celular e ligou para a emergência. Enquanto falava com o policial que o atendeu no plantão, o jovem olhou atentamente para o corpo da jovem estendido na areia. 
    - Eu conheço ela! 
    - Sério? - Indagou Isa - E quem é? 
    - O nome dela é Luiza Estela e ela ia ser uma das candidatas a Miss Cáceres. 
    - Verdade! - Exclamou Isa - Eu sei quem ela é também. Meu Deus! Será o que aconteceu? 
    Eram perguntas sem respostas. Ali estava o corpo de uma jovem, frio e ensanguentado, nas areias da Praia do Daveron e, na cabeça de Caio, a pergunta que também passava na mente de Isa: Qual perigo espreita a noite cacerense? 

Continua... 

Odair José, Poeta Cacerense

sexta-feira, 29 de julho de 2022

A Maldição do Feiticeiro na Praça Barão - (Parte I)

 

    Olhou atentamente para o corpo estendido no chão. Uma poça de sangue começava a se formar na calçada. Ninguém acreditava no que tinha acontecido. Como um poste poderia cair sobre a cabeça de alguém dessa forma? Mas, ali estava ele com a cabeça esmagada pelo poste de luz. Entardecia às margens do Rio Paraguai e os garçons começavam a arrumar as mesas nos bares do entorno na Praça Barão do Rio Branco. Tudo levava a crer que seria mais uma noite típica da Princesinha do Rio Paraguai. No entanto, aquele acontecimento tiraria de vez a paz da população cacerense.
    - O que aconteceu? – Indagou à senhora gorda que acabara de chegar empurrando as pessoas que já se aglomeravam diante do corpo estirado na calçada.
    - Um poste caiu na cabeça desse homem. – Alguém respondeu mostrando o poste caído.
    - É o fotógrafo! – Exclamou outro e acrescentou – Bem que o feiticeiro falou que ele iria morrer.
    Que história era essa? Feiticeiro? Como era possível isso estar relacionado? Aproximou-se do homem que havia falado do tal feiticeiro enquanto a polícia chegava ao local abrindo espaço e pedindo para as pessoas se afastarem que a perícia iria fazer o seu trabalho.
    - Que negócio é esse de feiticeiro? – Perguntou.
    - Então você não sabe? – Indagou com um olhar curioso.
    - Não. Não estou sabendo de nada.
    - Me paga uma cerveja que te conto toda a história.
    Sentaram-se em uma mesa no Casarão e pediu uma cerveja ao garçom que ainda olhava para a aglomeração de pessoas a poucos metros dali. O homem de barba rala e olhar penetrante começou a contar a história.
    - O nome dele era Paulo Rodrigues, mais conhecido como Paco. Foi preso acusado de estar praticando rituais de bruxaria com crianças e mulheres. Ficou calado diante do tribunal e parecia nem ligar com a acusação. O juiz o ameaçou caso não falasse, mas ele não ligava. Até o momento em que o juiz mandou queimar os seus objetos e poções mágicas. Ai o cara virou uma fera. Gritou e amaldiçoou todo mundo na cidade. Falou que um animal selvagem iria matar alguns para provar que ele estava certo. O juiz o taxou como louco e o sentenciou a fazer sérios exames de sanidade mental.
    Fez uma pausa e tomou mais um gole da cerveja. Olharam para o corpo sendo removido pela funerária e as pessoas se dispersando do local. Funcionários dos bares viam com materiais de limpeza para lavar a poça de sangue que se formara.
    - E o que aconteceu depois? – Estava curioso para saber o restante da história.

(Continua...)
Conto: Odair José, Poeta Cacerense

segunda-feira, 25 de julho de 2022

Dia Nacional do Escritor

"A maior parte do tempo de um escritor é passado na leitura, para depois escrever; uma pessoa revira metade de uma biblioteca para fazer um só livro."
 
Samuel Johnson

segunda-feira, 4 de julho de 2022

Na mesa do bar

    Fazia um calor infernal. Com certeza a temperatura beirava os quarenta graus. Cáceres sempre foi muito quente. Mas, naquela tarde parecia que o inferno havia sido aberto. Estava meio que perdido. As ruas estreitas do centro histórico dificulta quem não conhece a cidade direito. Levou as mãos acima dos olhos para ver direito as casas a sua frente e foi quando avistou o bar. Resolveu parar para tomar uma Coca-Cola ou uma cerveja qualquer. Queria era refrescar a goela.
    Entrou no bar e, antes de pedir alguma coisa, ficou petrificado com o que via a sua frente. Havia uma mesa de sinuca bem no meio do salão, entre a porta e o balcão. Nada de anormal em ter uma mesa de sinuca em um bar. Quase todos eles têm. Mas, não com uma morena daquelas.
    Ela estava deitada de lado em cima da mesa de sinuca. Era um espetáculo. Cabelos cacheados jogados ao lado, seios fartos quase saindo fora do decote da blusa vermelha apertada ao corpo. Um piercing no umbigo e uma tatuagem de borboleta logo abaixo. Um short jeans desfiado que mal cobria metade de sua bunda bem torneada. As pernas eram perfeitas e sensuais. Voltou o olhar para seu rosto e viu o sorriso malicioso. Seu olhar era de uma sedução só.
    Engoliu em seco. Respirou fundo. Agora o suor havia aumentado consideravelmente. Além do calor abrasador daquela tarde o calor daquela morena quase provocava um infarto. Encostou no balcão e pediu uma cerveja ao atendente que mantinha uma cara de poucos amigos. Ficou sem graça com isso. Aquela morena seria alguma coisa desse cara?
    - Também estou com sede – uma voz deliciosa cortou o silêncio – pode me pagar uma cerveja?
    - Está falando comigo?
    - Sim.
    A mulher continuava imóvel em cima da mesa. Vez ou outra mudava a posição das pernas o que exibia ainda mais a sua sensualidade. 
    Pegou outra cerveja e um copo e foi até a mesa onde estava a mulher. Sentia o coração bater acelerado. Colocou a cerveja no copo. A morena sentou-se na mesa e abriu as pernas diante dele. Ficou paralisado. Era a perfeição de mulher. A tentação irresistível. Ela sorriu.
    - Você é muito gentil.
    Então levou um susto ao ver o anão. Ouviu um barulho em um dos cantos do bar que estava mais escuro e viu aquele pequeno homem de cara amarrada e um longo bigode amarelado. Com suas curtas mãos tentava arrastar uma churrasqueira para perto de uma das portas.
    - Está olhando o quê?
    - Nada não…
    A morena então pegou em sua mão.
    - Não liga para ele não. Só está com ciúmes. Sabia que ele tem ciúmes de mim? Desde que cheguei aqui o sonho dele é ficar comigo, mas como vou ficar com uma criatura dessas? Ele nem tem dinheiro. Mas, com você é diferente né? Quer ficar comigo?
    - Ficar? Como assim? Ficar como?
    - Ah seu bobo. Ficando ué. Tem um quarto aqui nos fundos. Você paga para aquele cara do balcão e vamos para o quarto. A minha parte você paga pra mim lá.
    Agora parecia que o calor havia dobrado. Queria tirar logo a roupa e se acabar naquela morena espetacular diante dele.
    - Calma benzinho. Temos tempo.
    Na verdade era um cubículo. Sem nenhuma higiene. Apenas uma cama de solteiro coberto com um lençol furado e um ventilador caindo aos pedaços. Mas, o que importava isso agora? Só não valia o que havia pago por ele. Um banheiro insalubre e sem água o esperava.
    - Ah! Esqueci que não tem água. Vou pedir para o anão trazer um balde de água.
    Saiu do quarto e ouviu ela gritando pelo anão.
    - Traz um balde de água pra mim!
    O anão trouxe o balde de água e ela pediu para ele colocar no banheiro. Antes de sair ainda olhou para ele com um olhar raivoso. Sentiu um calafrio. O coração batia forte. O medo e a tentação daquela morena que fazia ele perder todo o sentido da vida.
    - Tire sua roupa.
    Ela era muito gentil com ele enquanto ele estava muito excitado com aquela beldade na sua frente.
    Tudo foi muito rápido. Mal havia se despido da camisa e nem tinha terminado de tirar a calça. Um grito, vários tiros, um corpo tombando. Mais gritos, outros tiros, outro corpo tombando.
    - Onde está essa desgraçada?
    Estava atônito. Pasmo. Sem reação.
    - Fuja! - ela disse – é meu marido. Ele vai te matar se ver você aqui.
    Não sabe como conseguiu desviar das balas. Dois tiros passaram raspando sua cabeça enquanto corria em zigue-zague. Não sabe como saiu pela única porta. Como conseguiu trombar com o homem em fúria e derrubá-lo e nem como chegou a rua. Não sabe como não foi atropelado pelo carro que freou bruscamente provocando um acidente com o veículo que vinha logo atrás. Não sabe como em questão de segundos já atravessava o outro quarteirão em disparada. Não sabe como correu pela rua só de cueca. Não sabe nem o que aconteceu. A única coisa que sabe é que ainda está vivo e dificilmente passará outra vez perto daquele bar.
    O grande problema agora é que no bolso da calça estava sua carteira com todos os seus documentos...

 

Conto: Odair José, Poeta Cacerense

Do Livro: Contos e Pensamentos do Poeta Cacerense Vol.2

terça-feira, 10 de maio de 2022

Sexta-feira na Praça Barão (Parte I)

    O por do sol era simplesmente indescritível. Uma beleza que parecia ter sido pintado pelas mãos do Criador. 
 
    O dia típico de uma tarde de verão, céu azul sem nuvens e um entardecer de encher os olhos. Sexta-feira! As pessoas começavam a chegar para tomar a sua cervejinha ou o seu chopp no Casarão, no Dito Bendito. Enquanto os garçons e funcionários arrumavam as mesas, algumas crianças brincavam na Praça. No mural do cais pessoas paravam para tirar algumas fotos do por do sol. Que beleza! A princesinha em seu maior encanto. 
 
    Aos poucos as cores foram ficando mais vermelhas e, misturadas ao azul do céu e o verde das matas, dava uma coloração única. Inspiração para os poetas, imaginação para os artistas e paixão para os apaixonados. O que poderia causar mais contentamento à população cacerense? A tarde chegava de mansinho. As luzes foram acesas. Os carros transitavam na típica sexta-feira. Agora já havia muita gente na Praça. O calçadão estava praticamente lotado. Nas TVs passava um jogo da Série B. No Bodega, uma banda afinava os instrumentos. A noite prometia. Tudo normal na Princesinha do Rio Paraguai. Será mesmo? 
 
    O garoto largou a mão da mãe e correu para a escadaria do cais. 
 
    - Volte aqui, menino - Disse a mãe tentando segurar o menino. 
 
    - O que é aquilo? - O menino indagou à mãe e apontou para os primeiros degraus da escadaria do cais. 
 
    A mulher olhou atentamente. 
 
    - Parece formigas. 
 
    Aos poucos outras pessoas também viram. Formigas! Muitas formigas! Algumas pessoas correram para a Praça. Outras correram em direção ao cais para ver o que estava acontecendo. Uma correria começou. Uma gritaria também. Formigas já tomavam toda a orla. Eram enormes. Pretas e vermelhas. E eram milhares. Gritaria! As pessoas gritavam e corriam. 
 
    - Chamem os Bombeiros! - Gritava alguém. 
 
    - Tem que ser a Polícia Ambiental, a Sema - Dizia outro. 
 
    Então houve um grito horripilante. Uma garota havia sido picada por uma das formigas. Ela se contorceu. Sentia muitas dores. Começou a inchar a sua perna e a menina não conseguiu mais andar. Foi tomada pelas formigas. As outras pessoas correram em desespero. Outro garoto, perto do Hispano, também foi picado e logo caiu pelo chão sendo, em segundos, tomado pelas formigas. Desespero total. Outra garota perto da Marinha, um homem perto do cais e as formigas se multiplicavam e tomava toda a Praça. 
 
    As pessoas fugiram. Correria para todos os lados. Mesas derrubadas pelo calçadão. Bares invadidos pelas formigas. Em fração de minutos e tudo estava destruído nas proximidades da Praça Barão. Árvores sem suas folhas, pessoas que foram picadas e cobertas de formigas logo viraram pó. 
 
    Os Bombeiros chegaram e se preparavam para abrir os seus extintores. As formigas voltaram para o único lugar onde apareceram. Em fração de minutos não haviam mais nenhuma formiga. Apenas os seus rastros e a mortandade deixada por elas. 
 
    - Deve ter morrido umas dez pessoas - Disse alguém. 
 
    - Meu Deus! - Exclamou um senhora - O que foi isso? 
 
    - Formigas! - Foi a única resposta naquele momento. 
 
    A lua no céu parecia sorrir com tudo aquilo, mas era apenas impressão das poucas pessoas que conseguiram olhar para cima naquela sexta-feira na Praça Barão. Encostado no Marco do Jauru um homem observava. E, se ninguém notou a sua presença durante a correria, ele sorria. Um sorriso malicioso. 
 
Continua... 
 
Conto: Odair José, Poeta Cacerense

segunda-feira, 9 de maio de 2022

O Pipoqueiro da Unemat

 
    Todas as noites, religiosamente, quando havia aulas na Unemat, o senhorzinho estava lá com seu carrinho de pipoca. De longe já sentíamos o cheiro da pipoca sendo estourada. Tinha de sal e tinha de doce. 
    Naqueles tempos ninguém notava, mas o senhorzinho com seu carrinho de pipoca era parte integrante do Campus Jane Vanini. Então veio a pandemia. Dois anos sem aulas presenciais até a volta. Tudo novo, às máscaras ainda a fazerem parte do cotidiano. O Campus em reforma. No pátio se vê vários vendedores de salgados. Mas, o que não se vê mais é o senhorzinho com seu carrinho de pipoca. 
    Sentado próximo ao local onde ele, costumeiramente, encostava o seu carrinho, ouço comentários sobre ele. Alguém dissera que ele morrera. 
    - Covid? 
    - Não sei. 
    Silêncio. 
    - É, meu amigo. Sinto falta daquelas pipocas tão saborosas com bacon que ele fazia. 
    - Sinto falta é da sua alegria contagiante. Ele sempre tinha boas histórias para contar. 
 
Conto: Odair José, Poeta Cacerense

segunda-feira, 2 de maio de 2022

Procura

A sua procura tem que ir em busca da procura de Deus e a procura de Deus tem que vir em busca da sua procura! 
 
Pensamento: Odair José, Poeta Cacerense

segunda-feira, 25 de abril de 2022

Luta

Levanto-me todas as manhãs e sei que será mais um dia de luta. Tenho que lutar e não temer as adversidades. Maior é o que está comigo do que o que está no mundo.

Pensamento: Odair José, Poeta Cacerense

sábado, 23 de abril de 2022

O que é importante

"A verdade tem a ver com honestidade, a paixão, engajamento e simpatia. O importante não é o destino que uma pessoa recebe, mas como ela encara a vida que tem!" 
 
Pensamento: Odair José, Poeta Cacerense

sábado, 9 de abril de 2022

Amor e temor a Deus

Precisamos amar a Deus e não ter medo dEle. 
Se O amarmos de todo nosso coração não precisamos temê-lo porque o seu amor excede todo entendimento! 

Pensamento: Odair José, Poeta Cacerense

quinta-feira, 7 de abril de 2022

As histórias da velha figueira

    Na Unemat, Campus Jane Vanini em Cáceres, existe uma figueira bem mais antiga do que o próprio campus universitário. Essa figueira já viu de tudo que você possa imaginar. E, ela resolveu me contar boa parte de suas histórias. Permitiu-me compartilhar as suas aventuras e segredos que ela guarda durante muitos anos. 
    Não se assustem, apenas permitam-se serem conduzidos ao universo dessa Opuntias brasiliensis que resolveu escancarar muitas histórias acumuladas durante muito tempo. Então venha comigo e revelar-te-ei as histórias da velha figueira. Em breve aqui no blog! 
 
Sinopse: Odair José, Poeta Cacerense
Imagens: Odair José, Poeta Cacerense

quarta-feira, 6 de abril de 2022

O estudante da Unemat

    Um jovem estudante de Medicina do Campus Jane Vanini se vê envolvido em uma trama mortal na cidade de Cáceres. Até onde vai o limite entre a realidade e o sobrenatural? Você não pode perder essa trama no novo conto do Poeta Cacerense. 
    Em breve! 
 
 Sinopse: Odair José, Poeta Cacerense

segunda-feira, 4 de abril de 2022

Melhor falar a verdade

    Ela olhou silenciosamente para ele. Não precisava dizer nenhuma palavra. Ele a compreendia apenas vendo o seu olhar. Ela não estava nada satisfeita. Teria sido uma noite mal dormida? Será que a conta de luz não havia sido paga? Diabos! Como saber? Difícil entender a sua personalidade. O tempo é cruel com quem tem medo das coisas e tão assustador. Como sobreviver neste mundo dessa forma? 
    - Não vai dizer nada? - Resolveu quebrar o silêncio. 
    - Preciso? - Ela continuava com o semblante fechado. 
    - Olha! - Gaguejou no início - Eu sei que devo desculpas, mas... 
    - Mas o quê? - Interrompeu-o - Você acha que isso tem justificativa, isso que você fez? 
    - Depende... 
    - Depende? - Quase gritou - Você não tem é vergonha na cara dizer uma coisa dessa. - Deixou escapar um suspiro - Depende!! 
    - Tá vendo... - Disse ele. 
    - Tá vendo o quê? 
    - Você não me deixa explicar. Quer que faça o quê? 
    Ela olhou para ele. Estava uma fera. Inquieta andou pela pequena sala. Foi até a janela e ficou, por algum tempo, olhando a paisagem lá fora. O dia estava frio e chuvoso. Respingos na vidraça revelava isso. Sabia que estava ventando porque viu o balançar das folhas das árvores. 
    - Posso explicar? - Ele se aproximou e também olhou pela janela. 
    - Como você vai explicar o inexplicável? - Continuava olhando o tempo chuvoso lá fora. - Por acaso o mundo é um lugar confiável? 
    - Não! Não é. 
    - Então... - Sua voz agora era mais calma - Tente explicar. Mas saiba você que será a última vez que vou escutar. 
    - Não foi culpa minha... 
    Interrompeu-se ao ver o olhar dela. Um furacão de último nível era menos aterrorizante. Era melhor falar a verdade de uma vez. 

Conto: Odair José, Poeta Cacerense

terça-feira, 22 de março de 2022

Ele está com você!

    “Guiará os mansos retamente; e aos mansos ensinará o seu caminho” (Sl 25.9). Dois grandes atributos de Deus são ressaltados nesse poema. No primeiro deles, o Senhor é um seguro Guia. Ele nos conduz por caminhos verdejantes (Sl 23.2); por águas tranquilas (Sl 23.2); por caminhos certos (Sl 23.3) ; mesmo nos vales escarpados da dor não abandona os seus filhos, mas protege e dirige-os (Sl 23.4) . Ele está com você em qualquer circunstância. No segundo atributo, Ele é o Mestre, que ensina a sua vontade. Os que temem ao Senhor aprendem com Ele o caminho que devem seguir (Sl 25.12). Essas duas qualidades são indissociáveis, uma vez que o mestre é um guia. Permita que o Senhor seja o seu Mestre e Guia eternamente.

Odair José, Poeta Cacerense

sábado, 19 de março de 2022

Cultive a paz!

Cultive a paz! Ah, se soubéssemos o quanto é bom termos paz, daríamos mais valor a esse estado de espírito. Quantas pessoas morrendo pelo mundo por causa de conflitos e guerras sem sentido algum. Por isso, devemos valorizar a paz. 

Odair José, Poeta Cacerense

segunda-feira, 14 de março de 2022

Decisão

"A melhor coisa na vida é poder pensar de forma clara e meditar silenciosamente antes de tomar qualquer decisão. Isso nos ajuda a escolher o melhor caminho."

Odair José, Poeta Cacerense

segunda-feira, 7 de março de 2022

Confiável!

"A vida pode nos trazer sérios desafios, situações que não desejamos e dores que nos tirem a paz. Não sabemos o que fazer. Mas, se confiarmos inteiramente no Senhor, Ele nos ajudará, Ele não é previsível, mas é confiável. Portanto, vamos confiar no nosso Deus e deixá-lo agir em nosso favor. A nossa oração deve ser: "Senhor, encoraja-nos enquanto esperamos em Ti."

Odair José, Poeta Cacerense

quinta-feira, 3 de março de 2022

Legado

"Quer deixar um legado duradouro da sua vida? Dedique-a totalmente a Deus!"

Odair José, Poeta Cacerense

quarta-feira, 2 de março de 2022

Arrependimento

"Se não houver arrependimento, não haverá mudança de vida e a pessoa continuará no pecado, consequentemente, na miséria do mundo e na escravidão do pecado." 

Odair José, Poeta Cacerense

terça-feira, 1 de março de 2022

Acredite!

Não pense que não é capaz. Nunca pense assim. Acredite que você pode alcançar os seus objetivos. Apenas acredite! Deus está com você e Ele te sustenta com suas mãos poderosas! Apenas creia! 

Odair José, Poeta Cacerense