Ela olhou silenciosamente para ele. Não precisava dizer nenhuma palavra. Ele a compreendia apenas vendo o seu olhar. Ela não estava nada satisfeita. Teria sido uma noite mal dormida? Será que a conta de luz não havia sido paga? Diabos! Como saber? Difícil entender a sua personalidade. O tempo é cruel com quem tem medo das coisas e tão assustador. Como sobreviver neste mundo dessa forma?
- Não vai dizer nada? - Resolveu quebrar o silêncio.
- Preciso? - Ela continuava com o semblante fechado.
- Olha! - Gaguejou no início - Eu sei que devo desculpas, mas...
- Mas o quê? - Interrompeu-o - Você acha que isso tem justificativa, isso que você fez?
- Depende...
- Depende? - Quase gritou - Você não tem é vergonha na cara dizer uma coisa dessa. - Deixou escapar um suspiro - Depende!!
- Tá vendo... - Disse ele.
- Tá vendo o quê?
- Você não me deixa explicar. Quer que faça o quê?
Ela olhou para ele. Estava uma fera. Inquieta andou pela pequena sala. Foi até a janela e ficou, por algum tempo, olhando a paisagem lá fora. O dia estava frio e chuvoso. Respingos na vidraça revelava isso. Sabia que estava ventando porque viu o balançar das folhas das árvores.
- Posso explicar? - Ele se aproximou e também olhou pela janela.
- Como você vai explicar o inexplicável? - Continuava olhando o tempo chuvoso lá fora. - Por acaso o mundo é um lugar confiável?
- Não! Não é.
- Então... - Sua voz agora era mais calma - Tente explicar. Mas saiba você que será a última vez que vou escutar.
- Não foi culpa minha...
Interrompeu-se ao ver o olhar dela. Um furacão de último nível era menos aterrorizante. Era melhor falar a verdade de uma vez.
Conto: Odair José, Poeta Cacerense
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