Havia uma febre em teus olhos antes mesmo do primeiro toque.
Um ímã silencioso que me puxava para o território proibido de tua pele.
Não era o amor que me guiava, mas o desejo bruto — esse animal cego que se alimenta de suor e silêncio.
Tuas mãos eram oráculos, adivinhavam o que eu não ousava dizer.
E quando roçaram minha pele, o mundo desabou em carne e fogo.
Nada mais havia além do roçar de tua boca, da respiração entrecortada,
da promessa úmida que teus lábios riscavam em mim.
Era um rito, não um encontro.
Era a vertigem de me perder inteiro para que tu me devolvesses em pedaços.
Cada carícia era um corte, cada gemido um selo secreto,
e o tempo, cúmplice cruel, alongava cada segundo como se o instante fosse eterno.
Deliciar-me em teus carinhos era morrer e nascer em ondas.
Era ter a certeza de que nenhum outro toque seria capaz de me reconstruir.
Porque em teu corpo eu não encontrava apenas prazer,
mas um abismo —
e eu, insano, desejava sempre cair mais fundo.
Conto: Odair José, Poeta Cacerense
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