sábado, 30 de dezembro de 2023

Mel e Pimenta

    Essa história teve seus desdobramentos em uma pequena vila chamada Lambari no interior de Mato Grosso nos anos 80. O que me lembro desse período sempre me vem em fragmentos. Eu era ainda muito jovem e muita coisa se perdeu com o tempo. Dessa forma, se alguma coisa não puder ser confirmada pelos que viveram naquela época, não é culpa minha. 

    Valdir, mais conhecido na época por Pimenta (não sei se por causa de algum fato em particular) era um jovem negro criado pelos afagos da avó, (seus pais haviam morrido em um acidente quando ainda era um bebê) enfrentava uma vida de privações. Sua casa modesta era marcada pela falta de recursos, mas a avó, uma mulher de sorriso marcante e coração generoso, era sua fonte constante de apoio. No entanto, o jovem Pimenta, rebelde por natureza, encontrava na escola um terreno fértil para suas confusões. As salas de aula eram palcos de suas travessuras, e os professores, muitas vezes impotentes diante de seu espírito indomável. A vida de Pimenta na escola era uma constante batalha. Rebelde e indisciplinado, ele encontrava maneiras de desafiar as normas estabelecidas. A sala de aula muitas vezes se transformava em um terreno fértil para suas brigas, rendendo-lhe a fama de aluno problemático entre professores e colegas. 

    Do outro lado da vila, (cabe dizer que na época, a vila era praticamente de uma rua só, a principal que se chamava Boa Vista) Melissa, era a filha única de uma família tradicional, que vivia em um mundo de estudos e sonhos. Sua beleza singela encantava a todos, mas era sua dedicação aos livros que a destacava. Os pais de Mel, (assim ela era conhecida por todos) respeitados na comunidade, sonhavam com um futuro grandioso para a filha, imaginando-a como uma médica renomada que elevaria o nome da família. Eles dedicavam tempo a jovem menina porque tinham planos ambiciosos para ela, sonhando com um caminho acadêmico sólido que a levaria a se tornar uma médica de renome. 

    Mas, nem sempre a vida acontece da forma que planejamos. O destino, por vezes surpreendente, cruzou os caminhos desses dois jovens de mundos totalmente opostos. Um encontro casual revelou uma conexão instantânea, transcendendo as barreiras sociais que os separavam. O amor, surgindo inesperadamente, tornou-se o fio condutor de uma história destinada a desafiar convenções. Como quase sempre acontece na história da humanidade e não se pode explicar, uma tarde, por acaso, seus olhares se encontraram, e algo mágico aconteceu. Entre as diferenças que os separavam, uma faísca de conexão surgiu, desencadeando um amor improvável, mas poderoso. Cabe ressaltar aqui que suas vidas colidiram em um momento improvável, criando uma conexão que transcendia as barreiras sociais. Apesar das diferenças evidentes em suas origens, uma poderosa atração floresceu entre eles, desafiando as expectativas da sociedade que os cercava. 

    Contudo, o relacionamento entre Mel e Pimenta enfrentou resistência. A maioria das pessoas que viviam na vila, naquela época, estavam imersas em tradições e preconceitos, e viam com desconfiança o casal improvável. A família de Mel, presa à sua reputação, opunha-se categoricamente ao romance, lançando desafios que testariam a força do amor entre os dois jovens (dizem, não posso provar, que até encomendar a morte do rapaz foi cogitado pelo pai). O idílio do jovem casal apaixonado não foi recebido com aceitação pelas pessoas de bem que viviam na vila. Preconceitos enraizados e a rigidez das tradições locais tornaram-se obstáculos formidáveis para o casal. A família de Mel, em particular, via o relacionamento com total desconfiança, temendo que a reputação da família fosse manchada pela união inaceitável. 

    Mesmo diante de preconceitos e impedimentos, Mel e Pimenta escolheram seguir o caminho do coração. Seu amor tornou-se uma chama ardente que desafiava as expectativas e acendia a esperança em meio às adversidades. O jovem, inspirado pela perseverança de sua avó e guiado pelo amor, buscou superar as expectativas negativas. Por outro lado, Mel, que sempre sonhara em quebrar barreiras no campo da medicina, encontrou em seu relacionamento com Pimenta uma oportunidade de desafiar as normas sociais. Juntos, aprenderam a enfrentar os olhares tortos, as palavras maldosas e as barreiras sociais, construindo um refúgio onde podiam ser verdadeiramente eles mesmos. Movidos pelo amor, alimentados pela resiliência e pela determinação, enfrentaram desafios consideráveis. 

    A trajetória de Mel e Pimenta não foi apenas uma história de amor, mas uma narrativa de resistência e superação. Enquanto Mel buscava a realização de seus sonhos acadêmicos, Pimenta encontrava no amor uma força transformadora que o guiava a um caminho mais disciplinado. Enquanto a moça desafiava as expectativas de sua família e comunidade, Pimenta encontrava na paixão por ela uma motivação para canalizar sua rebeldia de maneira mais construtiva. O amor deles, apesar dos obstáculos, tornou-se um exemplo de coragem e resistência. À medida que os anos passavam, a vila testemunhou não apenas um romance improvável, mas uma transformação silenciosa nas mentalidades. Mel e Pimenta, através de seu amor inquebrável, desafiaram as normas sociais e inspiraram uma comunidade a repensar seus preconceitos. 

    Mel e Pimenta, com seu amor resiliente, tornaram-se agentes de mudança, desafiando estereótipos e inspirando outros a questionar as normas sociais. O que começou como uma história improvável na década de 80 se transformou em um legado de coragem e determinação que ecoou pelas gerações seguintes. A história de Mel e Pimenta não foi apenas sobre o amor entre dois corações, mas sobre a capacidade de transcender as barreiras impostas pela sociedade e forjar um caminho próprio. Sua jornada provou que, mesmo nas circunstâncias mais desafiadoras, o amor verdadeiro pode florescer e iluminar os corações mais sombrios. 

    Para ser sincero, não sei o que aconteceu com esse casal depois que me mudei para Cáceres nos anos 90. Nunca mais soube deles e qual foi a trajetória final deles. Tento imaginar uma família bem sucedida com filhos e, quem sabe, até netos nessa altura do campeonato. No entanto, para este que vos conta essa história, o que vale mesmo é saber que o amor pode acontecer em qualquer lugar e situação. O que vale mesmo é viver o amor quando ele acontece na sua intensidade. Só o amor pode vencer preconceitos e tradições. Só o amor pode acender a luz do nosso coração. 

Conto: Odair José, Poeta Cacerense

domingo, 19 de novembro de 2023

A amante dos livros e o escritor

    Camila sempre teve uma paixão inabalável por livros. Desde criança, os mundos imaginários contidos nas páginas de histórias fascinavam sua mente curiosa. Ela frequentava a biblioteca regularmente e devorava cada palavra que encontrava. Sua vida pacata mudou quando, por acaso, ela conheceu Miguel, um escritor renomado que frequentava o mesmo café onde ela costumava ler. 

    Miguel, com seus quarenta e poucos anos, era um homem experiente, mas sua alma ainda pulsava com a paixão pela escrita. Seus olhos encontraram os de Camila em uma tarde ensolarada, enquanto ela folheava um romance clássico. O olhar de Miguel foi atraído pela intensidade e beleza da jovem amante de livros, e uma conexão especial começou a se formar. 

    A diferença de idade entre eles era evidente, mas isso não impediu que a amizade crescesse. Camila, com sua juventude vibrante, trouxe uma nova energia para a vida de Miguel, enquanto ele, com sua experiência, ofereceu a ela uma visão mais profunda sobre a vida e a arte da escrita. Os dois compartilhavam longas conversas sobre livros, ideias e sonhos, encontrando inspiração mútua. 

    A paixão de Camila por livros e o entusiasmo de Miguel pela escrita se tornaram a base de um amor que florescia dia após dia. Ele começou a encontrar inspiração em cada detalhe da vida dela, transformando suas experiências em histórias que cativavam os leitores. Camila, por sua vez, via Miguel como o herói de suas próprias histórias, um homem que a compreendia de uma maneira que poucos conseguiam. 

    O tempo passou, mas a chama entre eles só se intensificou. Juntos, exploraram o mundo literário e viveram uma história de amor que transcendeu as barreiras do tempo e da idade. Camila, mesmo jovem, tornou-se uma musa para Miguel, inspirando-o a escrever com mais paixão e profundidade. Suas experiências compartilhadas transformaram-se em narrativas emocionantes que tocavam os corações dos leitores. 

    A sociedade podia questionar a diferença de idade, mas para Camila e Miguel, o amor que compartilhavam era uma fonte de força. Eles aprenderam que a verdadeira inspiração não conhece limites, e o vínculo que criaram se tornou uma prova viva de que a paixão pela vida e pela arte pode transcender qualquer barreira. 

    Dessa forma, a jovem amante de livros e o escritor mais experiente continuaram a escrever sua própria história de amor, uma história que ecoaria nas páginas dos livros que ambos tanto amavam. E, enquanto o tempo seguia seu curso, a inspiração entre eles permanecia, alimentando a chama que queimava eternamente. 

Conto: Odair José, Poeta Cacerense

segunda-feira, 13 de novembro de 2023

Tentação

    José era um jovem forte e esbelto. Simpático até demais, dizia sua mãe. Era sempre atencioso e dedicado a sua sua família. Cuidava da mãe com todo carinho e dedicação como havia feito com seu pai antes de sua partida, antes do tempo, por causa de um infarto. Era sempre muito carinho e, até mesmo cuidadoso, com a irmã menor que costumava brincar bastante. Dedicado na Igreja, onde participava com muita influência, do conjunto de jovens e era, também, bastante cobiçado pelas moças do conjunto. Afinal, diziam as mulheres mais velhas para as filhas, aquele é um jovem para casar. 
 
    José acabara de completar seus 18 anos e terminava os estudos no Ensino Médio já se preparando para adentrar à Universidade. Havia escolhido o Curso de História, primeiro porque gostava muito da História, principalmente da História de Israel, segundo porque era um curso noturno e ele tinha que trabalhar durante o dia para ajudar a sua família. Por esse motivo estava bem motivado a fazer o Curso de História. 
 
    Naquele dia ele chegou em casa bem cansado do trabalho. Estava trabalhando de ajudante de pedreiro enquanto não surgia algo fixo para fazer. O sol dos últimos dias não estava ajudando. Uma onda de calor tomava conta de tudo. Efeito do El Ninho, ouvia dizer no noticiário. Mas, sabia que, no fundo, é culpa do próprio ser humano que desmatou todas as árvores. Antes de sentar na cadeira de fio na varanda a mãe saiu da cozinha com um olhar de felicidade: 
    - Você não vai acreditar! 
    - O que aconteceu? 
    - Você conseguiu um emprego! 
    Recebeu da mão da mãe o papel. Era uma oportunidade de entrevista para trabalhar de atendente em uma loja de materiais elétrico. 
 
    O dono da loja era já um senhor de idade. Provavelmente na casa dos 60 anos. Pelo menos foi isso que José conseguiu identificar. O senhor, um tanto sistemático mostrou-lhe a loja, as prateleiras e os estoques. 
    - Você ficará a maior parte do tempo aqui. Quando minha esposa não puder atender no caixa, ai você dá uma mão para ela - Disse o senhor. 
 
    José chegou cedo para o seu primeiro dia de trabalho. Estava feliz porque agora teria um salário razoável e não ia ter que se expor naquele sol escaldante. Teria até mesmo tempo de estudar em algumas hora quando o atendimento fosse menor. Estava absorto em seus pensamentos quando a porta da loja se abriu e uma linda mulher surgiu diante dele. 
    - Você é o José? - Indagou a jovem mulher olhando-o de cima abaixo. 
    - Sim! 
    - Eu sou a Samanta, esposa do Gervásio. Vamos trabalhar juntos. 
 
    Gervásio era o dono da loja. Samanta não passava dos 25 anos. Essa foi a impressão de José. Ele não se sentiu nada confortável com a presença dela. Era muito bonita e usava roupas bem decotadas. Na verdade, não queria reparar mas acabou reparando que ela estava com um vestido bem curto e colado ao corpo. Uma tentação! Foi o que passou pela sua mente. Ela, por sua vez, pareceu ter notado o desconforto do jovem e emendou: 
    - Hum! Você é bonitão, né? 
 
    Alguns dias se passaram sem muitas novidades. No final do mês, Gervásio chamou o jovem no escritório. 
    - Rapaz! - Disse o senhor após uma breve pausa depois de ter fixado o olhar no jovem - Melhorou bastante as vendas! Acho que você tem o talento para vendas. Boa parte da clientela está elogiando o seu trabalho. Continue assim. 
    - Obrigado senhor! 
    - E a Samanta? 
    A pergunta o pegou desprevenido. Não esperava aquele tipo de pergunta. O que tem a Samanta? O que ele quer saber sobre a sua esposa? 
    - Não entendi a pergunta. O que tem ela? 
    - Eu que te pergunto: O que tem ela? 
    - Não sei senhor. O que o senhor quer saber exatamente? 
    - Ela é muito gostosa, né? 
    José ficou rubro. Não esperava esse tipo de abordagem. O que será que esse senhor está querendo. 
    - Calma jovem - disse ele soltando uma gargalhada - Estou só brincando com você! 
    Nunca tinha visto o velho sorrir. Sempre sério. As vezes passava dias sem ir na loja. Samanta chegou a dizer que ele cuidava de outra loja e que preferia estar sempre por lá: 
    - Acho que ele está comendo a empregada que trabalha lá, só pode! 
 
    Era uma tarde monótona. Fim de mês e o movimento da cidade vai caindo aos poucos. José arrumava o estoque da loja quando Samanta saiu da porta dos fundos onde dava para a casa do casal que ficava próximo à loja. Vestia um vestido bem curto, curto até demais, e bem colado ao corpo. Era muito sensual, mas agora extrapolava todos os bons costumes. Fez questão de passar quase roçando nele, mesmo havendo outros espaços para ela passar. Talvez para o provocar ou para que sentisse o delicioso perfume que exalava de seu corpo recém saído do banho. O coração acelerou, as pernas tremeram e o pacote de fios caíram de suas mãos. 
    - Deixa que eu pego! - Disse ela quando José fez o movimento para se abaixar. 
    Ele, quase sem movimento, viu ela se abaixar para pegar o pacote de fios no chão o que fez com que avistasse a sua intimidade. A cor do pecado foi o que avistou bem diante de seus olhos estáticos. 
    - O que foi? - Ela indagou ao se levantar e se aproximar dele, roçando-o novamente - Parece que viu um fantasma. 
    Antes que pudesse dizer alguma coisa ela emendou: 
    - Não se preocupe, eu não mordo - Fez uma pequena pausa e completou - a não ser que você queira! 
 
Continua...

domingo, 8 de outubro de 2023

Crônicas de ontem a noite (Parte III)

    Filmes de terror tem a sua magia. Primeiro eles te prendem quase que o tempo todo. É inevitável o calafrio na barriga ao ver a noção de perigo que os personagens estão passando. Parece que você quer avisar para não entrar naquele beco, ou não ir ver o que está escondido no escuro da mata. Mas, não adianta. A vítima sempre vai a esses lugares. É impressionante o quanto você pode fazer uma alusão com a própria vida que vivemos. Será que não corremos esse tipo de perigo o tempo todo? Será que conhecemos a pessoa que está sentada ao nosso lado? Quem garante que não é um psicopata assassino que pode nos esfaquear na menor bobeada que demos? Esses eram o tipo de pensamento que passava em sua cabeça enquanto o filme rolava na tela. Vez ou outra a garota dava um suspiro e encostava nele como se o quisesse abraçar e sentir a sua proteção. Curioso isso e talvez ela tenha se contido um pouco mais depois que dissera que não gostava de conversar durante o filme. Não gostava mesmo, mas não devia ter dito isso a ela na primeira vez que ia assistir um filme com ela. Ou deveria? Sua mente estava confusa. Sentia-se um adolescente naquele cinema. Aliás, a maioria das pessoas assistindo esse filme era adolescente. Outra coisa que não conseguia entender. Por que adolescentes são fascinados por filmes de terror? Quanto mais violento e sanguinário, mas eles se divertem. Deve ser por isso que a sociedade está tão violenta. Estava absorto em seus pensamentos que só voltou a si no momento em que ela o abraçou toda arrepiada. "Nossa! Isso me deu medo". Sentiu o seu cheiro outra vez e o toque suave de sua pele tão macia. Uma beldade. Sorriu para ela. "Isso é assim mesmo". "Você não tem medo? Não se assusta?" Ela fez as perguntas com uma voz bem baixinha e quase tocando os seus ouvidos o que o fez arrepiar-se todo. 

    Ela segurou em suas mãos ao saírem do cinema. Mesmo sentindo-se desconfortável não achou prudente soltar-lhe as mãos. Ou ela era muito ingênua e inocente ou realmente estava gostando da sua companhia e não ligava para essas coisas de preconceitos existente em nossa sociedade. Algumas jovens a cumprimentaram e acenavam para ela que sempre sorria. Algumas pessoas o cumprimentaram e ele se mantinha sério e com o semblante fechado. "Você está se sentindo a vontade?" A pergunta dela o constrangeu. Não esperava. "Sim! Estou de boa." Ela sorriu e dessa vez ele reparou em seus olhos. Eram lindos e cheios de vida. A sua alegria não era fingimento e nem improvisada. Ela realmente parecia muito feliz. A sua alegria era contagiante, singela e verdadeira. Ela estava muito feliz. Temeu por isso. Não gostaria nunca de fazer ela perder essa alegria. Mas, sempre havia decepcionado as mulheres. Sempre as fizera chorar. O que fazer agora? E se ela realmente estivesse gostando dele? Poderia correr o risco de a decepcionar também. E não queria, jamais, se sentir responsável por vê-la triste. Então, talvez o melhor seja levar ela em casa e nunca mais a ver. Mas, isso não é uma covardia? Isso não é correr do destino? Como pode pensar uma coisa dessa? "Você vai embora agora?" A pergunta dela trazia em si algumas complicações. Gostaria de ficar mais tempo com ela. De ouvi-la sorrir e contar suas histórias. Mas, e se ficasse tarde? E seus pais? "Que horas você deve chegar em casa?" Já que era assim, ia responder com outra pergunta. "Ah! Eu não tenho problema com isso não. Meus pais são de boa. Quando você quiser me levar, está bom." 

    Esse era um espaço que ela não conhecia ainda. Foi o que ele notou quando sentaram-se na petiscaria para comerem um frango frito. "Legal aqui" Disse ela ao sentar. "Nunca vim aqui". Enquanto esperavam o pedido que havia feito ela, depois de falar um pouco sobre o filme que acabaram de assistir, lhe contou alguma coisa sobre seus estudos. Estava em dúvidas do que fazer. Direito porque seus pais eram da área de Humanas. A mãe era delegada e o pai era policial. Um detalhe muito interessante que o perturbou um pouco. Psicologia porque era o que desejava fazer na vida. "Estou quase a um ano nessa dúvida. Já era para ter entrado na Faculdade, mas estou em dúvidas". A preocupação dela era em qual área seguir e a dele era em saber que ela era filha de policiais. Provavelmente da mesma idade que ele e, quem sabe, até mais novos. Isso pode dar merda. Pensou. E, por algum momento, não conseguiu disfarçar sua preocupação. "O que foi?" Ela havia notado. "Eu disse alguma coisa que você não gostou?" "Seus pais são policiais?" "Ah! Sim. Mas pode ficar de boa. Eles não são chatos a ponto de interferir nas minhas escolhas". "Devem ter a mesma idade que eu tenho ou quem sabe até menos!" "Sim! Mas o que importa isso?" "É, você tem razão." Não queria estragar a noite da garota. Ela estava tão feliz que não tinha o direito de deixá-la triste por causa de seus medos infundados. Ou será que não eram tão infundados assim? A barca de frango e batatas fritas chegou na mesa e começaram a comer. "Nossa!" Exclamou ela. "Que delícia! Como eu ainda não sabia desse lugar?" Sorriu para ela. "Posso te fazer uma pergunta?" Ela olhou para ele com aquele olhar de pura sedução. "Pode sim". "Por que se interessou por mim?". O que esperar da resposta dela? Mas tinha que fazer essa pergunta. Não é comum uma garota jovem como ela se interessar por um coroa como ele. Precisava saber senão ficaria louco. "Isso é muito óbvio!" Ela sorriu como se entendesse a angústia dele. Como se quisesse brincar com suas preocupações. "Então diga-me!" Ela olhou para ele. Agora um pouco séria e por alguns segundos que, para ele, pareceu uma eternidade sustentou o olhar fixo no dele. "Por causa dos livros!" 

Continua...

sábado, 7 de outubro de 2023

Crônicas de ontem a noite (Parte II)

    Notou que havia chegado antes dela. Antes de adentrar ao cinema para comprar os ingressos parou para observar os cartazes dos filmes na entrada do cinema. Na Praça Barão já circulava algumas pessoas naquela final de tarde onde o sol tentava não se esconder por detrás da baia do Malheiros. O Rio Paraguai agora já bastante recuperado dos dias sem chuvas deslizava suavemente em seu eterno caminhar levando as lembranças e memórias de um lugar maravilhoso. No calçadão funcionários arrumavam as mesas e cadeiras para receberem os tradicionais eventos noturnos que agradavam boa parte da elite cacerense. Voltou o seu olhar para os cartazes e observou o filme que tinha sido convidado a assistir com ela. Um leve sorriso saiu de seu rosto. Uma garota o convida a assistir um filme de terror. Isso era novidade para ele. Primeiro que sempre gostava de ir ao cinema sozinho, segundo que a maioria de seus relacionamentos anteriores sempre o julgaram por gostar de filmes de terror. Ironia do destino? 

    "Oi!" Virou-se ao ouvir aquela voz tão suave. Ela sorria e parecia querer saltar em seus próprios pés. Estava muito feliz. E bonita. "Oi! Respondeu. Deu-lhe um beijo no rosto e um abraço apertado. Sentiu seu perfume. Que delícia! Pensou. Ela exalava um perfume maravilhoso e sentiu sua pele tão macia. Só podia ser um sonho mesmo. "E ai! Está animado para passar sustos?" Sorriu para ela confirmando com a cabeça. "Vamos comprar os ingressos". Caminharam pelo corredor do cinema em direção a bilheteria. Notou que ela carregava um capacete. "Quer que eu segure para você?" Disse estendendo o braço para pegar o capacete. "Obrigada!" Ela agradeceu ao entregar-lhe o capacete. Foi então que reparou que ela usava o short. Sempre fora muito ingênuo para reparar essas coisas. Mas ela estava muito exuberante e sensual. Isso ele sempre fora bom para reparar. "Você está linda!" Ela sorriu e agradeceu. O sorriso era encantador. Notou o brilho no olhar daquela garota. Ela estava muito feliz. Deixou que ela escolhesse os lugares que sentariam no cinema e ela escolheu poltronas do fundo. Era o lugar que mais gostava de sentar para assistir filmes. "Temos pelo menos uma hora antes do filme, o que quer fazer?" Perguntou a ela. "O que você sugere?". 

    Escolheram tomar um sorvete e conversar um pouco. Agora a noite havia chegado de vez. Na Praça as pessoas transitavam em um fluxo maior e no calçadão já se notava algumas pessoas chegando para o happy hour de final de expediente. Sentaram em duas cadeiras. Ele olhava para a Praça e ela olhava para ele. O capacete ficou em outra cadeira. "Trouxe ele porque pensei que pode me levar em casa quando terminar o filme" Disse ela apontando o capacete. "Ah sim! Sem problemas!". Sério isso? Pensou consigo mesmo. Era uma intimidade que ele ainda não havia pensado existir entre eles. Como aquela garota sentia-se tão a vontade com ele? Por que? Não era um padrão normal para a sociedade. Apesar de saber que os tempos agora eram outros, muitas pessoas se sentiam desconfortáveis com situações assim. Ela, uma linda garota talvez em início da faculdade. Ele um jovem senhor já passando de meio século de vida. O que poderia acontecer entre eles? 

Continua...

sexta-feira, 6 de outubro de 2023

Crônicas de ontem a noite (Parte I)

    Os passos eram seguros. Depois de muito tempo sabia exatamente o que estava fazendo. Sabia que poderia ter o controle da situação caso precisasse e isso nem sempre foi assim. Mas, agora, depois de tudo que havia passado, sabia que poderia contar com sua experiência nesse tipo de situação. Ao caminhar pelas ruas movimentadas de fim de tarde pode notar a correria do dia a dia das pessoas. Sabia que ninguém ou quase ninguém dava a mínima pelo que passava em seus pensamentos. Nessa correria, pensava consigo mesmo, cada um só se preocupa com suas própria vidas. Que assim seja. Era bem melhor ser assim mesmo. 

    Pensou em um detalhe que ainda não tinha pensado. O que era que essa menina, por assim dizer, queria com ele. Pensou "menina" porque se tratava de uma moça bem nova para a sua idade. Não havia perguntado a ela, mas não passava dos 20 anos, no máximo. Para ele era uma "menina". Abriu um leve sorriso ao pensar em um fato curioso que havia acontecido na noite anterior. Ela havia lhe enviando uma mensagem: "Posso te fazer uma pergunta?" Ela não havia percebido, mas isso já era uma pergunta. "Sim" respondeu. Então, poucos minutos depois recebeu duas imagens. Em uma delas ela estava vestido com uma blusa e um short preto. Na outra ela usava uma blusa rosa e uma minisaia azul. Ambas as roupas realçava bem suas pernas e a deixava bem sensual. "Qual você acha que devo usar?". 

    Era isso que ele não entendia e nunca havia gostado em todos os seus antigos relacionamentos. Essa ideia de se vestir para o outro. Ora bolas, vista a roupa que se sinta melhor. Mas não podia dizer isso a ela. Era apenas uma jovem recém saída da adolescência. A maioria das jovens têm essa mania de querer saber com qual roupa ir a um encontro. "Qualquer uma das duas, você está bonita com qualquer uma delas". Respondeu. "Ah! Vai, escolhe uma!" Que situação! E se isso fosse um teste? Uma jovem ir ao cinema com um homem mais velho já é mal visto pela sociedade. Ela tinha idade para ser sua filha. Ir de minissaia ainda poderia ser pior. "Vai de short!". "Obrigado! Até amanhã! Bjos!" Emojis de beijinhos e corações. 

Continua...

sexta-feira, 29 de setembro de 2023

O dia em que roubaram o Marco do Jauru

    Em uma bela manhã de domingo, o sol nasceu dourado e o céu exibia um azul claro sem igual. Mas esse não seria um domingo comum. O assombro tomou conta dos habitantes quando a notícia começou a se espalhar pelas ruas e becos da cidade: o Marco do Jauru havia sumido! 
 
    Em Cáceres, uma cidade histórica no estado de Mato Grosso, os habitantes tinham no Marco do Jauru um dos seus maiores símbolos, representando a memória de tempos antigos e a bravura dos exploradores que ali estiveram. De pé na Praça Barão do Rio Branco, ele era um marco da União Ibérica entre os Reinos de Portugal e Espanha e uma fonte de orgulho para os cacerenses. 
 
    Agora, nesta manhã atípica de domingo, as pessoas se aglomeravam em volta do espaço vazio onde o marco estava. Havia sinal de escavação no local, mas nada de marco. Os mais velhos não conseguiam esconder a tristeza em seus olhos. Muitos pensavam que era uma brincadeira, mas a realidade era dura: alguém havia levado o Marco do Jauru. 
 
    A Polícia foi acionada e uma investigação em larga escala começou. Imagens de câmeras de segurança, testemunhas, tudo estava sendo usado para rastrear o possível culpado. Mas os dias passavam e nenhuma pista concreta aparecia. Apenas a imponente Igreja Matriz parecia sorrir de tamanha façanha. Quem olhava para sua paredes cinzas e suas janelas acreditava que a Igreja sabia exatamante o que tinha acontecido. 
 
    Enquanto a polícia investigava, um movimento popular ganhava força. Os cacerenses decidiram fazer uma vigília na praça, no local onde o Marco ficava. As noites eram iluminadas por velas e as manhãs, por esperança. A cidade, unida como nunca, clamava pelo retorno do seu símbolo. 
 
    E foi em uma dessas noites, enquanto todos se reuniam, que uma velho caminhão surgiu, estacionando perto da praça. De dentro dele, emergiram alguns jovens, e não tinham os semblantes alegres. Pareciam bem assustados. Eram eles! Eles estavam trazendo o Marco do Jauru de volta! 
 
    Após serem cercados pela multidão, os jovens, um tanto assustados, começaram a contar sua história, um tanto cabulosa, difícil até de acreditar: eles eram estudantes de arqueologia e tinham "emprestado" o marco para um projeto na universidade. Pensavam que ninguém notaria sua falta por um curto período de tempo. Contudo, ao perceberem a comoção que haviam causado, decidiram trazê-lo de volta imediatamente. Depois de muita labuta e com a juda de um grande guincho, colocaram o munumento no lugar. 
 
    A raiva inicial deu lugar à compreensão e a cidade celebrou o retorno do seu símbolo. Os jovens, apesar de terem agido sem pensar, tinham devolvido o marco e foram convidados a dar uma palestra sobre a importância histórica do Marco do Jauru para a nova geração de cacerenses. Afinal, para boa parte da população, a audácia com que os larápios levaram o monumento sem ninguém perceber era algo extraordinário. 
 
    A cidade, agora mais do que nunca, valorizou seu patrimônio e a união de sua gente. O Marco do Jauru, mais que um pedaço de pedra, tornou-se um símbolo de resistência, memória e orgulho cacerense. E a cidade aprendeu que, unidos, poderiam enfrentar qualquer desafio. 
 
Conto: Odair José, Poeta Cacerense

quinta-feira, 7 de setembro de 2023

O dia que choveu cinzas em Cáceres

    A cidade de Cáceres, com sua atmosfera tranquila e história rica, foi subitamente interrompida por uma coluna de fumaça espessa e cinzas chovendo dos céus. O coração da agitação estava na baia do Malheiros. Um incêndio de proporções gigantescas estava em andamento, e logo descobriu-se que não era um acidente, mas sim um incêndio criminoso. Enquanto os bombeiros e voluntários se apressavam para controlar as chamas, uma preocupação em particular surgia em meio ao caos: uma onça pintada e seu filhote estavam em perigo, com seu habitat ameaçado pelo avanço voraz do fogo. 

    Nas ruas da cidade, enquanto as pessoas corriam em meio ao pânico, um homem destacava-se. Era o Misterioso Homem da Praça Barão. Vestido com um paletó antiquado, chapéu de aba larga e óculos escuros, ele caminhava com propósito, alheio à agitação em sua volta. O que a maioria das pessoas não sabia era que esse homem, tão conhecido e ao mesmo tempo tão enigmático, estava em Cáceres com uma missão. E essa missão o levou diretamente a um dos antigos casarões da cidade. Sem hesitar, ele entrou, fechando a porta atrás de si. 

    Dentro da construção, o ambiente era fresco e abafado, um contraste gritante com o calor e caos externos. Com passos determinados, ele dirigiu-se a um cômodo específico. Atrás de uma estante de livros, ele pressionou uma sequência de tijolos, revelando uma passagem secreta. Lá dentro, após passar por um labirinto de corredores, ele encontrou o que buscava: um livro antigo, de capa de couro, com inscrições douradas. Dizia-se que este livro tinha o poder de realizar desejos quando lido e interpretado corretamente. Ele retirou-o cuidadosamente, posicionando-o sob o braço. 

    Retornando à cidade, ele se dirigiu ao local do incêndio. Com o livro em mãos, começou a recitar palavras em uma língua esquecida. À medida que sua voz ecoava, o vento começou a mudar de direção, levando a fumaça e o fogo para longe da área onde a onça e seu filhote estavam. Ao terminar, o Misterioso Homem da Praça Barão, sem dizer uma palavra, voltou à sua trajetória solitária pelas ruas de Cáceres, deixando para trás um rastro de esperança e mistério. 

    No fim do dia, enquanto a cidade tentava se recompor do caos, muitos se perguntaram sobre o homem e o misterioso livro. Mas, como sempre, ele havia desaparecido, assim como as cinzas que choveram sobre a cidade. E a única certeza era de que, em meio às adversidades, sempre haverá aqueles dispostos a proteger e restaurar a ordem. 

Conto: Odair José, Poeta Cacerense

segunda-feira, 28 de agosto de 2023

A busca pelo amor perfeito

    Jorge sempre sonhara em se casar. Ele queria encontrar alguém para compartilhar os altos e baixos da vida, alguém que fosse sua companheira. Ele acreditava na perfeição e buscava uma parceira que se encaixasse nos seus ideais. No entanto, sua jornada rumo ao amor perfeito revelou-se uma aventura cheia de surpresas e autodescobertas. 

    A primeira mulher por quem Jorge se apaixonou foi Luana. Ela era radiante, inteligente e tinha um sorriso que iluminava seus dias. Porém, em uma viagem à praia com amigos, Jorge percebeu que Luana tinha o hábito incomum de não lavar os pés, mesmo depois de um dia inteiro caminhando pela areia. Incomodado com isso, Jorge decidiu que não poderia continuar com ela. 

    Após algum tempo, Jorge conheceu Suellen. Ela tinha olhos profundos e uma paixão ardente pela vida. Mas, aos poucos, ele percebeu um detalhe inquietante: Suellen roía as unhas compulsivamente, até o ponto de machucar-se. Além disso, ela se mostrava paranoica em relação a diversos aspectos do dia a dia, o que levou Jorge a pensar que talvez ela não fosse a escolha certa para uma vida juntos. 

    Desiludido, mas ainda esperançoso, Jorge conheceu Letícia em uma aula de dança. Ela era graciosa, divertida e parecia ser perfeita. No entanto, durante uma viagem juntos, Jorge descobriu que Letícia tinha um ronco extremamente alto. Inseguro e desapontado novamente, ele se viu em dúvida sobre seguir adiante com o relacionamento. 

    Cansado das desilusões amorosas, Jorge decidiu fazer uma pausa e viajar sozinho por alguns meses. Ele queria encontrar-se e entender o que realmente importava em um relacionamento. Durante a viagem, Jorge percebeu que estava buscando perfeição onde ela não existia. Ele começou a entender que todos têm suas peculiaridades, e que amar alguém é aceitar essas singularidades. 

    Ao retornar, Jorge reencontrou Letícia, que ainda estava solteira. Ele a convidou para sair e, em vez de se concentrar nos defeitos, passou a valorizar as qualidades que a faziam especial. Eles riram do ronco dela, encontraram soluções e aprenderam a apreciar um ao outro como realmente eram. 

    Com o tempo, Jorge e Letícia se casaram. A lição que Jorge levou dessa jornada foi que o amor verdadeiro não se trata de encontrar alguém perfeito, mas sim de encontrar alguém que é perfeito para você, com todas as suas peculiaridades e defeitos. 

Conto: Odair José, Poeta Cacerense

quarta-feira, 23 de agosto de 2023

O Amor Proibido de Antony e Júlia

    Em uma cidade chamada Maniqueia, onde as forças do bem e do mal estavam em constante luta, viviam Antony e Júlia. A cidade era dividida entre o reino luminoso de Lumina, liderado pela benevolente Rainha Serena, e o reino sombrio de Tenebra, governado pelo cruel Lorde Sombrio. 
 
    Antony, um jovem e valente guerreiro de Lumina, era conhecido por seu coração puro e sua dedicação ao bem. Ele era o protetor de Maniqueia, sempre na linha de frente da luta contra as forças do mal. Júlia, por outro lado, era a filha de Lorde Sombrio, destinada a seguir os passos sinistros de seu pai. 
 
    Em uma noite enluarada, durante uma missão secreta em Tenebra, Antony encontrou Júlia chorando às margens do rio que dividia as duas terras. Ele se aproximou, movido por uma curiosidade e empatia inexplicáveis. Júlia, surpresa por não ter sido atacada, olhou em seus olhos e viu uma bondade que nunca tinha presenciado em sua vida. 
 
    Eles começaram a se encontrar secretamente, sob a luz da lua, compartilhando sonhos e desejos. Antony ensinou a Júlia sobre o amor, a compaixão e a esperança. Em troca, ela lhe mostrou que nem todos em Tenebra eram maus; muitos estavam simplesmente presos sob o domínio de seu pai. 
 
    Mas o amor deles não era bem-visto. Lorde Sombrio, ao descobrir sobre esses encontros, lançou uma maldição sobre Antony, aprisionando-o em uma caverna onde a luz nunca penetrava. Ele queria fazer Júlia esquecer Antony e assumir seu lugar ao seu lado no trono de Tenebra. 
 
    Desesperada, Júlia procurou a Rainha Serena, buscando ajuda. Serena, tocada pelo amor puro e verdadeiro entre os dois, deu a Júlia uma pedra mágica capaz de quebrar qualquer maldição. Mas havia um preço: ao usar a pedra, Júlia perderia todas as suas lembranças de Antony. 
 
    Armada de coragem e determinação, Júlia enfrentou os guardas de seu pai, chegou à caverna e libertou Antony. No entanto, conforme a maldição foi quebrada, as memórias de Júlia sobre Antony desapareceram. 
 
    Mesmo sem lembrar de Antony, Júlia sentia um vazio em seu coração. Ela decidiu deixar Tenebra e se juntar ao reino de Lumina, buscando uma nova vida e esperando que seu coração encontrasse o que estava perdido. 
 
    Anos depois, em uma tarde ensolarada, Júlia e Antony se cruzaram em um mercado de Lumina. Eles não se reconheceram de imediato, mas os corações de ambos pulsaram mais forte. E, como se o destino estivesse guiando seus passos, eles se apaixonaram novamente, provando que o verdadeiro amor sempre encontra o seu caminho de volta. 
 
Conto: Odair José, Poeta Cacerense

sábado, 12 de agosto de 2023

Memorial de Leitura Sob a Árvore

    O sol projetava raios dourados através dos galhos da antiga árvore, criando sombras ondulantes no chão coberto por folhas caídas. Era um carvalho majestoso, com tronco espesso e folhagem densa que dava sombra a um pequeno espaço gramado embaixo dele. O local era uma reminiscência do passado, o playground da imaginação de muitos jovens que ali cresciam e sonhavam. 

    Gabriel Silva, um escritor de meia-idade, estava sentado sob a árvore com um livro aberto em seu colo, mas seus olhos estavam distantes, perdidos em memórias. Ele cresceu naquela vizinhança e passou muitas tardes sob aquela árvore, perdido em mundos de fantasia e aventura, inspirado pelos livros que lia e pelo ambiente tranquilo. 

    Ao longo dos anos, o local havia perdido sua popularidade entre os jovens, sendo substituído por jogos eletrônicos e outras distrações modernas. Entretanto, Gabriel Silva, agora um escritor renomado, decidiu reavivar o amor pelos livros e pela leitura entre os jovens. Ele criou um memorial sob a árvore, uma pequena biblioteca com bancos e prateleiras cheias de livros. 

    Lembranças da inauguração. 

    Um grupo de jovens se reuniu, curiosos sobre o que estava acontecendo. Gabriel Silva se levantou, segurando uma tesoura reluzente em uma das mãos e uma fita vermelha esticada à sua frente. Com um sorriso, ele começou seu discurso. 

    "Esta árvore sempre foi um farol de imaginação para mim. Sob sua sombra, viajei por mundos distantes e vivi mil vidas. Quero compartilhar essa magia com todos vocês." 

    Ele cortou a fita, e o murmúrio de aplausos e conversas animadas encheu o ar. Os jovens se aproximaram das prateleiras, pegando livros e sentando-se nos bancos ou mesmo na grama, sob a proteção da árvore. 

    À medida que o dia se desenrolava, Gabriel Silva se sentou e retomou seu livro, observando com satisfação a cena à sua frente. A magia dos livros estava sendo redescoberta. Havia um brilho em seu olhar ao ver jovens estudantes lendo alguns dos livros ali disponível para leitura. Nada o poderia deixar mais feliz do que essa cena.

    Anos depois, aquele memorial sob a árvore se tornou um ponto de encontro popular. A árvore, com sua presença grandiosa, continuou a inspirar gerações, com Gabriel Silva sendo lembrado como o escritor que reintroduziu a magia da leitura na vida daqueles jovens. 

    E assim, sob os ramos daquela árvore bonita, histórias foram lidas, sonhos foram sonhados e uma nova geração de escritores foi inspirada.

Conto: Odair José, Poeta Cacerense
Obs. Inspirado no sonho do meu amigo Derick Menacho.

quarta-feira, 9 de agosto de 2023

As 7 Pragas na Praça Barão

    Em tempos imemoriais, conta-se que, nas sombras da cidade, a Praça Barão mantinha segredos enterrados há muito tempo. Uma aura misteriosa sempre rondara o local, mas nada poderia ter preparado os moradores para o que estava por vir. 
 
    Tudo começou em uma sexta-feira de verão, quando o sol começava a se por e as pessoas se aglomeravam na Praça Barão para o esperado happy hour do final de semana. Crianças corriam pelo gramado, casais passeavam de mãos dadas e amigos se reuniam em grupos, rindo e compartilhando histórias. No meio dessa atmosfera de descontração, um garotinho chamado Matheus brincava com uma bola enquanto seus pais conversavam em um banco próximo. Ele estava absorto em seu jogo, mas algo capturou sua atenção: um pequeno grupo de formigas emergindo do cais de pedra que contornava a fonte central. O garotinho se abaixou para observá-las, curioso. No entanto, antes que ele pudesse chamar a atenção dos pais, uma cena inexplicável começou a se desenrolar. 
 
    As formigas começaram a se multiplicar exponencialmente, formando uma massa ondulante e escura. Em questão de minutos, elas cobriram todo o cais, depois invadiram o gramado e subiram pelas pernas das pessoas. O pânico logo se instalou. Gritos ecoaram pela praça enquanto as formigas mordiam quem cruzassem seu caminho. Algumas pessoas, infelizmente, sofreram reações alérgicas graves e perderam a vida em questão de minutos. 
 
    A cidade ficou traumatizada, perplexa diante dessa tragédia inexplicável. Medidas de limpeza foram tomadas, mas o temor permaneceu. Dias depois, a rotina aparentemente voltou ao normal, embora um nervosismo latente persistisse. As imagens das pessoas sendo picadas por formigas assustavam muitas pessoas que presenciaram a tragédia. 
 
    O tempo passou e uma nova sexta-feira chegou. Mais uma vez, a Praça Barão se encheu de risos e conversas animadas. Entretanto, o terror se repetiu. Dessa vez, um enxame de abelhas apareceu do nada, cobrindo o céu e mergulhando na multidão. As cenas de horror se repetiram, e o número de vítimas cresceu. centenas de pessoas morreram pelo veneno das abelhas. A tragédia tornou-se notícia no Brasil e no mundo todo. Um grande mistério. 
 
    O que havia começado como um mistério se tornou uma assombração para a cidade. A incerteza pairava no ar, e a confiança das pessoas estava abalada. Tempos depois, quando a rotina da cidade parecia voltar ao normal, outra tragédia bizarra ocorreu. Dessa vez começou aparecer corvos e pousar nas árvores da Praça. A princípio eram poucos, mais foram aumentando dia após dia, lançando um presságio sombrio sobre todos. E então vieram os gafanhotos, os vespões, os jacarés e as víboras. E em todas essas "visitas" inesperadas, centenas de pessoas perderam as vidas. As "7 pragas na Praça Barão" transformaram o local de encontro alegre em um campo de pesadelo. 
 
    As autoridades locais e cientistas foram convocados para investigar, mas nenhum motivo ou explicação plausível foi encontrado. A cidade estava à beira do colapso, seus habitantes vivendo em constante medo. A Praça Barão, uma vez símbolo de união e diversão, agora se tornara um lugar temido, abandonado. A cidade então decidiu fazer um ritual de purificação na esperança de afastar as pragas. Líderes religiosos de diversas crenças, Pajés de tribos próximas e místicos foram convocados para conduzir uma cerimônia conjunta. Durante essa cerimônia, enquanto todos olhavam para a fonte central da praça, um murmúrio suave parecia emergir das pedras. Uma voz ancestral, sussurrando uma antiga lenda de equilíbrio e respeito pela natureza. Alguns chegaram a dizer que tratava-se do Minhocão, mas ninguém teve certeza disso. 
 
    À medida que o murmúrio se espalhava, uma voz suave que dizia sobre a necessidade de preservação da natureza sussurrava em todos os ouvidos e a sensação de paz começou a preencher a praça. A atmosfera estranha começou a se dissipar, e as pragas, uma por uma, começaram a recuar, deixando para trás um rastro de mistério. 
 
    As pessoas da cidade aprenderam uma lição profunda e respeitou os ensinamentos da lenda. A Praça Barão voltou a ser um local de encontro, mas agora, as pessoas carregavam consigo o entendimento de que a harmonia com a natureza era crucial para evitar a ira que havia despertado as "7 pragas". E assim, a praça recuperou seu esplendor, enquanto a memória das pragas se tornava uma lembrança assombrosa do passado. 
 
Conto: Odair José, Poeta Cacerense

segunda-feira, 7 de agosto de 2023

O Homem Congelado

    Era o ano de 2023, e José Odair, um homem de meia-idade, apaixonado por ciência e tecnologia, encontrava-se gravemente doente. Com os avanços da medicina, ele tinha a esperança de se recuperar, mas, infelizmente, não foi o que aconteceu. Com o coração pesado, despediu-se de seus entes queridos, enquanto o mundo continuava a avançar rapidamente ao seu redor. José Odair havia deixado instruções claras: caso a ciência avançasse ao ponto de poder trazê-lo de volta à vida, queria ser congelado criogenicamente. E assim foi feito. Sua mente e corpo foram preservados em um estado criogênico, na esperança de um dia voltar a viver. 
 
    O mundo continuou a evoluir e inovar, e 150 anos se passaram desde a morte de José Odair. O ano era agora 2173. A humanidade alcançou conquistas extraordinárias nesse período, com avanços notáveis em tecnologia, medicina e sustentabilidade. 
 
    Certo dia, um grupo de cientistas descobriu o corpo de José Odair, ainda preservado em seu estado criogênico. Com os conhecimentos do final do século XXII, eles se dedicaram a trazê-lo de volta à vida. Após intensas pesquisas e testes, finalmente conseguiram reverter o processo criogênico e reanimar o homem congelado. Quando ele acordou, ficou confuso com o que estava acontecendo. Tudo ao seu redor parecia estranho e futurista. Os cientistas explicaram que ele havia sido congelado por 150 anos e que agora estava em um novo mundo, mais precisamente, no final do século XXII. 
 
    José Odair se surpreendeu ao descobrir como o mundo havia mudado. As cidades eram verdadeiras maravilhas da arquitetura e tecnologia, com arranha-céus gigantescos e transporte eficiente. A poluição havia sido quase eliminada, graças a fontes de energia limpa e renovável. A medicina havia avançado a tal ponto que a expectativa de vida era muito maior. As doenças que antes eram fatais agora podiam ser tratadas com facilidade. A inteligência artificial estava integrada à vida cotidiana, facilitando tarefas e otimizando a sociedade. 
 
    Entretanto, nem tudo era perfeito. Ele também descobriu que, com o avanço tecnológico, surgiram novos desafios éticos e sociais. A inteligência artificial levantava questões sobre a privacidade e a autonomia humana. Além disso, a desigualdade social ainda persistia, apesar dos avanços. 
 
    Com a ajuda dos cientistas e especialistas do século XXII, José Odair começou a se adaptar à nova realidade. Aprendeu sobre os novos costumes, sobre a cultura, a história e a política. Ele se maravilhava com a diversidade cultural do mundo futuro. Ele também encontrou alguns de seus descendentes, pois parte de sua família havia sido preservada ao longo dos anos. Conectar-se com seus bisnetos e tataranetos foi uma experiência emocionante e comovente. 
 
    Com o passar do tempo, José Odair se tornou uma espécie de embaixador do passado. As pessoas do final do século XXII se interessavam por suas histórias e conhecimentos sobre a vida no passado. Ele compartilhava suas experiências, ajudando a construir uma ponte entre as gerações. Aos poucos, ele percebeu que, apesar das mudanças e desafios, a essência humana continuava a mesma. O amor, a amizade, a compaixão e a busca pelo conhecimento ainda eram valores fundamentais para a sociedade. 
 
    A história de José Odair, um homem congelado no tempo, se tornou um símbolo de esperança e resiliência. Ele havia testemunhado um salto gigantesco da humanidade, com todas as suas grandezas e imperfeições. E, no limiar do século XXIII, ele encontrou um mundo que, apesar de avançado tecnologicamente, ainda buscava aprimorar sua humanidade. E assim, a história do homem congelado viveu além do tempo, inspirando gerações futuras a abraçar o passado, aprender com ele e moldar um futuro melhor para todos. 
 
Conto: Odair José, Poeta Cacerense

sábado, 29 de julho de 2023

A Caverna do Jabuti e os jovens que viajaram no tempo

    Argumenta-se que era uma manhã ensolarada em Cáceres quando, um grupo de jovens estudantes de uma Escola particular, estava animado com a próxima aula campo que os levaria à Caverna do Jabuti, uma formação rochosa misteriosa em Curvelândia, a poucos quilômetros de distância. Liderados pela professora de História, a empolgante Srta. Manu, os estudantes embarcaram em uma emocionante jornada de aprendizado. 

    Chegando à Caverna do Jabuti, o grupo adentrou a escuridão das profundezas da terra com lanternas em mãos. As estalactites e estalagmites criavam formas estranhas ao redor deles, dando à caverna uma atmosfera quase mágica. A Srta. Manu compartilhou histórias sobre lendas locais, como a do Jabuti, uma criatura lendária que, de acordo com a tradição, concedia desejos aos corajosos o suficiente para entrar em sua caverna. 

    Encorajados pela professora, os jovens se aventuraram cada vez mais fundo na caverna, até que, de repente, um estranho brilho os envolveu. Tudo começou a tremer e girar, e quando a sensação passou, eles perceberam que alguma coisa estava errada. Ao saírem da caverna, ficaram atordoados ao descobrir que não estavam mais em 2023. 

    Em vez disso, o grupo se encontrou em uma paisagem completamente diferente, em uma época distante. Eles olharam ao redor, confusos, e viram vastas planícies verdes com tribos indígenas acampadas e animais exóticos pastando. Logo, compreenderam que haviam sido levados de volta no tempo, para uma era pré-colonial do Brasil. 

    Enquanto tentavam entender o que aconteceu, os jovens notaram que não eram os únicos viajantes do tempo. Eles encontraram um explorador inglês, o Sr. Anderson Lewis, que também foi transportado para esse período histórico. Sr. Anderson Lewis explicou que estava realizando pesquisas em cavernas na Ásia quando a viagem no tempo ocorreu. 

    Decididos a sobreviver naquele novo mundo, o grupo se uniu e compartilhou seus conhecimentos sobre sobrevivência e a história da região. Os jovens aplicaram habilidades de acampamento e conhecimentos de primeiros socorros, enquanto a Srta. Manu compartilhou seus conhecimentos sobre plantas comestíveis e técnicas de caça e pesca da época. 

    Com o tempo, eles estabeleceram uma amizade com as tribos indígenas locais, que os acolheram e ensinaram sobre suas tradições e culturas. Aprendendo com os nativos, o grupo foi capaz de se integrar melhor ao ambiente e superar os desafios da sobrevivência naquela época. Enquanto exploravam a área, os jovens também descobriram alguns artefatos da civilização pré-colonial que poderiam ajudá-los a entender melhor a história do local. Cada dia era uma nova aventura, com mistérios a serem desvendados e lições a serem aprendidas. 

    Conforme o tempo passava, o grupo começou a se preocupar em como poderiam retornar ao seu próprio tempo. Eles consultaram os anciãos da tribo e, juntos, realizaram rituais que, segundo a tradição, poderiam ajudá-los a abrir uma passagem temporal de volta à Caverna do Jabuti, o ponto de partida de sua jornada no tempo. 

    Depois de semanas de preparação e esperança, o dia finalmente chegou. Com corações cheios de gratidão e saudade, os jovens se despediram de seus novos amigos indígenas e realizaram o ritual, seguindo as orientações transmitidas pelos anciãos. Enquanto se alinhavam ao redor do brilho misterioso, sentiram o chão tremer novamente, e a escuridão os envolveu mais uma vez. 

    Quando acordaram, estavam novamente dentro da Caverna do Jabuti, como se nunca tivessem saído. Aliviados e emocionados, o grupo comemorou seu retorno. Eles sabiam que aquela experiência ficaria marcada em suas vidas para sempre. Apesar de ninguém acreditar na história da viagem no tempo, eles sabiam o que tinham passado e as aventuras que viveram. Também não viram mais o Sr. Anderson Lewis e nem que fim ele tomou.

    A viagem no tempo na Caverna do Jabuti os ensinou sobre coragem, amizade, respeito às diferentes culturas e a importância de compreender a história. Enquanto retornavam para Cáceres, eles levaram consigo memórias inesquecíveis e uma nova apreciação pelas aventuras e mistérios que o mundo pode nos oferecer. Afinal, o tempo é um tesouro precioso, e a história, uma professora valiosa para todos que se permitem explorá-la. 

Conto: Odair José, Poeta Cacerense

O Misterioso Homem das Sombras

    Corria o ano de 1925 na pequena cidade de Cáceres, situada no coração do Brasil. Nesta época, a família Alencar, uma das mais tradicionais da região, vivia em uma imponente mansão que há gerações abrigava segredos e tradições da família. Ana Maria Alencar, a jovem protagonista da história, era uma garota encantadora, de cabelos negros e olhos vivazes, que possuía uma personalidade forte e curiosa. 

    No entanto, a vida de Ana Maria tomou um rumo inesperado quando ela começou a sentir uma presença estranha ao seu redor. Sutilmente, ela percebia olhares desconhecidos e passos furtivos que a seguiam pelas ruas estreitas de Cáceres. Inicialmente, acreditou que fosse apenas paranoia ou fruto de sua imaginação. Contudo, os dias passaram e a sensação persistia, tornando-se cada vez mais ameaçadora. 

    Ao compartilhar suas preocupações com a família, Ana Maria foi recebida com descrença. Seu pai, Antônio Alencar, um respeitado comerciante da cidade, não via motivos para alarme. Afinal, a família Alencar era conhecida por suas tradições e intocável reputação. Sua mãe, Maria Isabel, uma mulher extremamente religiosa, aconselhou a filha a buscar conforto na oração e considerou que tais sentimentos de perseguição eram provavelmente provas divinas a serem superadas. 

    Sentindo-se sozinha em sua luta para provar que estava sendo perseguida, Ana Maria decidiu buscar ajuda com outras pessoas de sua confiança. Seu melhor amigo, Pedro, sempre estivera ao seu lado desde a infância. Embora preocupado, ele tentou acalmá-la, mas também não viu nada de suspeito ao redor da amiga. 

    Um dia, enquanto caminhava pela praça central da cidade, Ana Maria notou um homem estranho observando-a à distância. Vestido com um casaco de abas largas e um chapéu sombrio, ele se esgueirava entre as pessoas, mas desaparecia antes que alguém pudesse se aproximar. Desesperada, Ana Maria procurou ajuda da polícia local, mas os agentes não encontraram vestígios do homem misterioso. 

    A sorte de Ana Maria começou a mudar quando um detetive experiente, chamado Samuel Torres, chegou a Cáceres para investigar uma série de crimes não resolvidos na região. Ao ouvir sobre os eventos estranhos que a jovem vinha enfrentando, ele se mostrou interessado e resolveu investigar pessoalmente. Embora cético a princípio sobre a ideia de um perseguidor invisível, a dedicação e o medo genuíno de Ana Maria o intrigaram. 

    Samuel decidiu observar a movimentação na casa dos Alencar e na praça central. No início, não encontrou nada de incomum, mas sua intuição lhe dizia que havia algo escondido. Ele começou a seguir Ana Maria discretamente e a estudar os padrões de comportamento do suposto perseguidor. Aos poucos, o detetive percebeu que o homem misterioso aparecia e desaparecia em locais estratégicos, quase como se fosse capaz de se tornar invisível. 

    Com as evidências se acumulando, Samuel passou a desconfiar que o perseguidor usava alguma forma de camuflagem. Ele sabia que era preciso encontrar uma prova sólida para incriminá-lo, e, para isso, contou com a ajuda de Ana Maria. Juntos, eles criaram um plano para atraí-lo a uma armadilha. 

    Uma noite, quando a cidade estava mergulhada na escuridão, Samuel e Ana Maria armaram uma cilada na praça central. Como esperado, o homem misterioso apareceu novamente. Mas desta vez, Samuel estava preparado. Usando técnicas de investigação e uma lanterna especial, ele revelou a presença do perseguidor invisível, revelando-o como um engenhoso inventor de dispositivos de camuflagem. 

    O homem, cujo nome era Octávio Mendes, era um inventor recluso que sentia uma obsessão por observar a vida das pessoas sem ser notado. Incapaz de enfrentar suas próprias frustrações sociais, ele se refugiava na invisibilidade, onde se sentia poderoso e invulnerável. 

    Octávio Mendes foi preso pelas autoridades e a paz voltou a reinar em Cáceres. Ana Maria, finalmente, conseguiu provar a todos que suas suspeitas eram reais. A experiência a fortaleceu, e a jovem passou a ser conhecida não apenas como uma representante da família Alencar, mas também como uma mulher destemida que jamais desistia da verdade. 

    Com o tempo, Samuel e Ana Maria tornaram-se grandes amigos, compartilhando uma conexão especial que surgiu a partir dessa misteriosa e emocionante aventura. E, enquanto o passado permanecia envolto em segredos, a dupla sabia que sempre poderia contar com a força um do outro para enfrentar o que quer que o futuro reservasse. 

Conto: Odair José, Poeta Cacerense

O Olho de Nimbu

    Conta-se que, nos anos 20 do século XX, na cidade de Cáceres, existiu uma jovem chamada Isabella, pertencente a uma família extremamente tradicional e conservadora. Ela vivia em uma grande mansão com seus pais e irmãos, seguindo as rígidas regras e tradições estabelecidas por gerações. No entanto, a jovem, de beleza estonteante, tinha uma mente inquisitiva e um espírito livre, o que muitas vezes a colocava em conflito com os valores de sua família. Ela sonhava com um mundo além das convenções e desejava explorar os mistérios que a vida tinha a oferecer. 

    Um dia, enquanto caminhava pelos belos jardins da propriedade da família, Isabella sentiu uma presença sinistra, como se estivesse sendo observada. Ela se virou rapidamente, mas não viu ninguém por perto. Inquieta, ela descartou essa sensação, atribuindo-a à sua imaginação. No entanto, ao longo dos dias seguintes, a sensação persistiu e Isabella começou a notar movimentos fugazes no canto de seus olhos. 

    Assustada, ela decidiu contar a sua família sobre o que estava acontecendo. No entanto, ao fazê-lo, eles a desacreditaram, acreditando que sua imaginação estava sendo influenciada por suas leituras de romances e contos de mistério. Até mesmo seus amigos e serviçais da mansão acharam que ela estava exagerando. 

    Sentindo-se isolada e com medo, Isabella começou a investigar por conta própria. Ela passou horas na biblioteca da mansão, pesquisando sobre fenômenos sobrenaturais e histórias de aparições. No entanto, nada parecia se encaixar com o que estava acontecendo com ela. Enquanto isso, as pessoas ao seu redor começaram a questionar sua sanidade mental. 

    Em meio à angústia e ao desespero, Isabella cruzou com o experiente investigador policial, detetive Augusto Mendes, que estava na cidade para resolver um caso de roubo em uma casa de joias próxima. Intrigado pela história de Isabella e percebendo a sinceridade em seus olhos, o detetive decidiu ajudá-la, mesmo que isso significasse correr riscos. Augusto começou a investigar discretamente a família de Isabella, bem como qualquer pessoa suspeita que estivesse nas redondezas da mansão. Ele encontrou alguns pistas estranhas, mas nada que apontasse diretamente para um perseguidor invisível. No entanto, o detetive não desistiu. 

    Enquanto investigava, Augusto conheceu um velho ermitão chamado Domênico, que vivia isolado nas montanhas próximas a Cáceres. Domênico era conhecido por seus conhecimentos místicos e lendas da região. Intrigado pelas habilidades de Domênico, Augusto decidiu compartilhar sua investigação com ele. 

    O ermitão ouviu atentamente a história de Isabella e as descobertas de Augusto. Com um olhar sério, ele revelou que havia um mito antigo sobre um artefato misterioso escondido na região, capaz de conceder invisibilidade ao seu portador. Esse artefato, chamado de "Olho de Nimbu", dizia-se ter sido criado por um mago poderoso em tempos remotos. 

    Percebendo que essa história se encaixava nos acontecimentos recentes, Augusto e Domênico se uniram para encontrar esse artefato e desvendar o mistério da perseguição invisível. Eles acreditavam que alguém poderia ter encontrado o artefato e estava usando-o para assustar Isabella, possivelmente por razões obscuras e pessoais. Com a ajuda de Domênico, Augusto conseguiu rastrear o artefato até um antiquário suspeito na cidade. Lá, eles encontraram um homem misterioso que estava prestes a vendê-lo a um colecionador obscuro. Após uma intensa perseguição, eles conseguiram impedir o negócio e apreender o artefato. 

    Com o "Olho de Nimbu" em suas mãos, eles descobriram que o artefato possuía poderes genuínos de invisibilidade, tornando quem o possuía completamente indetectável. O homem misterioso que estava perseguindo Isabella era, de fato, um ladrão e charlatão que encontrou o artefato por acaso e decidiu usá-lo para seus propósitos malévolos. 

    Com o caso resolvido, Augusto entregou o artefato ao ermitão Domênico para mantê-lo seguro e protegido de cair em mãos erradas novamente. Isabella, finalmente, pôde encontrar paz e segurança, enquanto sua família percebeu o quão injusta havia sido ao duvidar dela. 

    O detetive e Isabella se tornaram amigos próximos e, com o tempo, acabaram se apaixonando. Juntos, eles embarcaram em outras aventuras, desvendando mistérios e enfrentando desafios ao longo da vida. A história da jovem perseguida por alguém invisível se transformou em uma lenda local, mas para Isabella e Augusto, foi o começo de uma parceria duradoura e um amor improvável que floresceu em um mundo cheio de maravilhas e segredos. 

Conto: Odair José, Poeta Cacerense