sábado, 2 de março de 2024

Os segredos do Marco do Jauru

    Há um grande mistério que envolve o Marco do Jauru. O exuberante monumento trazido de Lisboa no século XVIII e faz parte do cenário espetacular da Praça Barão do Rio Branco em Cáceres, Mato Grosso, tem muitas histórias que a grande maioria das pessoas não sabem. Se você fizer um pesquisa nos aplicativos de buscas vai encontrar muita coisa relacionada a sua história, o porque ele foi trazido para esse lugar, inóspito na época, e porque está implantado agora no centro histórico dessa cidade, a Princesinha do Rio Paraguai, carinhosamente chamada pelos seus moradores. No entanto, o que quase ninguém sabe é sobre os segredos que envolvem esse imponente monumento. 

    Qual é a relação entre o Anjo da Ventura e o Marco do Jauru? O que esses dois artefatos tem em comum? Você não sabe, né? Na verdade até consigo ver a sua cara de surpresa. Você nem sabia que tem um Anjo da Ventura no topo da casa Dulce, ao lado do Banco do Brasil no centro de Cáceres, né? Não sabia! Pois é. Existe uma relação impressionante sobre esses dois monumentos. O Anjo da Ventura e o Marco do Jauru... Mas, não vou contar aqui. 

    Você já parou para pensar o que tem dentro do Marco do Jauru? Já reparou naquela pequena abertura que fica no topo do monumento, bem pertinho da Cruz em uma de suas laterais? Não sabe o que significa aquilo, né? 

    Sabe a relação que tinha o Marco do Jauru e a Ponte Branca? Sim, a Ponte Branca que foi construída sobre o córrego do Sangradouro e ligava a rua General Osório à rua Riachuelo em tempos não tão remotos na história da cidade? Não sabe, né? Pois é. Não poderiam ter destruído a Ponte Branca. Não poderiam. 

    Ainda tem o mistério do vampiro que veio em uma das caravelas de Pedro Álvares Cabral quando do descobrimento do Brasil. Sua trajetória marítima, sua luta para sobreviver em terras tupiniquins e sua chegada no Vapor Etrúria no século XIX e seu possível esconderijo no Marco do Jauru. Além disso, qual é a relação desse vampiro que, de acordo com algumas histórias, vive a séculos nesta cidade, com o Misterioso Homem da Praça Barão? 

    É meus amigos e amigas. Tem muitas histórias sobre o Marco do Jauru que você não sabe. Vou contar algumas em breve. Se quiser me acompanhar nessa grande aventura de descobrimentos é só ficar atento as próximas escritas. 

Reflexão: Odair José, Poeta Cacerense

quinta-feira, 11 de janeiro de 2024

Noé e seus filhos

    Noé olha para a grande planície a sua frente e vê o horizonte distante até onde a sua vista alcança. É mais uma manhã radiante da natureza. O sol brilha no azul infinito de um céu límpido e majestoso. Eis a grandeza de Deus Criador, pensa o nobre patriarca. Pássaros voam e cantam nas árvores enquanto borboletas encantam com seus voos inocentes. Uma brisa aquieta a alma do patriarca que tem a sua meditação interrompida pelos passos que ele conhece muito bem. São seus três filhos que o acompanha para mais um dia de labuta. 

    Os três jovens param ao lado do pai e, por um breve instante, ficam em silêncio na contemplação da natureza. Notam, no entanto, um pouco de preocupação no semblante do velho pai. Algo o incomoda, pensam eles. 

    Sem: - O senhor parece um pouco preocupado. Aconteceu alguma coisa? 

    Noé: - Tenho recebido mensagens divinas. Deus me disse que um grande dilúvio está por vir, e Ele quer que construamos uma arca para nos salvarmos, junto com os animais. 

    Cam: - Um dilúvio? Isso é inacreditável, pai. Por que Deus faria isso? 

    Noé: - Ele acredita que a humanidade se desviou do caminho certo. A arca será nossa única salvação. 

    Jafé: - Mas como construir uma arca? E que animais levaríamos? 

    Noé: - Deus me deu as instruções detalhadas. A arca será grande o suficiente para abrigar a todos nós, bem como um par de cada espécie de animal para preservar a diversidade da vida. 

    Sem: - Isso é uma tarefa enorme, pai. Como começaremos? 

    Noé: - Primeiro, precisamos coletar os materiais necessários. Madeira de qualidade, resina e todos os recursos que Deus indicou. Depois, começaremos a construção. 

    Cam: - Certamente haverá muitos que vão nos ridicularizar por acreditar nisso. 

    Noé: - É verdade, meu filho, mas temos que confiar na mensagem divina. Precisamos ser fortes e perseverantes. 

    Jafé: - E quanto tempo temos, pai? 

    Noé: - Deus me deu um prazo, mas não sabemos exatamente quando o dilúvio acontecerá. Devemos nos apressar e trabalhar com dedicação. 

    Sem: - Vamos fazer isso, então. Se Deus falou contigo, acreditamos e o ajudaremos a construir a arca. 

    Noé sorriu, aliviado pela compreensão de seus filhos. Juntos, começaram a jornada para construir a arca, enfrentando desafios e críticas, mas mantendo a fé na mensagem divina que os guiava. A construção da arca se tornou uma jornada de confiança, trabalho árduo e união familiar, pois Noé e seus filhos se esforçaram para cumprir a missão que acreditavam ser divina. 

Conto: Odair José, Poeta Cacerense 

    Reflexão: Para que ninguém pense que Noé foi poupado somente por causa de suas boas obras, Deus deixou bem claro que ele foi um homem que creu em Deus como Criador, Soberano e o único salvador do pecado. Ele achou graça porque se humilhou e buscou a mesma. O registro bíblico afirma que Noé era justo, íntegro e andava com Deus. "Justo" significa que ele vivia segundo os padrões justos de Deus; "íntegro" coloca-o à parte quando comparado com as outras pessoas da época; e que ele "andava com Deus" coloca-o na classe especial dos que obedeciam a Deus de forma incondicional.

sábado, 30 de dezembro de 2023

Mel e Pimenta

    Essa história teve seus desdobramentos em uma pequena vila chamada Lambari no interior de Mato Grosso nos anos 80. O que me lembro desse período sempre me vem em fragmentos. Eu era ainda muito jovem e muita coisa se perdeu com o tempo. Dessa forma, se alguma coisa não puder ser confirmada pelos que viveram naquela época, não é culpa minha. 

    Valdir, mais conhecido na época por Pimenta (não sei se por causa de algum fato em particular) era um jovem negro criado pelos afagos da avó, (seus pais haviam morrido em um acidente quando ainda era um bebê) enfrentava uma vida de privações. Sua casa modesta era marcada pela falta de recursos, mas a avó, uma mulher de sorriso marcante e coração generoso, era sua fonte constante de apoio. No entanto, o jovem Pimenta, rebelde por natureza, encontrava na escola um terreno fértil para suas confusões. As salas de aula eram palcos de suas travessuras, e os professores, muitas vezes impotentes diante de seu espírito indomável. A vida de Pimenta na escola era uma constante batalha. Rebelde e indisciplinado, ele encontrava maneiras de desafiar as normas estabelecidas. A sala de aula muitas vezes se transformava em um terreno fértil para suas brigas, rendendo-lhe a fama de aluno problemático entre professores e colegas. 

    Do outro lado da vila, (cabe dizer que na época, a vila era praticamente de uma rua só, a principal que se chamava Boa Vista) Melissa, era a filha única de uma família tradicional, que vivia em um mundo de estudos e sonhos. Sua beleza singela encantava a todos, mas era sua dedicação aos livros que a destacava. Os pais de Mel, (assim ela era conhecida por todos) respeitados na comunidade, sonhavam com um futuro grandioso para a filha, imaginando-a como uma médica renomada que elevaria o nome da família. Eles dedicavam tempo a jovem menina porque tinham planos ambiciosos para ela, sonhando com um caminho acadêmico sólido que a levaria a se tornar uma médica de renome. 

    Mas, nem sempre a vida acontece da forma que planejamos. O destino, por vezes surpreendente, cruzou os caminhos desses dois jovens de mundos totalmente opostos. Um encontro casual revelou uma conexão instantânea, transcendendo as barreiras sociais que os separavam. O amor, surgindo inesperadamente, tornou-se o fio condutor de uma história destinada a desafiar convenções. Como quase sempre acontece na história da humanidade e não se pode explicar, uma tarde, por acaso, seus olhares se encontraram, e algo mágico aconteceu. Entre as diferenças que os separavam, uma faísca de conexão surgiu, desencadeando um amor improvável, mas poderoso. Cabe ressaltar aqui que suas vidas colidiram em um momento improvável, criando uma conexão que transcendia as barreiras sociais. Apesar das diferenças evidentes em suas origens, uma poderosa atração floresceu entre eles, desafiando as expectativas da sociedade que os cercava. 

    Contudo, o relacionamento entre Mel e Pimenta enfrentou resistência. A maioria das pessoas que viviam na vila, naquela época, estavam imersas em tradições e preconceitos, e viam com desconfiança o casal improvável. A família de Mel, presa à sua reputação, opunha-se categoricamente ao romance, lançando desafios que testariam a força do amor entre os dois jovens (dizem, não posso provar, que até encomendar a morte do rapaz foi cogitado pelo pai). O idílio do jovem casal apaixonado não foi recebido com aceitação pelas pessoas de bem que viviam na vila. Preconceitos enraizados e a rigidez das tradições locais tornaram-se obstáculos formidáveis para o casal. A família de Mel, em particular, via o relacionamento com total desconfiança, temendo que a reputação da família fosse manchada pela união inaceitável. 

    Mesmo diante de preconceitos e impedimentos, Mel e Pimenta escolheram seguir o caminho do coração. Seu amor tornou-se uma chama ardente que desafiava as expectativas e acendia a esperança em meio às adversidades. O jovem, inspirado pela perseverança de sua avó e guiado pelo amor, buscou superar as expectativas negativas. Por outro lado, Mel, que sempre sonhara em quebrar barreiras no campo da medicina, encontrou em seu relacionamento com Pimenta uma oportunidade de desafiar as normas sociais. Juntos, aprenderam a enfrentar os olhares tortos, as palavras maldosas e as barreiras sociais, construindo um refúgio onde podiam ser verdadeiramente eles mesmos. Movidos pelo amor, alimentados pela resiliência e pela determinação, enfrentaram desafios consideráveis. 

    A trajetória de Mel e Pimenta não foi apenas uma história de amor, mas uma narrativa de resistência e superação. Enquanto Mel buscava a realização de seus sonhos acadêmicos, Pimenta encontrava no amor uma força transformadora que o guiava a um caminho mais disciplinado. Enquanto a moça desafiava as expectativas de sua família e comunidade, Pimenta encontrava na paixão por ela uma motivação para canalizar sua rebeldia de maneira mais construtiva. O amor deles, apesar dos obstáculos, tornou-se um exemplo de coragem e resistência. À medida que os anos passavam, a vila testemunhou não apenas um romance improvável, mas uma transformação silenciosa nas mentalidades. Mel e Pimenta, através de seu amor inquebrável, desafiaram as normas sociais e inspiraram uma comunidade a repensar seus preconceitos. 

    Mel e Pimenta, com seu amor resiliente, tornaram-se agentes de mudança, desafiando estereótipos e inspirando outros a questionar as normas sociais. O que começou como uma história improvável na década de 80 se transformou em um legado de coragem e determinação que ecoou pelas gerações seguintes. A história de Mel e Pimenta não foi apenas sobre o amor entre dois corações, mas sobre a capacidade de transcender as barreiras impostas pela sociedade e forjar um caminho próprio. Sua jornada provou que, mesmo nas circunstâncias mais desafiadoras, o amor verdadeiro pode florescer e iluminar os corações mais sombrios. 

    Para ser sincero, não sei o que aconteceu com esse casal depois que me mudei para Cáceres nos anos 90. Nunca mais soube deles e qual foi a trajetória final deles. Tento imaginar uma família bem sucedida com filhos e, quem sabe, até netos nessa altura do campeonato. No entanto, para este que vos conta essa história, o que vale mesmo é saber que o amor pode acontecer em qualquer lugar e situação. O que vale mesmo é viver o amor quando ele acontece na sua intensidade. Só o amor pode vencer preconceitos e tradições. Só o amor pode acender a luz do nosso coração. 

Conto: Odair José, Poeta Cacerense

domingo, 19 de novembro de 2023

A amante dos livros e o escritor

    Camila sempre teve uma paixão inabalável por livros. Desde criança, os mundos imaginários contidos nas páginas de histórias fascinavam sua mente curiosa. Ela frequentava a biblioteca regularmente e devorava cada palavra que encontrava. Sua vida pacata mudou quando, por acaso, ela conheceu Miguel, um escritor renomado que frequentava o mesmo café onde ela costumava ler. 

    Miguel, com seus quarenta e poucos anos, era um homem experiente, mas sua alma ainda pulsava com a paixão pela escrita. Seus olhos encontraram os de Camila em uma tarde ensolarada, enquanto ela folheava um romance clássico. O olhar de Miguel foi atraído pela intensidade e beleza da jovem amante de livros, e uma conexão especial começou a se formar. 

    A diferença de idade entre eles era evidente, mas isso não impediu que a amizade crescesse. Camila, com sua juventude vibrante, trouxe uma nova energia para a vida de Miguel, enquanto ele, com sua experiência, ofereceu a ela uma visão mais profunda sobre a vida e a arte da escrita. Os dois compartilhavam longas conversas sobre livros, ideias e sonhos, encontrando inspiração mútua. 

    A paixão de Camila por livros e o entusiasmo de Miguel pela escrita se tornaram a base de um amor que florescia dia após dia. Ele começou a encontrar inspiração em cada detalhe da vida dela, transformando suas experiências em histórias que cativavam os leitores. Camila, por sua vez, via Miguel como o herói de suas próprias histórias, um homem que a compreendia de uma maneira que poucos conseguiam. 

    O tempo passou, mas a chama entre eles só se intensificou. Juntos, exploraram o mundo literário e viveram uma história de amor que transcendeu as barreiras do tempo e da idade. Camila, mesmo jovem, tornou-se uma musa para Miguel, inspirando-o a escrever com mais paixão e profundidade. Suas experiências compartilhadas transformaram-se em narrativas emocionantes que tocavam os corações dos leitores. 

    A sociedade podia questionar a diferença de idade, mas para Camila e Miguel, o amor que compartilhavam era uma fonte de força. Eles aprenderam que a verdadeira inspiração não conhece limites, e o vínculo que criaram se tornou uma prova viva de que a paixão pela vida e pela arte pode transcender qualquer barreira. 

    Dessa forma, a jovem amante de livros e o escritor mais experiente continuaram a escrever sua própria história de amor, uma história que ecoaria nas páginas dos livros que ambos tanto amavam. E, enquanto o tempo seguia seu curso, a inspiração entre eles permanecia, alimentando a chama que queimava eternamente. 

Conto: Odair José, Poeta Cacerense

segunda-feira, 13 de novembro de 2023

Tentação

    José era um jovem forte e esbelto. Simpático até demais, dizia sua mãe. Era sempre atencioso e dedicado a sua sua família. Cuidava da mãe com todo carinho e dedicação como havia feito com seu pai antes de sua partida, antes do tempo, por causa de um infarto. Era sempre muito carinho e, até mesmo cuidadoso, com a irmã menor que costumava brincar bastante. Dedicado na Igreja, onde participava com muita influência, do conjunto de jovens e era, também, bastante cobiçado pelas moças do conjunto. Afinal, diziam as mulheres mais velhas para as filhas, aquele é um jovem para casar. 
 
    José acabara de completar seus 18 anos e terminava os estudos no Ensino Médio já se preparando para adentrar à Universidade. Havia escolhido o Curso de História, primeiro porque gostava muito da História, principalmente da História de Israel, segundo porque era um curso noturno e ele tinha que trabalhar durante o dia para ajudar a sua família. Por esse motivo estava bem motivado a fazer o Curso de História. 
 
    Naquele dia ele chegou em casa bem cansado do trabalho. Estava trabalhando de ajudante de pedreiro enquanto não surgia algo fixo para fazer. O sol dos últimos dias não estava ajudando. Uma onda de calor tomava conta de tudo. Efeito do El Ninho, ouvia dizer no noticiário. Mas, sabia que, no fundo, é culpa do próprio ser humano que desmatou todas as árvores. Antes de sentar na cadeira de fio na varanda a mãe saiu da cozinha com um olhar de felicidade: 
    - Você não vai acreditar! 
    - O que aconteceu? 
    - Você conseguiu um emprego! 
    Recebeu da mão da mãe o papel. Era uma oportunidade de entrevista para trabalhar de atendente em uma loja de materiais elétrico. 
 
    O dono da loja era já um senhor de idade. Provavelmente na casa dos 60 anos. Pelo menos foi isso que José conseguiu identificar. O senhor, um tanto sistemático mostrou-lhe a loja, as prateleiras e os estoques. 
    - Você ficará a maior parte do tempo aqui. Quando minha esposa não puder atender no caixa, ai você dá uma mão para ela - Disse o senhor. 
 
    José chegou cedo para o seu primeiro dia de trabalho. Estava feliz porque agora teria um salário razoável e não ia ter que se expor naquele sol escaldante. Teria até mesmo tempo de estudar em algumas hora quando o atendimento fosse menor. Estava absorto em seus pensamentos quando a porta da loja se abriu e uma linda mulher surgiu diante dele. 
    - Você é o José? - Indagou a jovem mulher olhando-o de cima abaixo. 
    - Sim! 
    - Eu sou a Samanta, esposa do Gervásio. Vamos trabalhar juntos. 
 
    Gervásio era o dono da loja. Samanta não passava dos 25 anos. Essa foi a impressão de José. Ele não se sentiu nada confortável com a presença dela. Era muito bonita e usava roupas bem decotadas. Na verdade, não queria reparar mas acabou reparando que ela estava com um vestido bem curto e colado ao corpo. Uma tentação! Foi o que passou pela sua mente. Ela, por sua vez, pareceu ter notado o desconforto do jovem e emendou: 
    - Hum! Você é bonitão, né? 
 
    Alguns dias se passaram sem muitas novidades. No final do mês, Gervásio chamou o jovem no escritório. 
    - Rapaz! - Disse o senhor após uma breve pausa depois de ter fixado o olhar no jovem - Melhorou bastante as vendas! Acho que você tem o talento para vendas. Boa parte da clientela está elogiando o seu trabalho. Continue assim. 
    - Obrigado senhor! 
    - E a Samanta? 
    A pergunta o pegou desprevenido. Não esperava aquele tipo de pergunta. O que tem a Samanta? O que ele quer saber sobre a sua esposa? 
    - Não entendi a pergunta. O que tem ela? 
    - Eu que te pergunto: O que tem ela? 
    - Não sei senhor. O que o senhor quer saber exatamente? 
    - Ela é muito gostosa, né? 
    José ficou rubro. Não esperava esse tipo de abordagem. O que será que esse senhor está querendo. 
    - Calma jovem - disse ele soltando uma gargalhada - Estou só brincando com você! 
    Nunca tinha visto o velho sorrir. Sempre sério. As vezes passava dias sem ir na loja. Samanta chegou a dizer que ele cuidava de outra loja e que preferia estar sempre por lá: 
    - Acho que ele está comendo a empregada que trabalha lá, só pode! 
 
    Era uma tarde monótona. Fim de mês e o movimento da cidade vai caindo aos poucos. José arrumava o estoque da loja quando Samanta saiu da porta dos fundos onde dava para a casa do casal que ficava próximo à loja. Vestia um vestido bem curto, curto até demais, e bem colado ao corpo. Era muito sensual, mas agora extrapolava todos os bons costumes. Fez questão de passar quase roçando nele, mesmo havendo outros espaços para ela passar. Talvez para o provocar ou para que sentisse o delicioso perfume que exalava de seu corpo recém saído do banho. O coração acelerou, as pernas tremeram e o pacote de fios caíram de suas mãos. 
    - Deixa que eu pego! - Disse ela quando José fez o movimento para se abaixar. 
    Ele, quase sem movimento, viu ela se abaixar para pegar o pacote de fios no chão o que fez com que avistasse a sua intimidade. A cor do pecado foi o que avistou bem diante de seus olhos estáticos. 
    - O que foi? - Ela indagou ao se levantar e se aproximar dele, roçando-o novamente - Parece que viu um fantasma. 
    Antes que pudesse dizer alguma coisa ela emendou: 
    - Não se preocupe, eu não mordo - Fez uma pequena pausa e completou - a não ser que você queira! 
 
Continua...

domingo, 8 de outubro de 2023

Crônicas de ontem a noite (Parte III)

    Filmes de terror tem a sua magia. Primeiro eles te prendem quase que o tempo todo. É inevitável o calafrio na barriga ao ver a noção de perigo que os personagens estão passando. Parece que você quer avisar para não entrar naquele beco, ou não ir ver o que está escondido no escuro da mata. Mas, não adianta. A vítima sempre vai a esses lugares. É impressionante o quanto você pode fazer uma alusão com a própria vida que vivemos. Será que não corremos esse tipo de perigo o tempo todo? Será que conhecemos a pessoa que está sentada ao nosso lado? Quem garante que não é um psicopata assassino que pode nos esfaquear na menor bobeada que demos? Esses eram o tipo de pensamento que passava em sua cabeça enquanto o filme rolava na tela. Vez ou outra a garota dava um suspiro e encostava nele como se o quisesse abraçar e sentir a sua proteção. Curioso isso e talvez ela tenha se contido um pouco mais depois que dissera que não gostava de conversar durante o filme. Não gostava mesmo, mas não devia ter dito isso a ela na primeira vez que ia assistir um filme com ela. Ou deveria? Sua mente estava confusa. Sentia-se um adolescente naquele cinema. Aliás, a maioria das pessoas assistindo esse filme era adolescente. Outra coisa que não conseguia entender. Por que adolescentes são fascinados por filmes de terror? Quanto mais violento e sanguinário, mas eles se divertem. Deve ser por isso que a sociedade está tão violenta. Estava absorto em seus pensamentos que só voltou a si no momento em que ela o abraçou toda arrepiada. "Nossa! Isso me deu medo". Sentiu o seu cheiro outra vez e o toque suave de sua pele tão macia. Uma beldade. Sorriu para ela. "Isso é assim mesmo". "Você não tem medo? Não se assusta?" Ela fez as perguntas com uma voz bem baixinha e quase tocando os seus ouvidos o que o fez arrepiar-se todo. 

    Ela segurou em suas mãos ao saírem do cinema. Mesmo sentindo-se desconfortável não achou prudente soltar-lhe as mãos. Ou ela era muito ingênua e inocente ou realmente estava gostando da sua companhia e não ligava para essas coisas de preconceitos existente em nossa sociedade. Algumas jovens a cumprimentaram e acenavam para ela que sempre sorria. Algumas pessoas o cumprimentaram e ele se mantinha sério e com o semblante fechado. "Você está se sentindo a vontade?" A pergunta dela o constrangeu. Não esperava. "Sim! Estou de boa." Ela sorriu e dessa vez ele reparou em seus olhos. Eram lindos e cheios de vida. A sua alegria não era fingimento e nem improvisada. Ela realmente parecia muito feliz. A sua alegria era contagiante, singela e verdadeira. Ela estava muito feliz. Temeu por isso. Não gostaria nunca de fazer ela perder essa alegria. Mas, sempre havia decepcionado as mulheres. Sempre as fizera chorar. O que fazer agora? E se ela realmente estivesse gostando dele? Poderia correr o risco de a decepcionar também. E não queria, jamais, se sentir responsável por vê-la triste. Então, talvez o melhor seja levar ela em casa e nunca mais a ver. Mas, isso não é uma covardia? Isso não é correr do destino? Como pode pensar uma coisa dessa? "Você vai embora agora?" A pergunta dela trazia em si algumas complicações. Gostaria de ficar mais tempo com ela. De ouvi-la sorrir e contar suas histórias. Mas, e se ficasse tarde? E seus pais? "Que horas você deve chegar em casa?" Já que era assim, ia responder com outra pergunta. "Ah! Eu não tenho problema com isso não. Meus pais são de boa. Quando você quiser me levar, está bom." 

    Esse era um espaço que ela não conhecia ainda. Foi o que ele notou quando sentaram-se na petiscaria para comerem um frango frito. "Legal aqui" Disse ela ao sentar. "Nunca vim aqui". Enquanto esperavam o pedido que havia feito ela, depois de falar um pouco sobre o filme que acabaram de assistir, lhe contou alguma coisa sobre seus estudos. Estava em dúvidas do que fazer. Direito porque seus pais eram da área de Humanas. A mãe era delegada e o pai era policial. Um detalhe muito interessante que o perturbou um pouco. Psicologia porque era o que desejava fazer na vida. "Estou quase a um ano nessa dúvida. Já era para ter entrado na Faculdade, mas estou em dúvidas". A preocupação dela era em qual área seguir e a dele era em saber que ela era filha de policiais. Provavelmente da mesma idade que ele e, quem sabe, até mais novos. Isso pode dar merda. Pensou. E, por algum momento, não conseguiu disfarçar sua preocupação. "O que foi?" Ela havia notado. "Eu disse alguma coisa que você não gostou?" "Seus pais são policiais?" "Ah! Sim. Mas pode ficar de boa. Eles não são chatos a ponto de interferir nas minhas escolhas". "Devem ter a mesma idade que eu tenho ou quem sabe até menos!" "Sim! Mas o que importa isso?" "É, você tem razão." Não queria estragar a noite da garota. Ela estava tão feliz que não tinha o direito de deixá-la triste por causa de seus medos infundados. Ou será que não eram tão infundados assim? A barca de frango e batatas fritas chegou na mesa e começaram a comer. "Nossa!" Exclamou ela. "Que delícia! Como eu ainda não sabia desse lugar?" Sorriu para ela. "Posso te fazer uma pergunta?" Ela olhou para ele com aquele olhar de pura sedução. "Pode sim". "Por que se interessou por mim?". O que esperar da resposta dela? Mas tinha que fazer essa pergunta. Não é comum uma garota jovem como ela se interessar por um coroa como ele. Precisava saber senão ficaria louco. "Isso é muito óbvio!" Ela sorriu como se entendesse a angústia dele. Como se quisesse brincar com suas preocupações. "Então diga-me!" Ela olhou para ele. Agora um pouco séria e por alguns segundos que, para ele, pareceu uma eternidade sustentou o olhar fixo no dele. "Por causa dos livros!" 

Continua...

sábado, 7 de outubro de 2023

Crônicas de ontem a noite (Parte II)

    Notou que havia chegado antes dela. Antes de adentrar ao cinema para comprar os ingressos parou para observar os cartazes dos filmes na entrada do cinema. Na Praça Barão já circulava algumas pessoas naquela final de tarde onde o sol tentava não se esconder por detrás da baia do Malheiros. O Rio Paraguai agora já bastante recuperado dos dias sem chuvas deslizava suavemente em seu eterno caminhar levando as lembranças e memórias de um lugar maravilhoso. No calçadão funcionários arrumavam as mesas e cadeiras para receberem os tradicionais eventos noturnos que agradavam boa parte da elite cacerense. Voltou o seu olhar para os cartazes e observou o filme que tinha sido convidado a assistir com ela. Um leve sorriso saiu de seu rosto. Uma garota o convida a assistir um filme de terror. Isso era novidade para ele. Primeiro que sempre gostava de ir ao cinema sozinho, segundo que a maioria de seus relacionamentos anteriores sempre o julgaram por gostar de filmes de terror. Ironia do destino? 

    "Oi!" Virou-se ao ouvir aquela voz tão suave. Ela sorria e parecia querer saltar em seus próprios pés. Estava muito feliz. E bonita. "Oi! Respondeu. Deu-lhe um beijo no rosto e um abraço apertado. Sentiu seu perfume. Que delícia! Pensou. Ela exalava um perfume maravilhoso e sentiu sua pele tão macia. Só podia ser um sonho mesmo. "E ai! Está animado para passar sustos?" Sorriu para ela confirmando com a cabeça. "Vamos comprar os ingressos". Caminharam pelo corredor do cinema em direção a bilheteria. Notou que ela carregava um capacete. "Quer que eu segure para você?" Disse estendendo o braço para pegar o capacete. "Obrigada!" Ela agradeceu ao entregar-lhe o capacete. Foi então que reparou que ela usava o short. Sempre fora muito ingênuo para reparar essas coisas. Mas ela estava muito exuberante e sensual. Isso ele sempre fora bom para reparar. "Você está linda!" Ela sorriu e agradeceu. O sorriso era encantador. Notou o brilho no olhar daquela garota. Ela estava muito feliz. Deixou que ela escolhesse os lugares que sentariam no cinema e ela escolheu poltronas do fundo. Era o lugar que mais gostava de sentar para assistir filmes. "Temos pelo menos uma hora antes do filme, o que quer fazer?" Perguntou a ela. "O que você sugere?". 

    Escolheram tomar um sorvete e conversar um pouco. Agora a noite havia chegado de vez. Na Praça as pessoas transitavam em um fluxo maior e no calçadão já se notava algumas pessoas chegando para o happy hour de final de expediente. Sentaram em duas cadeiras. Ele olhava para a Praça e ela olhava para ele. O capacete ficou em outra cadeira. "Trouxe ele porque pensei que pode me levar em casa quando terminar o filme" Disse ela apontando o capacete. "Ah sim! Sem problemas!". Sério isso? Pensou consigo mesmo. Era uma intimidade que ele ainda não havia pensado existir entre eles. Como aquela garota sentia-se tão a vontade com ele? Por que? Não era um padrão normal para a sociedade. Apesar de saber que os tempos agora eram outros, muitas pessoas se sentiam desconfortáveis com situações assim. Ela, uma linda garota talvez em início da faculdade. Ele um jovem senhor já passando de meio século de vida. O que poderia acontecer entre eles? 

Continua...

sexta-feira, 6 de outubro de 2023

Crônicas de ontem a noite (Parte I)

    Os passos eram seguros. Depois de muito tempo sabia exatamente o que estava fazendo. Sabia que poderia ter o controle da situação caso precisasse e isso nem sempre foi assim. Mas, agora, depois de tudo que havia passado, sabia que poderia contar com sua experiência nesse tipo de situação. Ao caminhar pelas ruas movimentadas de fim de tarde pode notar a correria do dia a dia das pessoas. Sabia que ninguém ou quase ninguém dava a mínima pelo que passava em seus pensamentos. Nessa correria, pensava consigo mesmo, cada um só se preocupa com suas própria vidas. Que assim seja. Era bem melhor ser assim mesmo. 

    Pensou em um detalhe que ainda não tinha pensado. O que era que essa menina, por assim dizer, queria com ele. Pensou "menina" porque se tratava de uma moça bem nova para a sua idade. Não havia perguntado a ela, mas não passava dos 20 anos, no máximo. Para ele era uma "menina". Abriu um leve sorriso ao pensar em um fato curioso que havia acontecido na noite anterior. Ela havia lhe enviando uma mensagem: "Posso te fazer uma pergunta?" Ela não havia percebido, mas isso já era uma pergunta. "Sim" respondeu. Então, poucos minutos depois recebeu duas imagens. Em uma delas ela estava vestido com uma blusa e um short preto. Na outra ela usava uma blusa rosa e uma minisaia azul. Ambas as roupas realçava bem suas pernas e a deixava bem sensual. "Qual você acha que devo usar?". 

    Era isso que ele não entendia e nunca havia gostado em todos os seus antigos relacionamentos. Essa ideia de se vestir para o outro. Ora bolas, vista a roupa que se sinta melhor. Mas não podia dizer isso a ela. Era apenas uma jovem recém saída da adolescência. A maioria das jovens têm essa mania de querer saber com qual roupa ir a um encontro. "Qualquer uma das duas, você está bonita com qualquer uma delas". Respondeu. "Ah! Vai, escolhe uma!" Que situação! E se isso fosse um teste? Uma jovem ir ao cinema com um homem mais velho já é mal visto pela sociedade. Ela tinha idade para ser sua filha. Ir de minissaia ainda poderia ser pior. "Vai de short!". "Obrigado! Até amanhã! Bjos!" Emojis de beijinhos e corações. 

Continua...

sexta-feira, 29 de setembro de 2023

O dia em que roubaram o Marco do Jauru

    Em uma bela manhã de domingo, o sol nasceu dourado e o céu exibia um azul claro sem igual. Mas esse não seria um domingo comum. O assombro tomou conta dos habitantes quando a notícia começou a se espalhar pelas ruas e becos da cidade: o Marco do Jauru havia sumido! 
 
    Em Cáceres, uma cidade histórica no estado de Mato Grosso, os habitantes tinham no Marco do Jauru um dos seus maiores símbolos, representando a memória de tempos antigos e a bravura dos exploradores que ali estiveram. De pé na Praça Barão do Rio Branco, ele era um marco da União Ibérica entre os Reinos de Portugal e Espanha e uma fonte de orgulho para os cacerenses. 
 
    Agora, nesta manhã atípica de domingo, as pessoas se aglomeravam em volta do espaço vazio onde o marco estava. Havia sinal de escavação no local, mas nada de marco. Os mais velhos não conseguiam esconder a tristeza em seus olhos. Muitos pensavam que era uma brincadeira, mas a realidade era dura: alguém havia levado o Marco do Jauru. 
 
    A Polícia foi acionada e uma investigação em larga escala começou. Imagens de câmeras de segurança, testemunhas, tudo estava sendo usado para rastrear o possível culpado. Mas os dias passavam e nenhuma pista concreta aparecia. Apenas a imponente Igreja Matriz parecia sorrir de tamanha façanha. Quem olhava para sua paredes cinzas e suas janelas acreditava que a Igreja sabia exatamante o que tinha acontecido. 
 
    Enquanto a polícia investigava, um movimento popular ganhava força. Os cacerenses decidiram fazer uma vigília na praça, no local onde o Marco ficava. As noites eram iluminadas por velas e as manhãs, por esperança. A cidade, unida como nunca, clamava pelo retorno do seu símbolo. 
 
    E foi em uma dessas noites, enquanto todos se reuniam, que uma velho caminhão surgiu, estacionando perto da praça. De dentro dele, emergiram alguns jovens, e não tinham os semblantes alegres. Pareciam bem assustados. Eram eles! Eles estavam trazendo o Marco do Jauru de volta! 
 
    Após serem cercados pela multidão, os jovens, um tanto assustados, começaram a contar sua história, um tanto cabulosa, difícil até de acreditar: eles eram estudantes de arqueologia e tinham "emprestado" o marco para um projeto na universidade. Pensavam que ninguém notaria sua falta por um curto período de tempo. Contudo, ao perceberem a comoção que haviam causado, decidiram trazê-lo de volta imediatamente. Depois de muita labuta e com a juda de um grande guincho, colocaram o munumento no lugar. 
 
    A raiva inicial deu lugar à compreensão e a cidade celebrou o retorno do seu símbolo. Os jovens, apesar de terem agido sem pensar, tinham devolvido o marco e foram convidados a dar uma palestra sobre a importância histórica do Marco do Jauru para a nova geração de cacerenses. Afinal, para boa parte da população, a audácia com que os larápios levaram o monumento sem ninguém perceber era algo extraordinário. 
 
    A cidade, agora mais do que nunca, valorizou seu patrimônio e a união de sua gente. O Marco do Jauru, mais que um pedaço de pedra, tornou-se um símbolo de resistência, memória e orgulho cacerense. E a cidade aprendeu que, unidos, poderiam enfrentar qualquer desafio. 
 
Conto: Odair José, Poeta Cacerense

quinta-feira, 7 de setembro de 2023

O dia que choveu cinzas em Cáceres

    A cidade de Cáceres, com sua atmosfera tranquila e história rica, foi subitamente interrompida por uma coluna de fumaça espessa e cinzas chovendo dos céus. O coração da agitação estava na baia do Malheiros. Um incêndio de proporções gigantescas estava em andamento, e logo descobriu-se que não era um acidente, mas sim um incêndio criminoso. Enquanto os bombeiros e voluntários se apressavam para controlar as chamas, uma preocupação em particular surgia em meio ao caos: uma onça pintada e seu filhote estavam em perigo, com seu habitat ameaçado pelo avanço voraz do fogo. 

    Nas ruas da cidade, enquanto as pessoas corriam em meio ao pânico, um homem destacava-se. Era o Misterioso Homem da Praça Barão. Vestido com um paletó antiquado, chapéu de aba larga e óculos escuros, ele caminhava com propósito, alheio à agitação em sua volta. O que a maioria das pessoas não sabia era que esse homem, tão conhecido e ao mesmo tempo tão enigmático, estava em Cáceres com uma missão. E essa missão o levou diretamente a um dos antigos casarões da cidade. Sem hesitar, ele entrou, fechando a porta atrás de si. 

    Dentro da construção, o ambiente era fresco e abafado, um contraste gritante com o calor e caos externos. Com passos determinados, ele dirigiu-se a um cômodo específico. Atrás de uma estante de livros, ele pressionou uma sequência de tijolos, revelando uma passagem secreta. Lá dentro, após passar por um labirinto de corredores, ele encontrou o que buscava: um livro antigo, de capa de couro, com inscrições douradas. Dizia-se que este livro tinha o poder de realizar desejos quando lido e interpretado corretamente. Ele retirou-o cuidadosamente, posicionando-o sob o braço. 

    Retornando à cidade, ele se dirigiu ao local do incêndio. Com o livro em mãos, começou a recitar palavras em uma língua esquecida. À medida que sua voz ecoava, o vento começou a mudar de direção, levando a fumaça e o fogo para longe da área onde a onça e seu filhote estavam. Ao terminar, o Misterioso Homem da Praça Barão, sem dizer uma palavra, voltou à sua trajetória solitária pelas ruas de Cáceres, deixando para trás um rastro de esperança e mistério. 

    No fim do dia, enquanto a cidade tentava se recompor do caos, muitos se perguntaram sobre o homem e o misterioso livro. Mas, como sempre, ele havia desaparecido, assim como as cinzas que choveram sobre a cidade. E a única certeza era de que, em meio às adversidades, sempre haverá aqueles dispostos a proteger e restaurar a ordem. 

Conto: Odair José, Poeta Cacerense