quinta-feira, 4 de novembro de 2021

2073 - (Prólogo)

    Ergueu os olhos ainda meio ofuscados pela fumaça. Do alto da árvore avistou algumas silhuetas que parecia ser a cidade. Não via mais a ponte e nem como chegar a sua casa. Tudo parecia estar em ruínas. Parecia que tinha passado um furacão e destruído tudo. Mas isso não teria acontecido agora. Pelo que via essas ruínas estavam aqui a milhares de anos. Como isso seria possível? 
    - É professor - disse ao descer da árvore - parece que estamos em um outro lugar e não na nossa cidade. Eu não estou entendendo mais nada. 
    O professor, um jovem senhor nos seus 40 anos, olhou para a colega de trabalho, uma professora mais jovem, 35 anos, mais ou menos, os dois alunos e as cinco alunas, ambos na faixa etária dos seus 15 anos, que haviam saído da caverna. 
    - Se acreditasse em viagem no tempo eu diria que estamos vivendo uma. 
    - Como vamos atravessar o rio? - Indagou uma das garotas. 
    - Pelo jeito vamos ter que nadar. 
    O professor olhou para o céu. O sol estava a pino e um pouco ofuscado pela fumaça. Não conseguia ver de onde vinha aquela fumaça. Não parecia haver algum fogo por perto. A vegetação estava bem verde, por sinal. 
    - Pedro! - O professor chamou um dos alunos. 
    - Sim, professor. 
    - Me ajude com aquelas toras de madeiras ali - apontou para umas árvores caídas às margens do rio - Vamos fazer uma espécie de jangada para atravessarmos. 
    - Ícaro! - O professor chamou o outro aluno. 
    - Sim, professor. - Você vem nos ajudar com as toras. 
    - Professora Soraia! - O professor olhou para a sua colega de profissão. 
    - Diga professor. 
    - Você e as meninas vão pegar cipós para amarrarmos a jangada. 
    - Está bem. 
    Mais ou menos duas horas depois já haviam construídos duas jangadas. 
    - Como vamos atravessar sobre isso ai? - Indagou uma das meninas demonstrando um certo receio. 
    - Subindo encima dela e remando até a outra margem, Júlia! - Disse o professor. 
    - Eu não sei nadar, tenho medo! - Disse outra garota. 
    O professor parou o que estava fazendo no momento e olhou para as meninas. Ambas estavam suadas e com medo. Era possível ver nos olhos delas. 
    - Luara! - Disse o professor para a jovem - Eu sei que todas estão com receio, com medo. Eu também estou. Não sei o que aconteceu. Mas, não podemos ficar aqui. Temos que chegar até a cidade para saber o que aconteceu. 
    Notou uma lágrima no rosto da jovem. Olhou para as outras e disse: 
    - Carol, Duda, Giovana, Júlia e Luara, vocês foram incríveis lá nas cavernas. Me ajudaram bastante, assim como o Pedro e o Ícaro. Não sabemos ao certo o que aconteceu enquanto estávamos dentro das cavernas, mas aconteceu alguma coisa. Temos que descobrir o que é. A professora Soraia e eu vamos cuidar de vocês até os entregarmos aos cuidados de seus pais. Agora temos que atravessar esse rio. Tudo bem? 
    Elas concordaram com a cabeça. 
    - Tudo bem, professor - Disse Luara - me desculpe! 
    - Não tem que se desculpar de nada. Vamos em frente. Pedro, Luara, Júlia e Duda vem comigo nessa jangada - Disse e apontou para a jangada - A professora Soraia, Ícaro, Giovana e Carol vão na outra jangada. 
 
    As águas deslizavam suavemente. Parecia que o rio estava mais vivo. A sensação era de que nem parecia aquele velho rio Paraguai de dias atrás, seco e sem vida. O que teria acontecido? Essa pergunta martelava a cabeça de todos. Com muita força nos braços e incentivo aos alunos para que remassem na direção certa eles chegaram a outra margem do rio. 
    - Aqui é a Carne Seca? - Indagou a Professora Soraia. 
    - Sim! - Respondeu o professor - Ou pelo menos o que era a Carne Seca. 
    Havia um grande matagal no lugar que quase invadia toda a pequena praia. Viram algumas ruínas do que um dia fora uma casa. Não se lembrava de ter visto casas com aqueles materiais antes naquele lugar. 
    - Vamos com cuidado - Disse o professor - Não sabemos o que aconteceu por aqui. 
    Começou a caminhar em meio aos destroços e ruínas de antigas casas agora tomadas pelo mato. Alguns carros envoltos em cipós e vegetação. Era o mesmo que estar vendo um episódio de The Walking Dead. Só faltava os zumbis, pensou o professor que era fã da série. 
    - O que é aquilo? - Indagou Carol apontando para uma espécie de torre. 
    - Eu nunca vi aquilo aqui em Cáceres - Disse a professora Soraia. 
    - Eu também não - Confirmou o Professor - Parece ser uma torre. 
    - Podemos subir nela e ver melhor a cidade - Disse Ícaro. 
 
    Era uma visão aterradora aos olhos de todos. Não existia mais cidade. Ruínas cobertas de vegetação. Podia se ver de tudo. Onde ficava a Igreja Matriz, a Praça Barão, o Geraldão. Tudo em ruínas. 
    - O que está acontecendo! - Exclamou Duda com um olhar incrédulo com o que via diante de seus olhos. 
    - Não faço a mínima ideia - Respondeu Pedro. 
    Houve um momento de silêncio. Todos pareciam refletir sobre a situação. O que havia acontecido com o mundo que eles conheciam e viviam antes de entrarem na Caverna do Jabuti? 
    - Será que estamos sonhando? - Indagou a Professora Soraia. 
    - Ou talvez estejamos mortos! - Disse Pedro. 
    - É. - Disse Júlia - Talvez nós morremos no desabamento da caverna assim como os outros. 
    - A gente não sabe de nada disso - Ponderou o Professor - Só sabemos que não estamos em nosso mundo real. Só isso! 
    Houve mais um intervalo silencioso e por isso eles puderam ouvir. 
    - O que é esse barulho? - Indagou Giovana. 
    Olharam para a escada de onde eles haviam subido na torre. Era uma escada que dava voltas a torre como se fora uma serpente. 
    - Tem mais alguém aqui - Disse o professor e já olhou para o lado na busca de alguma coisa que pudesse usar como arma de defesa. 
    Encontrou uma barra de ferro e pegou-a rapidamente enquanto os passos se aproximavam deles. 
    - Fiquem atrás de mim! - Disse o Professor segurando firme a barra de ferro. 
    - Ai meu Deus! - Exclamou Luara. 
    Houve um minuto de silêncio quando os passos pararam. Podia ouvir o bater dos corações de cada um. O dia estava indo embora. O sol, ainda um tanto prejudicado pela fumaça tentava se esconder atrás da vastidão da floresta que se perdia ao longe. A visão de um majestoso rio cercado de uma floresta quase não foi percebido por causa da aflição que todos estavam sentindo naquele momento. 
    - Calma pessoal! 
    Um rapaz alto, forte e esbelto apareceu no último degrau da escada. Tinha um semblante alegre e simpático. 
    - Não tenham medo - Disse após dar o último passo - Eu sou de paz! 
 
Autor: Odair José, Poeta Cacerense
Obs (Trata-se de uma obra de ficção)

Nenhum comentário:

Postar um comentário