A floresta sempre esteve viva.
Mas não como os botânicos pensam.
Não como os místicos querem.
Ela respira por meio de quem se perdeu.
Ela cresce em cima do que foi abandonado.
Alguns Desfeitos não aguentam a travessia.
São belos demais, partidos demais, humanos demais para sustentar o depois.
Esses... viram raiz.
Galho.
Musgo.
Árvore.
Eles não morrem.
Eles continuam.
Em formas que não lembram mais nome, nem rosto, nem culpa.
Elias caminhava entre troncos que pareciam pulsar.
Sentia o peso do fragmento de Vidro no bolso.
E a agulha de osso, presa ao manto, latejava como um nervo externo.
A cada passo, a floresta parecia se aproximar de dentro.
Como se estivesse crescendo por trás de seus olhos.
Foi então que sentiu.
Um sussurro — não no ouvido, mas nas vértebras.
Se virou.
E estava lá.
A árvore.
Mas não era árvore.
Tinha algo de coluna vertebral,
algo de costela humana,
algo de boca,
embora não houvesse rosto.
E do tronco, pendiam nomes.
Escritos em línguas extintas,
em folhas que nunca caíam.
Elias se aproximou.
Sentiu um arrepio que não era medo.
Era… reconhecimento.
A árvore abriu os olhos.
Sim, tinha olhos. Dois. Escuros. Vazios.
E falou.
Não com som.
Mas com cheiro, vibração, lembrança.
“Você não precisa continuar sendo.”
“Pode apenas crescer.”
“Mas o preço é esquecer.”
Elias recuou um passo.
E então lembrou do que Nula dissera:
“Quando doer tanto que esquecer seu nome, me chama.”
Mas ele ainda se lembrava.
Ainda era Elias.
Ainda.
Atrás dele, a árvore fechou os olhos.
E sorriu com os galhos.
Ela sabia.
A hora estava próxima.
Muito em breve, ele escolheria o corte.
Ou a raiz.
(Continua...)
Conto: Odair José, Poeta Cacerense
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