Outro dia, percebi que passei a manhã inteira apagando incêndios.
Não incêndios de verdade, claro — eram mensagens urgentes, tarefas pendentes, compromissos que surgem do nada e já chegam com a sirene ligada. Uma correria sem trégua. Resolvi uma coisa, veio outra. Respirei fundo e já tinha mais duas batendo à porta.
Quando me dei conta, o dia tinha passado.
E o que era importante mesmo — aquela ligação que eu queria fazer para o meu pai, o capítulo do livro que queria escrever, a caminhada que meu corpo pedia há dias — ficou para depois.
De novo.
É curioso como o urgente sempre parece mais importante do que realmente é. Ele tem esse jeito de invadir o espaço, bater o pé e exigir prioridade. Já o importante… o importante é tímido. Fica ali, no canto da sala, esperando a sua vez, como se não quisesse incomodar.
Mas o curioso é que, no fim das contas, o que mais pesa não é o que deixamos de resolver — é o que deixamos de viver.
Não é o e-mail não respondido que fica martelando na cabeça à noite, é a conversa adiada, o tempo perdido com quem nos faz bem, os projetos que nunca saem da gaveta porque “hoje não dá”.
Talvez a gente precise reaprender a diferenciar barulho de valor.
Nem tudo que apita merece nossa atenção imediata.
Nem tudo que se cala pode esperar.
A vida não vai avisar quando o importante estiver indo embora.
Ela simplesmente fecha a porta.
Crônica: Odair José, Poeta Cacerense
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