Diziam que ele era louco.
Outros, que era perigoso.
Mas poucos ousavam se aproximar o suficiente para descobrir que, na verdade, ele apenas pensava diferente.
Chamavam-no de Elói, embora esse não fosse seu nome.
Morava numa casa sem paredes, no limite de um bosque onde o sinal das máquinas não alcançava.
Não tinha relógio, nem contas digitais.
Tinha tempo. Tinha silêncio.
E um caderno onde anotava coisas que ninguém mais escrevia.
“Elói”, diziam os jovens da cidade, “é aquele que desistiu do mundo.”
Mas eles não sabiam que ele nunca o tinha aceitado.
Na juventude, Elói tentara.
Usara terno, votara, sorrira para fotografias, compartilhara frases de efeito.
Mas, a cada gesto repetido, algo dentro dele se desfazia —
como um espelho que se estilhaça em câmera lenta,
sem barulho, sem tragédia.
Apenas cansaço.
Ele via as ideologias do mundo como roupas apertadas demais:
umas pinicavam, outras sufocavam, outras fingiam aquecer —
mas nenhuma servia.
E assim, um dia, saiu.
Não avisou ninguém.
Não fez postagem de despedida.
Simplesmente caminhou até a beira do mapa
e atravessou.
Do outro lado não havia respostas.
Havia mato, vento, pedras, sombras.
Havia dor, e fome, e dúvida.
Mas também havia ele —
inteiro, pela primeira vez.
Ali, entre os animais silenciosos e os murmúrios da terra,
descobriu que a liberdade não é um lugar,
mas uma decisão.
Anotava no seu caderno:
"Os homens modernos não buscam a verdade. Buscam conforto."
"Ideologia é o nome bonito que dão às grades."
"Fugi do mundo para não fugir de mim."
Um dia, uma garota o encontrou.
Era jovem, tatuada, carregava um celular que não funcionava ali.
Disse que fugira.
De quê? — perguntou ele.
De tudo. — respondeu ela.
Então sentaram-se e falaram em silêncio.
E, pela primeira vez, Elói pensou:
Talvez não precise andar só.
Na cidade, os outros continuavam.
Debatendo, consumindo, vencendo pequenas guerras em redes invisíveis.
Enquanto isso, Elói — ou o homem que andava fora do mapa —
escrevia um novo mundo com os pés na lama
e o coração fora da gaiola.
Conto: Odair José, Poeta Cacerense
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