Na planície poeirenta de Elá, onde os exércitos se encaram em silêncio antes do grito, ergue-se o gigante. Ele caminha como quem já venceu, cada passo um terremoto, cada palavra uma espada. Golias, o inquebrantável. Sua armadura reluz como o sol das trevas, seu olhar é aço. Os homens tremem não só por medo, mas por crer que força é destino.
Do outro lado, um menino. Nem homem feito ainda. Um pastor de ovelhas com olhos de amanhecer. Ele traz uma funda, cinco pedras, e um nome nos lábios: um nome que o mundo esqueceu, mas que ainda ressoa no céu — YHWH. Ele não veste armadura, não empunha espada. Sua coragem não é ausência de medo, é presença de fé.
Golias ri. O riso dos grandes que nunca foram desafiados. O riso dos que confundem altura com autoridade, músculos com moral, peso com verdade. Mas o riso do gigante é o riso de quem já caiu — só que ainda não sabe.
A pedra voa. Pequena, quase nada. Uma curva no ar, um sussurro no meio do grito. E então o silêncio. O gigante tomba.
Não foi a pedra que o derrubou. Foi o excesso de si. Foi o eco da própria arrogância que o fez vazio por dentro, oco como um templo sem deuses. Davi apenas revelou o que já estava caído.
Eis o mistério: o mundo acredita na força das lanças, mas Deus prefere os frascos frágeis. Ele se esconde no menino, no improvável, no quase. Enquanto o mundo constrói torres, Ele sussurra do deserto. Enquanto reis contam cavalos, Ele escolhe um pastor com mãos cheias de poeira e olhos cheios de céu.
A queda do gigante é mais que uma vitória — é uma revelação. O verdadeiro poder não grita, mas permanece. Não se exibe, mas transforma. Davi não venceu Golias para mostrar força, mas para lembrar ao mundo que o impossível é apenas o nome que damos ao que esquecemos de crer.
E assim, o menino seguiu seu caminho, não como herói, mas como sinal. Porque em cada um de nós há um Golias a tombar, e um Davi a despertar.
Conto: Odair José, Poeta Cacerense
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