O céu estava pálido, como se tivesse esquecido de ser azul. Ele caminhava há dias, sem rumo, por entre campos secos e árvores silenciosas. Ninguém o chamava pelo nome — talvez ele mesmo já o tivesse esquecido.
Sentou-se à beira de um abismo de pedras, onde o vento sussurrava verdades que os homens evitam ouvir. E ali, tão sozinho, algo dentro dele começou a falar.
— Tão sozinho... — murmurou, os olhos perdidos no horizonte. — Descubro que o eco é minha própria voz. E nela... há um mundo inteiro escondido.
A mão trêmula tocou o peito. Sentiu o coração. Não batia por ninguém, não esperava por ninguém. Apenas era.
— A solidão não é vácuo — ele pensou — mas ventre. Um lugar onde o que fui morre... e o que sou começa a respirar.
O silêncio era quase insuportável. Mas ele ficou. E, ficando, escutou.
— Quando o mundo se cala... — sussurrou como quem reza — me escuto.
Ali, naquele fim de caminho, descobriu: já não era um entre muitos. Era inteiro entre ecos.
8E mesmo sem saber o nome que o mundo lhe deu, encontrou um que servia melhor:
Sobrevivente do próprio vazio.
Conto: Odair José, Poeta Cacerense
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