domingo, 1 de junho de 2025

A primeira carta não enviada

     Hoje, o céu tem o peso do que não digo. E o que não digo é teu nome — sussurrado mil vezes dentro de mim, mas nunca entregue ao vento. 
 
    Há um amor em mim que não cabe, que transborda feito rio na cheia, e ainda assim me obrigo a represá-lo. Não porque falte coragem, mas porque te respeito demais para roubar sequer um segundo da tua paz. 
 
    Tu amas outro. E eu amo tudo em ti, mesmo o que não é meu. Amo tua voz quando fala dele, mesmo que cada sílaba me dilacere. Amo teus olhos buscando por ele, mesmo que passem por mim como quem passa por uma árvore antiga: bonita, talvez, mas imóvel. 
 
    Se soubesses o que carrego — esse vendaval de ternura, esse desespero manso que me acorda nas madrugadas — talvez te afastasses. E eu não suportaria isso. Prefiro essa dor que me acompanha em silêncio a viver num mundo onde não posso ao menos te ver sorrir. 
 
    Às vezes, fecho os olhos e imagino tua mão na minha. É um devaneio breve, como uma estrela cadente: lindo, impossível e destinado a desaparecer. Outras vezes, só fico olhando — tua nuca, teus gestos, o modo como te encostas ao mundo sem saber que és poesia. 
 
    Não espero que me ames. Nem espero que descubras. Só escrevo — e não envio. Porque o amor verdadeiro, às vezes, é só isso: um pássaro que canta dentro da gaiola, sem nunca querer fugir. 
 
Admirador: Odair José, Poeta Cacerense

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