Hoje, o céu tem o peso do que não digo.
E o que não digo é teu nome — sussurrado mil vezes dentro de mim, mas nunca entregue ao vento.
Há um amor em mim que não cabe, que transborda feito rio na cheia, e ainda assim me obrigo a represá-lo. Não porque falte coragem, mas porque te respeito demais para roubar sequer um segundo da tua paz.
Tu amas outro.
E eu amo tudo em ti, mesmo o que não é meu.
Amo tua voz quando fala dele, mesmo que cada sílaba me dilacere.
Amo teus olhos buscando por ele, mesmo que passem por mim como quem passa por uma árvore antiga: bonita, talvez, mas imóvel.
Se soubesses o que carrego — esse vendaval de ternura, esse desespero manso que me acorda nas madrugadas — talvez te afastasses. E eu não suportaria isso. Prefiro essa dor que me acompanha em silêncio a viver num mundo onde não posso ao menos te ver sorrir.
Às vezes, fecho os olhos e imagino tua mão na minha.
É um devaneio breve, como uma estrela cadente: lindo, impossível e destinado a desaparecer.
Outras vezes, só fico olhando — tua nuca, teus gestos, o modo como te encostas ao mundo sem saber que és poesia.
Não espero que me ames.
Nem espero que descubras.
Só escrevo — e não envio.
Porque o amor verdadeiro, às vezes, é só isso:
um pássaro que canta dentro da gaiola,
sem nunca querer fugir.
Admirador: Odair José, Poeta Cacerense
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