Mato Grosso / Paraguai – 1866 – Batalha de Tuiuti
Assim que abriu os olhos, Artur foi atingido por um calor sufocante. O sol parecia pesar sobre a pele, e o ar estava carregado de um cheiro metálico de sangue e pólvora. Ao seu redor, um campo aberto de vegetação rasteira e banhados enlameados. O som de tambores, gritos de ordens e tiros ecoava de todos os lados.
Ele estava em Tuiuti, no território paraguaio, palco da maior e mais sangrenta batalha campal da história da América do Sul.
À sua esquerda, via as tropas brasileiras, argentinas e uruguaias — a Tríplice Aliança — em formação, preparando-se para o impacto. Muitos eram jovens mal treinados. Soldados de fardas azuis e cinzas, com os rostos cobertos de suor e lama.
Do outro lado, os paraguaios, sob o comando do determinado Marechal Solano López, avançavam com fúria. Eram milhares, com lanças, baionetas e a coragem de quem luta pela própria terra.
A artilharia rugia. A terra tremia. Artur viu cavalos tombando, soldados gritando por médicos, outros morrendo em silêncio com o olhar perdido para o céu.
Por entre a fumaça dos canhões, viu também a chegada das tropas de voluntários da pátria, brasileiros de diferentes cantos, inclusive do interior de Mato Grosso, lutando com bravura.
Ele caminhou por entre as linhas, ouvindo os relatos sussurrados:
— "Falta comida…"
— "Não temos munição suficiente…"
— "O solo bebeu mais sangue hoje do que chuva no último mês…"
Artur parou por um instante ao lado de um médico improvisado, que, com as mãos tremendo, tentava amputar uma perna sem anestesia. O grito do soldado ecoou como um lamento pelo continente inteiro.
Ao longe, viu a bandeira brasileira tremulando, cravada no meio da lama.
Quando o dia terminou, o cenário era de devastação total. Mais de 9 mil mortos em um só dia. Um massacre.
Artur sabia que a Guerra do Paraguai ainda continuaria por anos, arrastando-se até 1870, com fome, doenças e milhares de vidas perdidas.
Conto: Odair José, Poeta Cacerense
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