sexta-feira, 28 de julho de 2023

O perseguidor invisível

    Os antigos contam que era o ano de 1925, e em Cáceres, que na época era uma pequena cidade com profundas tradições regionais, vivia uma jovem chamada Isabela Garcia. Ela pertencia a uma família bem tradicional, conhecida por suas raízes arraigadas na cultura local. Seu pai era um respeitado comerciante, e sua mãe, uma dedicada dona de casa. Desde cedo, Isabela aprendeu a seguir os preceitos da família e a viver uma vida discreta e comportada. A jovem Isabela sempre foi uma moça doce, porém curiosa e destemida, o que muitas vezes a levava a questionar os padrões impostos pela sociedade da época. 
 
    Certo dia, ao voltar para casa depois de um passeio pelo parque da cidade, Isabela teve a sensação inquietante de que estava sendo seguida. Olhava ao redor, mas não via ninguém que pudesse explicar aquele sentimento. Apesar de sentir um calafrio na espinha, tentou não dar muita importância e atribuiu aquilo ao seu imaginário exaltado. 
 
    Porém, ao longo dos dias, a sensação persistia. Isabela sentia olhares invisíveis a perseguindo pelas ruas, e em momentos mais solitários, jurava ouvir passos furtivos atrás dela. Preocupada, ela compartilhou suas suspeitas com sua família, mas a reação foi de descrença. Afinal, como poderiam acreditar em algo que não podiam ver? A família atribuiu aquilo a algum tipo de nervosismo ou imaginação exagerada da jovem. 
 
    Determinada a provar que não estava louca, Isabela começou a anotar cada vez que se sentia perseguida, registrando detalhes sobre os supostos encontros com esse "invisível perseguidor". Ela decidiu investigar por conta própria, buscando pistas que pudessem confirmar suas suspeitas. No entanto, tudo o que encontrava eram becos sem saída e sombras sem forma. Sempre um novo labirinto em sua frenética busca para desvendar o mistério que a envolvia. 
 
    Com o tempo, a sua saúde emocional começou a se deteriorar. Ela perdia o sono, estava constantemente ansiosa e, aos poucos, sua família começava a se preocupar de verdade com a sua sanidade. Foi então que um antigo amigo da família, o investigador policial Francisco Leal, retornou à cidade após uma longa viagem. 
 
    Leal, como era mais conhecido, sempre acreditou nas histórias de Isabela sobre sua perseguição, e, mesmo enfrentando a desconfiança dos outros, decidiu investigar o caso de perto. Ele passou horas conversando com Isabela, buscando entender melhor o que ela sentia e, mais importante, o que não conseguia ver. 
 
    Guiado pelas anotações detalhadas da jovem, o investigador começou a perceber um padrão nas ocorrências e fez a ligação com algumas ocorrências estranhas que tinham acontecido na cidade. Relatos de objetos misteriosamente desaparecendo ou sendo encontrados em lugares inesperados começaram a se encaixar no que Isabela descrevia. 
 
    O resoluto investigador passou noites em claro pesquisando lendas e mitos antigos, até encontrar algo que poderia explicar o que estava acontecendo: uma lenda local sobre um homem que, séculos atrás, teria adquirido um artefato místico que o tornava invisível. Essa figura lendária foi apelidada de "O Espreitador". 
 
    Intrigado e decidido a resolver o mistério, Leal começou a buscar pistas sobre a possível existência desse artefato. Sua busca o levou a lugares obscuros e perigosos, mas sua determinação só crescia. Ele sabia que estava perto da verdade quando começou a perceber sinais que apontavam para um suspeito: um homem misterioso que tinha acabado de chegar à cidade e despertava pouca atenção. 
 
    Com a colaboração de Isabela, que passou a confiar plenamente em Leal, o investigador foi se aproximando cada vez mais do homem misterioso, que aparentemente não levantava suspeitas, mas que estava sempre presente nas cenas dos acontecimentos inexplicáveis. Em um final de tarde, quando o por do sol às margens do Rio Paraguai pintava o céu de amarelo, Isabela caminhava de volta para casa e entrou em uma viela deserta. Sentiu um calafrio e, dessa vez, teve a sensação de que o seu perseguidor invisível a pegaria. 
 
    Caminhou rápido pelo beco e encostou em uma das casas de adobe. Sentiu o odor de suor se aproximando de seu rosto quando a janela da casa se abriu e um balde de água foi jogado por cima dela. Em fração de segundos, um saco de farinha foi despejado e surgiu o vulto de um homem. Rápido como um gato, Leal pulou sobre o homem e o esmurrou fazendo-o perder os sentidos. Amarrou suas mãos e o levou preso para a delegacia. 
 
    Isabela pode, então, comprovar suas suspeitas e todos na cidade ficaram intrigados com a audácia do homem. Soube-se pelo interrogatório que ele havia adquirido o artefato místico através de um ritual que envolvia um pacto de sangue e o principal objetivo era sacrificar uma virgem de coração puro. 
 
    O homem, depois de dois dias sendo interrogado, desapareceu da cela sem deixar vestígios. Isabela ficou algum tempo sem sair de casa para nada e a população da cidade parecia ver coisas em qualquer sombra que via. 
 
Conto: Odair José, Poeta Cacerense

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