quarta-feira, 19 de julho de 2023

Apostando em Ari Pantaneiro

    Conta-se que a pequena cidade chamada Cáceres, localizada nas margens do Rio Paraguai, cercada por uma natureza exuberante do Pantanal brasileiro, foi testemunha de uma grande batalha espiritual de gigantescas proporções que passo a relatar agora. Em um tempo bem distante, no céu, um encontro incomum estava prestes a ocorrer. Deus e o demônio Nosferastu, guardião sombrio de Cáceres, decidiram se encontrar para discutir os rumos daquela comunidade. Enquanto observavam a cidade do alto, um dos moradores chamou a atenção de ambos. Era Aristides de Deus dos Santos, um homem conhecido de todos como senhor Ari Pantaneiro. Senhor Ari era um ribeirinho simpático e trabalhador, sempre presente para ajudar seus vizinhos e amigos. 
 
    Nosferastu, no entanto, tinha uma visão cética sobre os seres humanos. Ele acusou senhor Ari de ser um hipócrita, afirmando que ele fazia as coisas apenas por interesse pessoal e não por bondade genuína. Deus, em sua infinita sabedoria, defendeu o ribeirinho, afirmando que ele era sincero em suas ações. O demônio, desafiador, propôs uma aposta a Deus. Ele afirmou que conseguiria corromper a alma de Ari Pantaneiro em três tentações. Se conseguisse, o demônio alegava que a hipocrisia do homem seria revelada. Deus, confiante na integridade de seu protegido, aceitou o desafio. 
 
    E assim começou a aposta entre Nosferastu e Deus. O demônio desceu à Terra e passou a observar Ari Pantaneiro em seu cotidiano. Nosferastu, usando de sua astúcia, e na forma humana que desejasse, começou a oferecer oportunidades que pareciam irresistíveis ao ribeirinho. 
 
    Na primeira tentação, o demônio apresentou uma situação em que senhor Ari poderia enriquecer rapidamente, ganhando fama e poder na cidade. Ele ofereceu um negócio lucrativo, que poderia garantir ao ribeirinho riquezas além de seus sonhos mais ambiciosos. Contudo, Ari Pantaneiro, fiel às suas convicções, recusou a oferta. Ele disse ao demônio que a felicidade verdadeira não se encontrava em acumular riquezas materiais, mas sim em viver em harmonia com a natureza e ajudar aqueles que precisavam. 
 
    Impressionado com a integridade do homem, Nosferastu decidiu intensificar sua próxima tentação. Ele se aproximou de Ari em um momento de fraqueza, quando o ribeirinho se sentia solitário e carente de amor. O demônio ofereceu a oportunidade de conquistar o coração de qualquer pessoa que ele desejasse, com a promessa de um amor incondicional e eterno. A mulher mais bela da cidade poderia ser sua quando quisesse. Mais uma vez, Ari Pantaneiro permaneceu firme em seus princípios. Ele explicou ao demônio que o verdadeiro amor não pode ser forçado ou comprado. Ele acreditava na construção de relacionamentos baseados na sinceridade e no respeito mútuo. Não era a beleza de uma mulher a coisa mais importante e sim a sua sinceridade e lealdade. 
 
    Nosferastu, cada vez mais intrigado com a resistência de Ari, decidiu colocar à prova sua última tentação. Ele ofereceu ao ribeirinho poder absoluto sobre a cidade de Cáceres. Ari teria o controle sobre todos os aspectos da vida na comunidade: política, economia e justiça. Seria um poder inigualável. Mas mais uma vez, Ari Pantaneiro recusou a oferta. Ele compreendeu que o verdadeiro poder não reside em governar os outros, mas em ser um exemplo de humildade, compaixão e serviço ao próximo. Ele acreditava que a verdadeira grandeza estava em ajudar sua comunidade a crescer e prosperar, e não em dominar sobre ela. 
 
    Após presenciar a resistência e a integridade de Ari Pantaneiro, Nosferastu percebeu que havia perdido a aposta. O demônio voltou ao encontro com Deus e reconheceu sua derrota. Ele admitiu que o ribeirinho era verdadeiramente sincero em suas ações e que não poderia corromper sua alma. Deus, satisfeito com o resultado, reafirmou sua confiança em Ari Pantaneiro e proclamou que ele seria abençoado com uma vida longa, cheia de paz e harmonia. A cidade de Cáceres, testemunhando a batalha entre o bem e o mal, celebrou a vitória de seu amado ribeirinho. 
 
    A história de Ari Pantaneiro e sua resistência às tentações de Nosferastu se tornou uma inspiração para toda a comunidade. Seu exemplo de integridade e honestidade perdurou por gerações, servindo como um lembrete constante de que, mesmo em meio às tentações, é possível permanecer fiel aos valores mais nobres. E assim, a pequena cidade de Cáceres encontrou paz e prosperidade, guiada pelo espírito indomável de seu amado ribeirinho, Ari Pantaneiro. 
 
Conto: Odair José, Poeta Cacerense

Nenhum comentário:

Postar um comentário