domingo, 9 de junho de 2024

Forasteiros em Lambari

    Nos idos anos 80, Lambari era uma cidadezinha pacata no interior de Mato Grosso, um lugar onde o tempo parecia correr devagar e a vida era simples e tranquila. Com ruas de terra batida, casas de madeira e gente humilde, Lambari era o tipo de cidade onde todos se conheciam pelo nome e as crianças brincavam soltas pelas ruas até o anoitecer. O local onde hoje é a praça central, com seu coreto, era o coração da cidade, onde tinha o "Ranchão" e se realizavam as festas e encontros da comunidade. 

    Numa manhã ensolarada de primavera, dois forasteiros chegaram a Lambari, despertando a curiosidade dos moradores. Eram homens altos, de semblantes severos e olhares furtivos, trajando roupas escuras e chapéus de aba larga que escondiam parcialmente seus rostos. A princípio, ninguém sabia ao certo o que queriam ali, mas a atmosfera de desconfiança rapidamente se instalou. Com o passar dos dias, os boatos começaram a circular: os dois homens estavam envolvidos em atividades criminosas, intimidando comerciantes e exigindo "proteção" em troca de dinheiro. 

    Entre os moradores, três jovens amigos decidiram que algo precisava ser feito. Paulo, um rapaz destemido de 17 anos, filho do dono do armazém; Lira, um garoto inteligente e curioso de 16 anos, sempre visto com um livro nas mãos; e Rosinha, uma jovem corajosa de 15 anos, filha do delegado da cidade. Os três eram inseparáveis desde a infância e tinham um senso de justiça inabalável. 

    Numa noite estrelada, reunidos no quintal da casa de Rosinha, os amigos traçaram um plano. Decidiram vigiar os forasteiros e coletar informações sobre suas atividades. Lira, com sua habilidade de observação, começou a seguir os homens discretamente, tomando nota de todos os seus movimentos. Paulo, forte e habilidoso, preparou esconderijos estratégicos ao redor da cidade para servir de postos de observação. Rosinha, com seu conhecimento sobre o trabalho do pai, sugeriu usar um velho gravador que havia encontrado no escritório do delegado para captar conversas incriminadoras. 

    Os dias seguintes foram de tensão e expectativa. As noites eram dedicadas a vigias e cochichos no escuro. Aos poucos, os jovens começaram a entender a extensão das atividades dos forasteiros: chantagens, extorsões e ameaças eram suas armas, e o medo sua maior conquista. A situação parecia cada vez mais desesperadora, mas os três amigos mantinham-se firmes na determinação de libertar sua cidade. 

    Numa noite especialmente silenciosa, Paulo conseguiu capturar uma conversa crucial entre os dois homens, revelando um plano de assalto ao local de depósito bancário da cidade. O local não contava com a proteção necessária de um banco. Com a prova em mãos, os jovens sabiam que era hora de agir. Rosinha, aproveitando que o pai estava de plantão na delegacia, mostrou a gravação ao delegado, que rapidamente mobilizou a pequena força policial da cidade. Dois ajudantes da polícia conhecidos como "bate-paus". 

    Na madrugada seguinte, enquanto os forasteiros se preparavam para executar seu plano, foram surpreendidos pelo representante policial, seus ajudantes e pela resistência da comunidade, que, alertada pelos jovens, reuniu-se para defender sua cidade. Encurralados e sem saída, os homens foram presos, e a paz voltou a reinar em Lambari. 

    Os três amigos foram saudados como heróis pela coragem e determinação. A aventura havia fortalecido ainda mais os laços entre eles e deixado uma lição importante para todos: mesmo nas menores e mais pacatas cidades, a união e a coragem da comunidade podem vencer qualquer ameaça. No "Ranchão", iluminado pelas luzes da festa que celebrava a vitória, ecoava a alegria com risos e músicas, enquanto Lambari, mais uma vez, voltava a ser o refúgio de tranquilidade e harmonia que sempre fora. 

Conto: Odair José, Poeta Cacerense

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