quarta-feira, 10 de maio de 2023

A Ponte Branca

    Lembro vagamente do que aconteceu naquela tarde noite de um dia qualquer do ano de 1987. O que lembro e aqui passo a detalhar sem ter a preocupação se vão ou não acreditar na minha história aconteceu nesse tempo. O que lembro bem era que morava em Lambari, uma pequena vila a cerca de 100 Km de Cáceres e que minha avó morava nessa cidade. Vim com algum conhecido do meu pai ou da minha mãe, não tenho certeza, para passar uns dias com a minha avó. 
 
    O fato é que, em primeiro lugar, eu era ainda bem jovem na época e não era, também, muito esperto, portanto, não se assustem com as minhas gafes da época. Por outro lado, lembro-me bem que a casa da minha avó era próxima da Avenida São Luiz e não sei, porque carga dáguas, o indivíduo que me trouxe precisou me levar para o outro lado da cidade. Naquela época a região do Córrego Sangradouro estava cheio de mato e alagado, acho que era época de chuvas. Fato é que, antes de chegarmos perto da região onde se localizava a Ponte Branca o indivíduo falou: 
 
    - Aqui é assombrado! - Em tom bem sombrio e voz embargada acrescentou - Dizem que uma mulher de branco aparece para quem passa aqui sozinho. 
 
    Alguém que estava no carro resmungou: 
 
    - Por que? Como assim aparece uma mulher de branco? 
 
    - É uma noiva que se jogou da ponte porque foi abandonada no dia do casamento. 
 
    - História para boi dormir. Não acredito nessas coisas. 
 
    Na minha infância ouvia muitos casos de aparições, fantasmas, coisas desse tipo. Nunca tive muito medo apesar de, em alguns casos, sentir o corpo todo arrepiar. Fato é que essa história ficou na minha mente. O problema foi mais tarde. O camarada disse que havia perdido a localização da casa da minha avó e não poderia voltar lá para me deixar e que eu teria que ir sozinho. 
 
    - É só seguir reto aqui - Disse ele apontando a rua - Você vai caminhar bastante, mas vai dar direto na Avenida São Luiz. Ai é só dobrar a esquerda e você chega na casa da sua avó. 
 
    O problema não era esse. Eu já havia andando muitos kilômetros a pé. O problema era que o infeliz tinha me sacaneado e agora me deixava em uma fria. O sol já havia se escondido no horizonte e a noite chegava de mansinho quando comeceu a minha jornada. Estava escuro quando avistei a ponte branca e não posso ter certeza de que era real o que avistei. Havia uma mulher de branco caminhando próximo da ponte. Ela chorava e caminhava por entre a vegetação. Meu coração disparou. Pensei em voltar. Mas, e se fosse apenas a minha imaginação? Eu levaria uma bronca do camarada e um esculhacho de minha avó. Resolvi continuar. 
 
    Quanto mais me aproximava da ponte, mais perto me via da mulher. Por um instante pude até ver a sua face chorosa olhando para mim. Trêmulo como uma vara verde passei pela ponte e caminhei apressadamente. Mais ou menos uns 5 Km é a distância que percorri naquela noite e nem vi como fiz isso. Quando dei por mim estava chegando na Avenida São Luiz. 
 
    A mulher de branco que aparecia aos transeuntes da Ponte Branca deve estar muito triste com a destruição que fizeram com essa lendária Ponte e fica apenas a saudade de um tempo que não volta mais. 
 
Conto: Odair José, Poeta Cacerense

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