quinta-feira, 11 de setembro de 2025

O Misterioso Homem na Praça Barão - (Helena)

    Naquela noite, o Cine Xin, orgulho cultural de Cáceres, reluzia como um farol no coração da cidade. Cartazes coloridos anunciavam a grande estreia, e uma multidão ansiosa se reunia na porta, disputando os melhores lugares. Entre os que haviam vindo de longe estava um pequeno grupo de jovens de Lambari D’Oeste, encantados com a promessa de glamour e novidade. 
 
    Entre eles, destacava-se, ainda que quisesse se esconder, uma jovem ruiva de olhos verdes, chamada Helena. Tímida, guardava as palavras sempre mais no peito do que na boca. Os colegas riam alto, empurravam-se, trocavam gracejos com as moças cacerenses, mas Helena caminhava alguns passos atrás, observando tudo como quem teme pertencer ao cenário. 
 
    Foi quando, ao cruzarem a Praça Barão, ela o viu. 
 
    Sentado num banco de ferro, quase dissolvido na sombra das árvores antigas, estava o Misterioso Homem da Praça Barão. Sua figura, alta e magra, parecia envolta em um casaco escuro, mesmo no calor da noite. Não havia quem ousasse encará-lo diretamente, mas Helena, por acaso ou destino, encontrou seus olhos. Eram fundos, de uma cor indecifrável, e traziam um silêncio que parecia atravessar séculos. 
 
    Por um instante, Helena esqueceu os colegas, o filme, a cidade. Sentiu-se olhada como nunca antes. Não com desejo ou curiosidade vulgar, mas como se aquele homem a enxergasse inteira — seus medos, suas hesitações, o rubor que lhe tomava o rosto. 
 
    — Anda, Helena! — gritou um dos rapazes, puxando-a pelo braço. — Vamos perder os trailers! 
 
    Ela desviou o olhar, mas a inquietação ficou. Durante a sessão, mal conseguiu prestar atenção à tela. A cada explosão de aplauso, lembrava-se do silêncio daquele olhar. A cada cena vibrante, voltava à sombra do banco da praça. 
 
    Ao fim do filme, já de madrugada, quando o grupo se dirigia de volta à hospedaria, Helena, num impulso, parou novamente diante da Praça Barão. Os colegas seguiram adiante, distraídos. O banco, agora vazio, parecia carregar ainda a marca de uma presença. 
 
    E então, no reflexo de uma das janelas antigas do casarão da esquina, ela jurou ver a silhueta do Misterioso Homem. Não no banco, não na rua, mas dentro do vidro, como se fosse habitante de outro tempo. 
 
    Helena estremeceu. Perguntou a si mesma se era fruto da imaginação, se a noite não lhe pregava uma peça. Mas no íntimo, sabia: poucas pessoas conseguiam ver o Misterioso Homem. Menos ainda eram por ele reconhecidas. 
 
    Na viagem de volta para Lambari, seus colegas falavam do filme, das moças cacerenses, do movimento da cidade. Helena permanecia calada, com os olhos fixos na estrada escura. Em seu coração tímido, no entanto, crescia uma certeza: ela havia sido escolhida. 
 
    E, em noites futuras, quando retornasse a Cáceres, sabia que buscaria, na Praça Barão, aquele olhar que parecia sussurrar segredos de outra vida. 
 
Conto: Odair José, Poeta Cacerense

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