Estar tão sozinho é como caminhar por um deserto sem horizonte, onde o vento não traz notícias e cada passo é apenas o eco de si mesmo. No início, há medo — medo do vazio, da ausência, do silêncio que se alonga como um corredor infinito. Mas, à medida que a solidão se adensa, algo muda: o vazio deixa de ser ameaça e começa a ser espelho. Descobre-se que o silêncio não é oco, mas cheio — cheio de perguntas, de memórias, de vozes antigas que sempre estiveram abafadas pelo ruído do mundo.
É então que a solidão se torna revelação. A ausência dos outros desvela a presença de si. No escuro, quando nada resta além da própria respiração, percebe-se que o coração pulsa como um farol. Descobre-se que a alma não é feita de fragmentos alheios, mas de uma inteireza que só se mostra na solitude. Encontrar-se a si mesmo não é uma conquista imediata, mas um processo doloroso, como despir-se diante de um espelho que não perdoa.
E nessa nudez profunda, percebe-se que não há companhia maior do que a própria essência. Que as cicatrizes contam histórias que ninguém ouviu, mas que sustentam o corpo como raízes invisíveis. Que a dor, antes insuportável, agora é lembrança de sobrevivência. Que a solidão, tão temida, é na verdade um útero: dentro dela, renasce-se.
Ao estar só até o limite do silêncio, a alma encontra sua morada secreta. E compreende, enfim, que não é preciso ninguém para ser inteiro, pois a inteireza já estava ali, escondida no fundo, esperando ser descoberta.
Pensamentos: Odair José, Poeta Cacerense
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