segunda-feira, 9 de janeiro de 2023

No Califórnia

    - Vai ser hoje a noite! 
    Marcão chegou correndo e atravessou o portão de madeira que cercava a casa do amigo. 
    - No Califórnia? - Indagou o amigo. 
    - É. 
    O amigo balançou a cabeça negativamente. 
    - Não é muito perigoso? 
    - Que nada! Ela está dando sopa e o marido dela é um bosta! 
    O amigo sabia que Marcão estava falando de Tereza, uma linda morena que conheciam desde solteira. Tereza era muito bonita. Morena de corpo bem torneado fazia a festa nos bailes noturnos da cidade com seu gingado e sedução. Quando ela entrava no salão podia se ouvir um burburinho dos homens e mulheres presentes. Os homens, em sua maioria, por desejo. As mulheres, em sua maioria, por inveja. 
    A jovem tinha casado a algum tempo o que havia tirado o ânimo de alguns de seus pretendentes. Mas não de Marcão. 
    - O cara é policial. - Disse o amigo enquanto Marcão sentava-se no banco na varanda da sua casa. 
    - E o que isso tem a ver comigo? 
    O amigo pensou por um minuto. A fama de Marcão era muito grande na cidade. Não perdoava ninguém. Nunca tivera medo das mulheres. Era um sedutor. Algumas diziam cafajeste mesmo. Em suas aventuras costumava se envolver com mulheres casadas o que já havia lhe causado algum transtorno em diferentes ocasiões. Mas ele, como sempre, se sai bem dessas situações. Era muito popular e jeitoso para driblar as dificuldades. 
    - Tenho um tesão nessa menina desde muito tempo. 
    - Mas e o marido dela? Não vai estar lá? 
    Marcão sorriu com a pergunta do amigo. 
    - Ai é que está - Disse ele eufórico - ele não vai estar porque fiquei sabendo que está em serviço e mesmo que estivesse, eu daria um jeitinho de pegar aquela mulher. Tô louco por ela! 
    - Cara - disse o amigo - Você é meio maluco. Eu teria medo de fazer uma merda dessa. 
    - Por isso você não pega ninguém! 
    Houve um silêncio por alguns minutos e Marcão disse: 
    - Hoje a noite no Califórnia. 

    A noite de sábado prometia muito. A cidade estava em polvorosa. Uma banda de lambadão e rasqueado vindo da Capital tocava no clube naquela noite. O Califórnia estava em seu auge. No salão de danças o arrasta-pé corria solto. O cheiro de bebidas, cigarros, suor e perfume barato se misturavam e provocavam um odor único no ambiente. Uma fumaça e as luzes coloridas davam o tom nostálgicos das noites cacerenses. Quem tentava conversar tinha que quase gritar devido o som alto das músicas. Nas margens da pista cadeiras dispostas nas mesas e pessoas se acotovelando pelo ambiente interno. Do lado de fora, pessoas entrando e saindo o tempo todo. Dois homens fortes faziam a segurança do local e apenas observavam as pessoas que entravam e saiam. 
    - Lá está ela! - Disse Marcão para o amigo e apontou uma mesa do outro lado de onde eles estavam. 
    Tereza estava deslumbrante. O corpo moreno dentro de um vestido curto e colado ao corpo a deixava ainda mais sensual. 
    - Vou dançar com ela. 
    O amigo ficou só observando. Marcão caminhou até a mulher. Estendeu a mão. Ela sorriu e levantou-se para dançar. As amigas se entreolharam. Tocava um lambadão e os dois dançaram algumas músicas. Quem olhava de fora podia perceber as investidas dele. Ela parecia se esquivar o quanto dava de suas cantadas. Houve uma pausa quando os cantores da banda pediu um tempo para beberem água. Ela voltou para sua mesa e suas amigas enquanto Marcão foi até o balcão e pegou duas cervejas e voltou para sua mesa. 
    - Ela está meio receosa por causa do marido - Disse ao amigo assim que sentou - Mas eu acho que vai rolar. 
    - Cara - Disse o amigo - você é mesmo maluco. 
    - Quem não arrisca não petisca! 
    Ainda olhava para a mulher do outro lado do salão quando foi tocado no ombro por alguém. 
    - Você que é o Marcão? 
    Virou-se e viu o jovem franzino e de cabelos ondulados que o indagara. 
    - Sim. Por quê? 
    - Porque me disseram que você dá uma de comedor. Que pega todas as mulheres e não se importa se são casadas ou não. 
    Marcão tentou se levantar mas foi impedido quando viu o cano da arma apontado para a sua cabeça. 
    - Saiba que essa foi a última vez! 
    O que se viu a seguir foi assustador. Em fração de segundos o corpo de Marcão jazia estirado no chão. A cabeça tinha sido estourada pela bala. Pessoas corriam desesperadas e derrubavam cadeiras para todos os lados. A banda parou de tocar. O amigo de Marcão estarrecido olhava para um jovem com uma arma ainda fumegante na mão. 

Conto: Odair José, Poeta Cacerense

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