Não sei se foi um OVNI. Ela jura que sim.
Eu digo que não, ou pelo menos, que não é tão simples assim.
Estávamos voltando para casa pela estrada de terra, depois de visitar a mãe dela no sítio. O céu estava limpo, mas pesado, como se a noite fosse mais espessa do que o normal. Eu dirigia devagar, faróis cortando a poeira que se levantava atrás do carro. Foi aí que ela pediu para eu parar.
— Olha. — disse, a mão tocando meu braço.
Acima das copas das árvores, havia uma luz. Não piscava como as de avião. Não tremia como as de torre de comunicação. Ela era firme, silenciosa, e... maior do que deveria ser.
Eu fiquei ali, encostado no volante, tentando encaixar aquilo numa categoria conhecida: satélite, drone, estrela exagerada.
Ela, não. Ela deu um passo para fora, no meio da estrada, o rosto virado para cima, olhos brilhando.
— Eles estão nos observando — murmurou, como se fosse uma revelação.
A luz começou a se mover. Primeiro devagar, depois numa aceleração impossível, desaparecendo atrás das nuvens como se tivesse sido engolida. O silêncio que ficou depois parecia mais pesado que o céu.
No caminho de volta, não falamos muito. Ela apertava minhas mãos de vez em quando, como quem compartilha um segredo. Já eu, tentava montar um mapa mental de trajetórias, velocidades, ângulos — qualquer coisa que pudesse explicar.
Em casa, ela ligou para a irmã e contou tudo. No relato dela, o objeto era metálico, oval, com uma luz pulsante no centro. Eu não vi nada disso, mas ela falava com tanta convicção que, por um instante, quase acreditei.
Agora, dias depois, ela continua dizendo que testemunhamos algo extraordinário. Eu continuo dizendo que foi só um fenômeno aéreo não identificado — e isso, para mim, não é a mesma coisa.
Talvez tenhamos visto a mesma luz, mas não o mesmo evento.
Talvez nenhum de nós esteja errado.
Ou talvez, no fundo, só exista uma verdade: às vezes, a realidade não é o que acontece no céu, mas o que cada um decide enxergar.
Conto: Odair José, Poeta Cacerense